Caribou – Suddenly

 

 

Gênero: Rock alternativo, eletrônica

Duração: 43 min.
Faixas: 12
Produção: Dan Snaith
Gravadora: Merge

(4,5 / 5)

 

Se há algo que a música eletrônica tem é a sensação do inesperado. Digo, a boa música eletrônica. O rock, o pop e outros estilos, por melhores que sejam, sempre evocam sons que lembram padrões já estabelecidos há tempos, enquanto, no mundo dos sons sintéticos, ainda reside a esperança de ouvir algo novo, uma mistura nova, uma concepção nova. E este é o maior mérito deste novo disco do Caribou, projeto do produtor e DJ canadense Dan Snaith. A novidade chega mesmo em sons que evocam lembranças, pois ele tem a manha suficiente para conduzir arranjos e concepções tendo em mente o inesperado, a surpresa, a sensação de ineditismo. Portanto, se você está procurando isso, “Suddenly” é um disco para você.

 

As doze faixas são redondas e orientadas para promover o choque entre diferentes padrões de música sintética com os terrenos do pop e, vá lá, do rock. Mas Caribou não se vale da visão caleidoscópica de um, vejamos, Chemical Brothers, para apresentar suas intenções. Tampouco privilegia a dança pela dança, caso do Daft Punk, apenas para citar dois artistas mundialmente conhecidos que estão nessa fronteira sintética de abordagem de sons processados. Caribou é sutil e cerebral, não se importa em usar de andamentos mais lentos e gentis para mostrar ao que veio. Quando Snaith/Caribou deixa o ouvinte achar que sabe o que ele está fazendo, uma nova guinada surge para tirá-lo da comodidade. Tudo é feito de caso pensado, creiam.

 

Vejam, por exemplo, “You And I”, a segunda faixa. A impressão que temos é de ouvir uma reciclagem de Alan Parsons Project, mas sentimos que algo está fora do lugar, especialmente pelo teclado que pontua de tempos em tempos a canção. Sem mais aviso, o refrão puxa o ouvinte para baixo, numa mudança súbita de visão e andamento, que vai alterar tudo. “Sunny’s Time”, título que poderia significar alguma canção mais leve e arejada, é uma pequena melodia ao piano, sofrendo invasões hackers de sons alienígenas e rappers, que vão alterá-la aos poucos, até que teremos algo totalmente diferente do original, tudo isso em menos de três minutos. “New Jade” é um mistura, veja bem, de Autechre com Pet Shop Boys, mas sem a dança.

 

A sucessão de surpresas segue com “Home”, que tem um DNA de soul music, mas é soterrada por um arranjo composto de samples entrelaçados de batidas, pianos, teclados, vozes, tudo numa onda meio The Avalanches, mas, novamente, sem a obrigação de fazer dançar. A ideia é submergir o ouvinte em outras dimensões e visões. “Lime” é mais voltada para o tom acid jazz, mas, novamente surgem teclados extremamente bem pensados e arranjados, que mudam tudo. “Never Come Back”, um dos singles do álbum, é uma beleza de house music completamente modificada, mas com vocais sintéticos e riffs de teclado marcantes, que servem como meio de orientação para o arranjo. “Like I Loved You” é outra canção que tem os Pet Shop Boys mais contemplativos, do início dos anos 2000, em mente, influência que surge de forma jamais óbvia. “Ravi” é outra canção que tem a house/jungle como ponto de partida e lembra algo que a gente ouviu na década de 1990, mas não tem muita certeza.

 

“Suddenly” é um belo disco, desses pra se ter por perto, desses que a gente tem que ouvir com fones para notar as brincadeiras de gato e rato que ele esconde e das quais se vale para ser sensacional. Uma beleza que requer muito a sua atenção. Ouça.

 

Ouça primeiro: “You And I”