Herbert Vianna: hoje e há oito anos

 

 

 

Recebo com felicidade a notícia de que vem disco novo de Herbert Vianna por aí. Foi lançada na sexta-feira uma versão bonitinha para “Pinball Wizard”, original do The Who, presente em “Tommy”, que fará parte de seu “HV Sessions, vol.1”, a ser lançado digitalmente no dia 23 de outubro. Nele, Herbert interpretará canções que formaram seu gosto musical ao longo do tempo, havendo espaço para Santana, Jimi Hendrix, Beatles, entre outros. Esse tipo de álbum é sempre legal. A produção fica novamente a cargo de Chico Neves, com quem Herbert já trabalhou em “Victoria”, seu quarto disco, lançado em 2012. Daniel Jobim participou da gravação desta única faixa, esboçando alguns acordes num minimoog. E daí, com esta belezura de notícia, eu aproveito pra lembrar de quando entrevistei o homem, lá no final daquele ano.

 

“Victoria” tinha um conceito igualmente bacana: era um álbum composto por várias canções suas que foram parar nas vozes de outros intérpretes. Algumas – como “A Lua Que Eu Te Dei” e “Só Pra Te Mostrar” – ficaram bem conhecidas e marcaram a versatilidade do paralama-mestre na ourivesaria musical para além da banda. Cá entre nós, eu realizava um desejo muito antigo, de estar diante de um dos mais importantes artistas brasileiros surgidos nos anos 1980. Levei minha edição de “Selvagem?” em vinil para que ele autografasse – não estranhe, todo jornalista faz isso – e ele o fez, gentilmente.

 

Sendo assim, aproveito pra relembrar algumas das perguntas que fiz ao Herbert naquela tarde de primavera carioca, aquecendo o espaço para a chegada deste novo “HV Sessions, vol.1”.

 

 

“Herbert Vianna lança agora Victoria, seu quarto disco solo, um trabalho que prima pela delicadeza ao resgatar canções de várias fases da carreira do compositor. O palco escolhido para esta entrevista é o Estúdio 304, no bairro carioca do Jardim Botânico, de propriedade do produtor do disco, Chico Neves. O local é o responsável pelo clima de falsa simplicidade que permeia as 20 canções escolhidas por Vianna. O músico está sentado em uma cadeira com suporte para os pés e está com o violão – esse é seu maior companheiro nestes tempos pós-acidente. Vianna é gentil, atencioso e responde as perguntas dentro de uma lógica temporal própria, sempre em busca da melhor palavra, do melhor termo para definir aquilo que parece ser o mais importante em sua vida: música. No bate-papo, ele falou não apenas sobre o álbum e música pop, mas também sobre o passar do tempo, filhos e a própria vida.

 

Você tem algum critério para diferenciar uma canção que vai ser gravada pelos Paralamas do Sucesso das que vão ser cedidas para outros intérpretes?

 

Herbert: Não, absolutamente não. É uma coisa que a gente, como banda, passa o olhar e tenta encontrar os caminhos. A primeira impressão que aquelas ideias despertam no Bi [Ribeiro] e no João [Barone], quando eles dizem: “Essa canção não tem muito a nossa cara, ela ficaria melhor se você mandasse para uma dessas cantoras”. Desde o início da carreira eu mando canções para mulheres e isso se tornou uma alternativa para o caso de eles sentirem que essa ou aquela música não se encaixa na musicalidade paralâmica.

 

 

E você geralmente concorda com a opinião dos seus companheiros?

 

Herbert:  Sim, para mim não tem nenhum tipo de desconforto nesse sentido. Eu gosto de ver a interpretação de outras pessoas, especialmente nessa coisa que se tornou muito forte no meu trabalho de composição extrabanda, de ver pontos de vista femininos interpretando o que eu escrevo. É uma coisa que me faz bem.

 

 

Como foi o início da concepção de Victoria?

Herbert: O primeiro clique para esse projeto me ocorreu quando eu, depois do acidente, fiz um levantamento pela minha editora de todas as canções que eu havia escrito e que eu não havia gravado. Isso de eu ficar tocando em casa e tal… tinha muito a minha sensibilidade com os meus filhos, especialmente as minhas duas meninas [Hope e Phoebe Vianna], quando elas vinham para o meu quarto me dar bom dia, indo para a escola, e eu estava ali, com o violão na mão, cantando uma ou outra música. E elas diziam: “Ah, pai, essa aí de novo, não!” A minha filha do meio, a Hope, dizia: “Mas, pai, as músicas que você não gravou, você mandou todas para cantoras mulheres, não é?”. Eu comecei a pensar que as minhas composições são todas muito abrangentes, que elas não são limitadas por um ângulo sexista. Como eu tenho uma amizade de muito tempo com o Chico e muita confiança na qualidade técnica do trabalho dele, fui me dando conta do avanço que a tecnologia proporciona hoje. Nós fomos experimentando muitas texturas e sonoridades e chegamos no lote de canções deste projeto já com um conceito definido.

 

 

Você parece ser uma pessoa que respira música o tempo todo.

 

Herbert: A música é o pilar central do meu tratamento depois do acidente. Eu falei para minha médica que eu sonhava que a medicina fosse capaz de sintetizar em termos químicos, para todas as pessoas que sofreram esse tipo de dano neurológico que eu sofri, qual é a sensação que eu tenho ao tocar um instrumento. Ter alegria, estímulo e portas abertas para criar. Eu estou sempre procurando, dentro do meu tempo livre, além das sessões de fisioterapia, acupuntura e das viagens com a banda, sempre dar vazão às minhas novas ideias. Eu meço meu dia pelo tempo que eu tenho para ficar com o violão. Eu toco muito pelo fato de estar o tempo inteiro de cama, por estar sem mobilidade mesmo. Fico o tempo inteiro com o instrumento na mão – eu me vejo sempre buscando alguma coisa que desperte a minha sensibilidade.

 

 

Como é a relação com seus filhos atualmente?

 

Herbert: Os três moram comigo. A gente tem essa interação, principalmente no período fora da escola deles. Eu os levo para passear. O meu garoto [Luca Vianna] já está com 20 anos, é quase dono da própria vida. Mas eu adoro levar as minhas meninas para ver o fim de tarde na praia ou passear em algum lugar em que eu tenha condições de mobilidade, que, em geral, por causa das ruas do Rio, esses lugares acabam sendo os shopping centers. Eu saio com frequência com eles.

 

 

Originalmente publicado em 13/12/2012 – link aqui

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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