David Gray – Gold In A Brass Age
Gênero: Pop Alternativo, Eletrônico
Duração: 46 min.
Faixas: 11
Produção: Ben de Vries
Gravadora: IHT Records
David Gray está de volta após cinco anos sem gravar. Talvez você ainda lembre que, na virada do milênio, Gray estava estourado nas rádios e MTV’s do mundo com “Babylon”, faixa de seu álbum “White Ladder”, que vendia feito água na época. Era um movimento arriscado para ele, que surgira seis anos antes como um trovador folk reflexivo. O álbum trazia inserções interessantes de batidas e climas eletrônicos sutis, mas que faziam muita diferença no resultado final. Houve – e ainda há – uma cisão entre os fãs do sujeito: os tradicionalistas, adeptos da música mais, digamos, orgânica, nunca perdoaram Gray por esta mudança. Azar o deles, sua obra tornou-se bem mais interessante.
O tempo voa. Vinte anos depois temos Gray lançando este “Gold In A Brass Age”, que ainda segue pelo caminho aberto por “White Ladder”. Só que David se apropriou dessa mistureba de tal forma que as diferenças entre tudo que ele lançou neste espaço de tempo são bem sutis. Este novo disco, no entanto, aponta para algo novo: a postura diante das letras e dos temas das canções. Gray deixa de lado os temas mais recorrentes – amor, sentimentos – para assumir a postura de um discreto cronista do cotidiano rápido demais dos nossos dias. Em meio a essa postura observadora, ele vai dando uma atualizada nas batidas e nos efeitos sintéticos de suas canções. Nada muito bombástico, mas com algumas boas sacadas.
É bom lembrar que, por baixo deste modelo sonoro, ainda há um potencial vanmorrisseyano na voz do sujeito e ele sabe. Tanto que abre o disco com “The Sapling”, uma canção quase crua, na qual exercita essa intensidade vocal. Mas é só. Nas outras dez faixas, temos o Gray padrão, lidando com o equilíbrio entre o eletrônico e o acústico. E esta busca pela dose certa de ambos cria um atrito que funciona em alguns momentos. “Hall Of Mirrors” é um desses acertos no alvo, mesclando bateria mecânica e real, com vozes dobradas e guitarras simpáticas, ela tem uma pinta de canção que o Coldplay faria se não tivesse feito sua guinada extrapop há alguns anos.
Boas também são a faixa-título, “If 8 Were 9” e a melhor delas, “Mallory”, que se vale praticamente de um refrão repetido para criar um looping melódico entre o solene e o sofrido, com David usando todos os recursos vocais para imprimir sentimento. O resultado é bom e honesto.
“Gold In A Brass Age” é um disco interessante e silencioso. Vale ouvir.
Ouça Primeiro: “Mallory”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.