Refused – War Music

 

Gênero: Punk
Duração: 34 minutos
Faixas: 10
Produção: Patrik Berger
Gravadora: Universal

5 out of 5 stars (5 / 5)

 

 

Se tem uma banda que parece ter se especializado em fugir do óbvio e surpreender os fãs, essa banda é o Refused. Quando eles saíram de um hiato de 17 anos e lançaram o interessante “Freedom” em 2015, a impressão que foi de que as experiências com jazz e eletrônica, iniciadas no seminal “The Shape of Punk to Come”, vieram para ficar e que o objetivo de ali em diante seria cada vez mais se afastar da mesmice dominante em boa parte do punk rock e assim procurar expandir os horizontes sonoros. Quatro anos depois, chega o novo disco dos suecos, sintomaticamente intutilado “War Music”.

 

Esperando algo na mesma linha e tomo um susto como poucas vezes tomei: sem aviso prévio eles abdicaram da sofisticação nos arranjos e deram uma violenta guinada de 180 graus, fazendo seu disco mais furioso e cru desde a estreia, com “This Just Might Be The Truth”. No release do álbum fica claro o porquê dessa mudança: Primeiro, eles queriam fazer um trabalho sem tantas nuances e que fosse mais fácil de reproduzir ao vivo e segundo, tinham o objetivo de criar uma sonoridade que retratasse o caos que o mundo atual vive. Em ambos os casos, pode-se dizer sem medo de errar que o objetivo foi atingido com êxito: “War Music” é pesado, rápido e direto, uma sucessão de porradas que não dão tempo para o ouvinte respirar!

 

A faixa de abertura “REV 001” é um impressionante cartão de visita, com uma letra inflamada que é quase uma conclamação para sair às ruas e protestar (“Mais uma revolução, meu amor / Vamos marchar contra o fogo inimigo / Onde há sangue nas ruas, alguém está sendo pago / Alguém está sendo pago enquanto você é um escravo / Onde há sangue nas ruas, lucros são gerados / Lucros conseguidos às nossas custas”). Outro grande exemplo de letra contundente é a de “Economy of Death” (“A economia da morte determina a narrativa necessária / Propaganda apocalíptica é um esquema neoliberal / Cãezinhos de tiranos conspiram para alimentar sua maldita ganância / Enquanto você fica em casa atualizando o fim da história no feed de notícias / Você está é f*****!”), onde Dennis Lyxzén demonstra ser não só ser um dos mais corajosos vocalistas da atualidade, como também um dos mais enérgicos e sinceros em seu estilo.

 

Mesmo nos momentos mais melódicos (como na faixa “Death in Vännas” ou da dançante “I Wanna Watch The World Burn”, que parece um outtake do International Noise Conspiracy, projeto paralelo do Dennis), é plenamente possível perceber que o cara estava com MUITA raiva quando botou tudo pra fora! São ao todo pouco mais 34 minutos que passam voando, tamanho o impacto que causa!

 

Como diria o poeta Gil Scott-Heron na sua clássica canção, “a revolução não será televisionada”. Porém, isso não impede que ela venha a ter uma trilha sonora devastadora e, com toda a certeza, se uma dia ela vir a acontecer, todos os discos do Refused servirão de pano de fundo. Uma das bandas de punk rock mais revolucionárias e inquietas de todos os tempos, eles conseguiram a proeza em seu novo álbum de fazer o Rage Against the Machine ou o Fugazi soarem inofensivos como o The Carpenters! Confrontador e enérgico como poucas vezes se viu e ouviu, mas sem esquecer em nenhum momento da diversão; é desde já seríssimo candidato a melhor disco de 2019 e, posso até estar exagerando, mas se o mundo for um lugar justo, “War Music” vai ter um lugar de destaque entre os melhores discos de rock lançados nesta década, assim como o genial “Shape of Punk to Come” teve nos anos 1990. Discaço-aço-aço!

 

PS: esta resenha é compartilhada com o site Rock On Board

Luciano Milhouse

Luciano Milhouse é flamenguista, pensa que sabe escrever, tem 6 cachorros e aceita doações de CDs, DVDs, videogames e carrinhos (para desespero de sua esposa)!

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