Snow Patrol, Bring Me The Horizon, Post Malone – Lollapalooza, 06/04/19
Você sabe, estou fazendo a cobertura do Lollapalooza direto do meu sofá, aqui em Niterói, algumas centenas de quilômetros distante de São Paulo. Dependo exclusivamente da transmissão do evento pela TV e ela foi suspensa por conta de uma tempestade que se aproximou do Autódromo de Interlagos na tarde de ontem. Bem, o próprio Festival foi suspendeu por quase duas horas e a lista de shows foi prejudicada por conta disso, sendo que várias apresentações foram canceladas, uma pena. Quando o evento foi retomado, os escoceses do Snow Patrol entraram correndo no palco, para uma apresentação de meia hora, típica de banda brasileira em eventos como este.
Pertencente a uma categoria de bandas originalmente conhecidas como “bandas coxinha”, lá no início dos anos 00, termo utilizado para denominar seguidores/praticantes da doutrina Coldplay/Radiohead de rock tristonho, guitarrístico e sem muito sangue nas veias, o Snow Patrol nem teve tempo para pensar. Tascou seus dois únicos hits – “Open Your Eyes” e “Chasing Cars” – pra abrir e fechar seu set. No meio colocou algumas poucas canções mais conhecidas dos fãs e ponto final. Não deu pra pensar muito a respeito do show, apenas que não fez qualquer diferença, provavelmente sendo melhor mais curto do que com mais tempo de duração.
Com a situação dos shows já estabilizada, entrou em ação o Bring Me The Horizon. A plateia veio abaixo, rodas de pogo se abriram no meio do público, que se esgoelava cantando as músicas e gritando com o vocalista Oliver Sykes. Musicalmente, o grupo é uma mistura do “rock pesado eletrônico” de um Linkin Park com a “sensibilidade pop” de um Imagine Dragons. Ou seja: guitarras altas que não espantam, vocais berrados que não espantam, videos cheios de efeitos especiais no telão, que também não espantam. É tudo previsível e midiático, mas a banda acredita no que faz e a plateia se comporta como se fosse o último show antes do apocalipse. Daí fica fácil para canções como “Mantra” – que abriu o show – ou “Drown” e “Happy Song” se tornarem gigantescas. Mas não se engane: BMTH faz metal startupper, digital influencer.
Outra apresentação importante foi a do rapper Post Malone. Na verdade, seu som não é estritamente oriundo do que se entende/entendia por rap, Malone está mais para o terreno do trap, uma mistura dos vocais do estilo com uma abordagem musical mais eletrônica, com batidas diferentes, conhecida como trap. O público presente nem se importa com este detalhe, visto que cantou todo o repertório que Malone ia enfileirando, sozinho no palco, com sua base eletrônica tocando em playback, junto com os vocais de apoio. Ou seja, com o microfone aberto, o (t)rapper praticamente fez o que a gente entende por playback.
Novamente: o público não se importa e canta junto. Daqui do sofá, enfiado num modelito que evocava referências brasileiras e romerobritteanas, Malone pareceu completamente fora de tom e foi facilmente engolido por MC Kevinho Chris, que roubou-lhe o público quando subiu ao palco e levou suas “Vamos Pra Gaiola” e “Ela É Do Tipo” para o coração da multidão. Não por acaso, o funkeiro se apresentará na edição chilena do Lolla, deixando a versão nacional passível da máxima: só entra funkeiro brasileiro se ele for convidado por algum cantor gringo.
Três shows distintos, no meio da correria dos adiamentos e do que o ouvinte de música quer para hoje: rapidez, batida, catarse. E pronto.
Foto: Equpe MRossi
– Snow Patrol – (2,5 / 5)
Setlist
“Open Your Eyes”
“Run”
“Heal Me”
“Called Out In The Dark”
“Just Say Yes”
“Chasing Cars”
– Bring Me The Horizon – (3 / 5)
Setlist
“MANTRA”
“The House of Wolves”
“Happy Song”
“Mother Tongue”
“Shadow Moses”
“Wonderful Life”
“Follow You”
“Can You Feel My Heart”
“Nihilist Blues”
“Drown”
“Medicine”
“Throne”
– Post Malone – (2 / 5)
Selist
“Zack and Codeine”
“Too Young”
“Over Now”
“Better Now”
“No Option”
“Sugar Wraith”
“Candy Paint”
“Wow.”
“Psycho”
“Paranoid”
“I Fall Apart”
“Up There”
“Go Flex”
“Vamos Pra Gaiola” (com Mc Kevin O Chris)
“Ela É do Tipo” (com Mc Kevin O Chris)
“White Iverson”
“Sunflower”
“rockstar”
“Congratulations”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.