Show de Lulu Santos mostra acertos e problemas

 

 

Lulu Santos nunca foi um cantor na acepção da palavra. Tem afinação, noção e inteligência vocais mas ele sempre foi mais notável por conta de sua impressionante capacidade de compor canções de sucesso do que por cantá-las. Tudo bem, vários artistas são assim, a gente entende, compreende e aceita. Porém, à medida que o tempo passa, determinadas questões tendem a ganhar mais importância e, no caso de Lulu, passam a atrapalhar. A estreia de seu novo show, “Barítono”, via especial no Multishow, exibida ontem, mostrou que Lulu, infelizmente, tem uma capacidade vocal bastante reduzida hoje em dia. Mesmo mudando o tom de algumas canções, mesmo usando backing vocals, a impressão que se tinha era que ele explodiria as veias do pescoço.

 

 

Tudo bem, novamente. A gente sabe, a gente entende. Como disseram nas redes sociais, “Lulu tem 70 anos, isso deve ser levado em conta”. Ora, então o que fazemos com outros artistas que, mesmo depois desta idade, seguem nos palcos com capacidade pra lá de razoável?  Nem precisa ir muito longe: o que dizer de Maria Bethânia ou do próprio Caetano Veloso, que, como Lulu, também nunca teve grande capacidade vocal? Ou Guilherme Arantes, o finado Erasmo Carlos…Enfim, o fato é que o próprio Lulu percebeu e admitiu o fato, como revelou à apresentadora Fátima Bernardes em entrevista prévia: “Algumas canções dos meus primeiros dez anos de carreira ficaram muito complicadas para cantar”.

 

 

Lulu se saiu bem em momentos como “Aviso Aos Navegantes” e “Um Pro Outro”, cujos arranjos comportaram melhor seu registro atual, gravíssimo. Aliás, suas escolhas no setlist comprovaram outro dado crucial sobre sua carreira: sua capacidade de escrever sucessos se esgotou no início dos anos 2000. Nos 20 anos seguintes, sua fonte parece ter secado. Tudo bem que o álbum mais recente, “Pra Sempre” (2019), tem sonoridade respeitável e, pelo menos, duas belas canções: “Orgulho e Preconceito” (que entrou no setlist) e a faixa-título, mas nunca poderiam ser comparadas a sucessos de outros tempos. Sendo assim, a canção mais recente que surge no roteiro do show é “Já É”, de 2003, que, para compensar o fato, é uma das mais inspiradas criações da carreira do homem e foi hit respeitável.

 

 

De resto, as canções com Gabriel O Pensador – “Astronauta” e “Cachimbo da Paz” – e “Janela Indiscreta” (num bom resgate de repertório), todas do “Acústico MTV”, lançado em 2000, são as mais recentes. O forte do repertório se concentrou nos anos dourados da década de 1980, quando Lulu, de fato, foi absoluto. Porém, mesmo com canções do calibre de “Casa”, “Condição”, “Satisfação”, “Tempos Modernos”, “Um Certo Alguém”, “A Cura”, entre várias outras, no bolso do colete, a questão do registro vocal puxou a coisa para baixo, pelo menos para ouvidos mais exigentes. A banda que o acompanha é competente e enxuta, com destaque para o baixista Jorge Ailton – que também ajuda nos backing vocals – e o baterista Sergio Melo, que segura a onda com firmeza e joga para o time, mas não conseguiu driblar a limitação vocal. Em tempo: se há algo realmente notável na banda, é o próprio Lulu, que segue como um dos grandes guitarristas da história do pop rock nacional em todos os tempos.

 

 

Em meio a uma plateia com vários globais, que iam de integrantes da Central Globo de Jornalismo a pessoas como o chef Felipe Bronze, o cantor Leo Jaime, o genial comentarista carnavalesco Milton Cunha e uma procissão de rostos novos (que me pareceram absolutamente desconhecidos), o clima do show era de uma grande festa da firma, com um convidado especial, que também é da firma (lembrem-se, desde 2012, Lulu é jurado do The Voice, ironia define). Lulu é artista competente e dono de uma carreira com muito mais acertos do que erros. Torço para que sua turnê “Barítono” o leve para palcos mais diversos e interessantes.

 

 

Setlist

Toda Forma de Amor

Um Certo Alguém

Janela Indiscreta

Adivinha o quê?

Pot-pourri: Tudo Azul e Assaltaram a Gramática, com participação de Gabriel, o Pensador

Cachimbo da Paz, com Gabriel, o Pensador

Astronauta, com Gabriel, o Pensador

De Repente

Tempos Modernos

Tudo com Você

Esse Brilho em Teu Olhar

A Cura

Apenas Mais Uma de Amor

Um Pro Outro

Presente

Orgulho e Preconceito

Satisfação

Condição

Aviso aos Navegantes

Já É

Assim Caminha a Humanidade

Pot-pourri: Lua de Mel, Sereia, De repente Califórnia e Como Uma Onda

Tudo Bem

Certas Coisas

Tão Bem

Lei da Selva

Casa

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

4 thoughts on “Show de Lulu Santos mostra acertos e problemas

  • 8 de maio de 2023 em 10:50
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    O cara nem leu o que você escreveu, CEL.

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    • 8 de maio de 2023 em 12:13
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      Mas vc leu, meu caro. Que auto-desprezo é esse?

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  • 7 de maio de 2023 em 19:50
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    Cara sabe nada de música, Lulu é um dos melhores cantores do país, um ritmaker
    Daí vem um cara que não gosta de Lulu, pra escrever uma matéria dessa, e só fala merda.

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    • 8 de maio de 2023 em 07:43
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      Cara, tudo bem, mas HITMAKER é com H e não com R. Vai aprender a escrever direito, vai.

      Resposta

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