O Melhor e o Pior do Rock In Rio

 

 

Ainda estamos terminando os nossos resumões dos dias 9, 10 e 11 de setembro, mas já podemos adiantar o que houve de melhor e pior nesta edição 2022 do Rock In Rio. O resultado abaixo aponta para uma “desconstrução” do Palco Mundo, o maior do festival. Nunca houve um número tão grande de apresentações que deixaram a desejar em termos de qualidade técnica, seja do espetáculo em si, seja da condição do artista em se apresentar num espaço tão grande e privilegiado. Trocando em miúdos: gente ruim, com pouquíssimo estofo, ocupando o melhor lugar de um evento enorme, sem ter o que mostrar, enquanto outros artistas, com shows melhores, se contendo nos palcos Sunset e Favela. Esperamos que desse tipo de texto saiam sugestões para a melhoria do evento, porque, como diziam nossas avós – “ruim com ele, pior sem ele”. É melhor ter um Rock In Rio do que não ter e as críticas servem para que a produção do evento procure melhorar ao máximo.

 

 

Dito isso, vamos às nossas listinhas.

 

O Melhor – Esta edição registrou espetáculos muito bacanas e que não serão esquecidos tão cedo. Uma olhada na quantidade de shows legais, confrontados com a de shows péssimos e lamentáveis, mostra a tal necessidade de mudança nos conceitos de escolha das atrações, sobretudo no Palco Mundo. Outro detalhe: as apresentações nacionais no Palco Sunset engoliram as internacionais. Felizmente, neste palco, há a chance de artistas brasileiros ocuparem a posição de headliners, o que tem gerado ótimos shows.

Outra bola dentro é a força dada a palcos menores como Favela e Supernova, proporcionando espetáculos muito legais, que se destacaram dentro do evento, superando muitas vezes as atrações “grandes”.

Abaixo as apresentações bacanas com um pequeno comentário ao lado, lembrando que, para ver as impressões mais detalhadas, os resumões dos dias são os mais indicados. Teremos links para eles lá embaixo.

 

Palco Mundo

 

1 – Green Day: melhor show do Rock In Rio 2022, sem discussões. Força de repertório, gana de tocar ao vivo e uma plateia extasiada com um pop punk rock irresistível.

 

2 – Demi Lovato: a surpresa do festival, com a “guinada roqueira” da ex-princesinha Disney, mais feliz e com uma bandaça de mulheres tocando seu último – e ótimo – álbum, “FVCK”.

 

3 – Djavan: um gigante da música brasileira em ação, com um repertório à prova do tempo, banda de nível jazzístico gringo e a cenografia mais bonita do evento. Começou vacilando e engrenou lindamente.

 

4 – Gojira: uma das bandas mais interessantes do metal atual, o Gojira forçou os limites técnicos e emocionais do estilo, numa apresentação em que só a música importou.

 

5 – Dua Lipa: dos megashows do Rock In Rio, a apresentação da popstar inglesa foi a melhor. O repertório é bom, a banda segura a onda ao vivo e Dua tem uma presença muito forte no palco. Ponto pra ela.

 

 

Palco Sunset

 

1 – Maria Rita: não só o melhor show do Palco Sunset, mas uma apresentação vital para o momento do país. Com força, garra, à frente de uma bandaça de samba, Maria mostra que se achou como cantora e que é uma gigante da música brasileira.

 

2 – Racionais MC: era certo que o show dos Racionais seria uma porrada e foi isso que o público recebeu. Um repertório contundente, uma cenografia sensacional e décadas de história condensadas numa sequência de canções fortíssimas.

 

3 – Living Colour e Steve Vai: cheguei a dizer que o show do grupo americano não estava engrenando, mas, quando isso aconteceu, não ficou pedra sobre pedra. A presença de Steve Vai foi absolutamente acessória para uma banda tão perfeita.

 

4 – Criolo e Mayra Andrade: a junção do rap good vibes de Criolo com a linda e talentosíssima cantora de Cabo Verde deu muita liga e resultou no show mais elevado do Palco Sunset.

 

5 – Ludmilla: a cantora carioca já é uma artista pronta e cheia de recursos, com presença de palco muito além de várias atrações gringas do Palco Mundo.

 

 

 

Outros Palcos

 

– Ratos de Porão (Supernova): o grupo paulista é um patrimônio do punk nacional e merecia um show num espaço maior. Mesmo assim, mostrou como se faz.

 

– Gangrena Gasosa (Favela): ainda que esta versão da banda carioca não seja a histórica, valeu muito ver o saravá metal tendo espaço num evento tão grande quanto o Rock In Rio.

 

– Crypta (Supernova): as meninas da Crypta mostraram que são uma banda em ponto de bala, cheia de ataque e pronta para voar.

 

– Choice (Favela): existe hip hop e rap nacional fora dos modelos mais aceitos e convencionais propostos pela mídia especializada.

 

– Lexa (Favela): a apresentação da cantora carioca expôs a autenticidade de seu trabalho e anulou as tentativas de alpinismo de similares fajutos. Merecia o Palco Sunset.

 

 

Shows realmente insuportáveis e imperdoáveis

 

Palco Mundo

 

– Megan Thee Stallion: um dos cachês mais fáceis do festival. Seu show consiste num DJ com um pendrive plugado num Core I3 qualquer, uns bailarinos fajutos e a cantora/rapper americana chamando gente pra rebolar no palco. Horroroso demais.

 

 

– Guns’n’Roses: Axl Rose não aguenta mais um show dessa magnitude e os outros músicos apenas cumprem tabela contratual enquanto se desprezam. Constrangimento em nível máximo mas que funciona para a horda de fãs do grupo.

 

– Iza: exemplo de má gestão de uma carreira ainda promissora. A cantora carioca é excelente, mas parece não saber escolher entre ser um dublê de Beyonce cover, apresentadora do Multishow e, de fato, uma cantora.

 

– Justin Bieber: em que pesem as condições precárias de saúde do cantor canadense, sua apresentação beirou o constrangimento absoluto, com playback descarado e vários truques.

 

– Ivete Sangalo/Capital Inicial/Jota Quest/CPM22: esta é a “Ivy League” do Rock In Rio. Sempre um deles está presente no festival, mas, dessa vez, TODOS estiveram e proporcionaram espetáculos maçantes, forçados, sem qualquer novidade. Um atraso de vida.

 

– Post Malone: outro cachê fácil do Rock In Rio. Não adiantou o rapper americano cantar meio bebum, ser simpaticão e se apresentar com uma roupa que parecia um pijamão improvisado. Picaretagem detectada.

 

– Jason Derullo: quem? Mais preocupado em bancar o gostosão bombado no palco, o show do rapper americano perderia feio para o Double You na matinê do glorioso Canto do Rio.

 

– Alok: o onipresente. Com ele a receita é simples: pendrive, Core I3 e muita mis-en-scéne. O público cai como um patinho.

 

– Marshmello: uma versão de Alok no multiverso da loucura, com balde sorridente na cabeça. Qualquer um pode ser o Marshmello, inclusive eu ou mesmo a sua mãe. Provem a Coca-Cola do Marshmello, que é mais arrojada que sua preformance.

 

 

Palco Sunset

 

– 1985 – A Homenagem: com exceção de Ivan Lins e Xamã, a homenagem feita ao primeiro Rock In Rio foi digna de gente que odiou o festival de 1985 e buscava por um acerto de contas. Só a presença da Blitz já vale uma temporada no purgatório para quem teve esta ideia e a executou.

 

– Luisa Sonza e Marina Sena: a cantora gaúcha teve seus dias de “Alok”. De onde menos se esperava, ela surgia. Cantou até “Love Of My Life”, no show em homenagem ao Rock In Rio de 1985 e até forçou uma barra na base do constrangimento duetando com CeeLo Green. Como se não bastasse, ainda fez sua própria apresentação, péssima, com direito à presença da boa Marina Sena, que foi engolfada pelo turbilhão de pretensão e planejamento de carreira na base da proveta. Além disso, claro, foi figurinha fácil nos Multishows da vida.

 

 

Coisas Terríveis em Geral

 

– Cobertura do Multishow mantendo o nível freak show institucional do Rock In Rio, incapaz de opinar, seguindo apenas um script colaborativo. Exceção para Guilherme Guedes e Chinaina, duas vozes de lucidez no meio de um mar de influencers e formadores fajutos de opinião. Lamentei também o subaproveitamento de uma apresentadora legal como a Didi Wagner, reduzida a um papel pra lá de coadjuvante.

 

– Péssima dicção do Marcos Mion, algo que parece se agravar ao longo do tempo.

 

 

– Uso ostensivo da expressão “entregou tudo” para dizer que um show foi bom.

 

 

– Tentativas de empurrar Luisa Sonza como artista grande, quando, claro, a gente sabe que isso não é verdade e, possivelmente, não acontecerá.

 

– Andreas Kisser, que não perde uma única chance de aparecer como “guitarrista de rock pesado” numa colaboração inusitada. Esperamos por feats dele com Alok, Marshmello, Anitta e com o mímico Marcel Marceau.

 

 

– Colocação de Lexa, Gangrena Gasosa, Ratos de Porão e Crypta em palcos menores.

 

 

– Gente dizendo que o Maneskin é o futuro do rock quando, na verdade, a banda italiana é só um bando de moleques se divertindo e ganhando grana fácil.

 

 

– A escolha da Rita Ora para o Palco Mundo sendo que, até pouco tempo atrás, eu achava que ela só era atriz e ex-namorada de Bruno Mars. Um dos shows mais esquecíveis que já pude ver.

 

 

– O show do Coachplay (novo nome do Coldplay depois que deixou de ser banda), parecendo uma versão inchada e global das comemorações de Fim de Ano no Plaza Shopping de Niterói.

 

 

– Falta de coleguismo entre veículos de comunicação, mostrando que o jornalismo, via de regra, é uma profissão desunida, salvo exceções à regra, cada vez mais raras. Mesmo entre veículos independentes.

 

– Profissionais de imprensa tirando foto e se gabando por estarem num evento que vão cobrir, colocando em xeque a sua isenção logo de cara.

 

– Confusão absoluta na hora de credenciar fotógrafos, com privilégios para grandes veículos, prejudicando – e muito – o trabalho dos menores

 

 

 

Links para os resumões Rock In Rio 2022

 

– Dia 2

– Primeiro Fim de Semana

– Dia 8

– Dia 9

– Dia 10

– Dia 11

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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