Temple Of The Dog contra a meritocracia

 

Em abril de 1991 o supergrupo comemorativo Temple Of The Dog lançava o seu primeiro – e até hoje único – disco. A reunião de integrantes de Soundgarden e Pearl Jam tinha um motivo: fazer homenagem a Andrew Wood, vocalista da banda Mother Love Bone, recém-falecido e amigo de todos nas duas bandas. Chris Cornell, vocalista do Soundgarden, compôs com Stone Gossard – guitarrista do Pearl Jam – a maioria das canções. O maior sucesso do álbum, “Hunger Strike”, foi a última música a entrar no disco.

 

Cornell diz que sua letra inicialmente falaria de gratidão, mas evoluiu, durante o processo de criação, para uma crítica às pessoas que não estão satisfeitas com o que têm e ainda procuram tirar o que os mais pobres possuem, num ato de continuada ganância.

 

Se levarmos a situação para os nossos tempos, poderíamos inserir essa crítica no neoliberalismo, doutrina econômica que defende o fim das salvaguardas sociais e trabalhistas do Estado em favor de um livre mercado, que regularia tudo. Como vivemos numa sociedade cada vez mais desigual, uma vez suspensas as garantias e flexibilizados os direitos, os mais pobres não teriam condição de competir com mais abonados. Para isso, o neoliberalismo tem uma palavra: MERITOCRACIA. Ou seja, se você não conseguiu, a culpa é sua, porque te demos chance de competir DE IGUAL PARA IGUAL.

 

Sabemos que isso é uma grande mentira. Sendo assim, em tempos de ataque ao patrimônio público, por parte empresários, cada vez mais ricos, de olho na poupança e previdência do pobre, cada vez mais pobre, História Por Música vem dedicar “Hunger Strike” aos apoiadores e financiadores do atual governo.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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