Rock In Rio – Resumão 09 de Setembro

 

 

 

Este dia tinha tudo para ser o mais interessante do Rock In Rio, mas ficou no meio do caminho, entre os problemas vocais e técnicos na apresentação de Billy Idol e na falta de sangue nas veias no show de Avril Lavigne. Ainda assim, a presença superior do Green Day, fechando o Palco Mundo, proporcionou aos presentes o melhor momento do Rock In Rio em sua edição de 2022.

 

Em meio a problemas de organização referentes a credenciamento para fotógrafos e um caos absoluto na definição de quais veículos poderiam cobrir o quê, o Palco Sunset teve superlotação de convidados no Pit, o que tumultuou – e muito – o trabalho dos presentes, especialmente para veículos independentes. Mas, enfim, os shows nada tiveram a ver com este detalhe e transcorreram normalmente. Após uma apresentação absolutamente esquecível de Vitor Kley e Di Ferrero, o Sunset recebeu a presença de Jão, certamente uma estrela ascendente no pop nacional, mas que ainda carece de maturação em eventos maiores. Foi legal, mas poderia ser melhor.

 

 

O problema começou quando veio a homenagem ao primeiro Rock In Rio, com o nome de “1985 – A Homenagem”. Um desses típicos eventos festivos que o Rock In Rio gosta de promover, mas que têm um fôlego curtíssimo e parecem muito mais interessantes na teoria que na prática. Com presenças de Alceu Valença, Elba Ramalho, Blitz, veteranos daquela pioneira apresentação, ao lado de artistas novatos, o setlist teve uma lamentável performance de “Love Of My Life”, do Queen, a cargo de Luisa Sonza e Andreas Kisser, vencedores do Troféu Arroz de Festa 2022. A interpretação foi risível e coroou um projeto falho em essência. Para não dizer que foi um erro total, deu liga a apresentação de Ivan Lins e Xamã. Bonita, política e séria. Mas foi pouco.

 

 

Enquanto isso, um dos representantes da Ivy League do Rock In Rio dava as caras no Palco Mundo: o Capital Inicial. Junto a Ivete Sangalo, CPM22 e Jota Quest, a banda brasiliense tapa buracos no Palco Mundo, com um show completamente desprovido de novidade, com direito a uma cover manjadíssima de “Should I Stay Or Should I Go”, do Clash e mais do mesmo de seu repertório de plástico. Totalmente esquecível e paliativo. Aliás, a Ivy League do RIR perdeu um membro ativo – o Skank, que anunciou o seu fim há algum tempo.

 

 

Já era então a hora de Avril Lavigne, uma das grandes atrações da noite, tomar conta do Palco Sunset como sua headliner. Com um público enlouquecido e disposto a cantar todas as canções, Avril, 38 anos, mas estranhamente mais jovem do que era há 20 anos, quando começou a carreira, não parecia ter a mesma animação. Fez um show técnico e profissional, mas meio que comprovou a teoria do meme do Meet And Greet de sua outra passagem pelo Brasil há anos. Distante dos fãs, meio artificial, esquisito. Como torcida não ganha jogo, o público protagonizou os melhores momentos, cantando a plenos pulmões os sucessões “Sk8ter Boi”, “Complicated” e “I’m With You”, com pouca ênfase no bom e mais recente álbum, “Love Sux”.

 

 

Encerrados os trabalhos no Sunset, vieram as atrações restantes do Palco Mundo, a começar pelo veterano Billy Idol. Confesso que era o show que mais me interessava nesta edição, especialmente pela banda que o acompanha, na qual o destaque é o sensacional guitarrista Steve Stevens, escudeiro de Billy desde os tempos de Gen-X. Pois bem, assim que o homem subiu no palco, era visível que teríamos um show com problemas vocais e técnicos, mesmo com a abertura incendiária com “Dancing With Myself”, talvez seu maior hit. Sem pique, ainda que tenha caprichado nas trocas de vestuário, Billy não poupou seus sucessos, enfileirando desde “Cradle Of Love” (seu hit em 1991, quando veio ao Rock In Rio 2) às clássicas “Flesh For Fantasy”, “White Wedding”, “Mony Mony” e “Rebel Yell”. Mas, justo quando foi fazer uma versão meio eletroacústica de “Eyes Without A Face”, seu cavalo de batalha além da carreira, o retorno falhou e Billy precisou recomeçar duas vezes a canção. Sem conseguir corrigir o problema, ele executou o clássico meio fora de esquadro, frustrando muita gente presente. Em tempo: sobrou espaço até para o “Top Gun Anthem” mas Billy deixou de fora sua boa cover de “LA Woman”, dos Doors.

 

 

Faltando dois shows no Palco Mundo, deixo aqui o relato da nossa enviada à Cidade do Rock neste dia, Amanda Respício, que viu o show do Fall Out Boy, banda americana que iniciou a carreira no campo do emo-punk-rock, no início dos anos 2000 e a elétrica apresentação do Green Day.

 

Penúltima banda da noite, o Fall Out Boy chegou ao Palco Mundo com energia de sobra, levantando o público com toda animação em suas canções de acordes maiores, que sempre remetem a uma grande festa de rock. Abrindo o show com “The Phoenix”, seguida de três grandes clássicos: “Sugar, We’re Goin’ Down”, “Irresistible” e “Uma Thurman”, o FOB mostrou que veio reacender as brasas da galera que estava esfriando após Billy Idol, e levou o público à loucura, fazendo-os reviverem esses sucessos, com direito a momento romântico ao piano, com “save The Rock and Roll” canção que contou com a participação de Elton John quando foi lançada em 2013, inspirando vários casais no público se declararem um para o outro durante a execução.

 

 

Os efeitos de pirotecnia não foram suficientes para os astros, ateando fogo no piano no qual o vocalista Patrick Stump tocava “The Last of The Real Ones”. Chegando ao grande hit de sucesso da banda, “Dance Dance” levando todo mundo à loucura cantando o refrão em coro no gramado do festival.

 

 

Deixando todo em êxtase, com arrepios dos pés à nuca, com direto a bangueadas de cabelo e rodas punks pelo festival todo, desafiando o passar do tempo, o Green Day assumiu o Palco Mundo, mostrando para todos o porquê deles serem o headliners do “Dia do Punk”.

 

 

O grupo da Bay Area começou o show com hits conhecidos como “American Idiot” e “Holiday”, além de trazer a nostalgia dos Emos que viveram os anos 2000. “Boulevard of Broken Dreams” teve até pedido de casamento em cima do palco, cedido pela própria banda, mostrando que o vocalista e guitarrista Billie Joe compartilha da mesma simpatia que Dave Grohl, vocalista da banda Foo Fighters (presente no Rock in Rio 2019). Com total domínio de palco, execução e público, a banda americana mostrou que veio aqui pra quebrar o Rock In Rio ao meio trazendo em seu repertório até covers bem sacados como o clássico do Kiss, “Rock and Roll all night” e uma pepita dourada do pop sessentista, “Shout”, dos Isley Brothers.

 

Fotos: Reprodução Multishow/ Amanda Respício

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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