Ray Lamontagne – Monovision

 

 

Gênero: Folk alternativo

Duração: 45 min.
Faixas: 10
Produção: Ray Lamontagne
Gravadora: RCA

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

Ray Lamontagne surgiu no início dos anos 2000, fazendo uma versão personalíssima de folk, mais devotado à tradição clássica do estilo. Seu primeiro álbum, “Trouble”, era versado na dinâmica das levadas com violão e voz, com acompanhamento mínimo de banda, mostrando que, além de um ótimo vocalista, Ray era um compositor acima da média. Com este cartão de visitas, o nativo de Nashua, cidadezinha no estado americano de New Hampshire, iniciou uma carreira de sucesso dentro da lógica alternativa, mas com algumas passagens em trilhas sonoras de séries, chegando mesmo a ser mencionado textualmente em “Parenthood”, série bacana que pouca gente viu, sobre família e quetais. Pois bem, após dar uma volta por estilos que incluem o … progressivo, Ray está de volta ao seu habitat natural e este “Monovision” é o resultado deste movimento.

 

Lamontagne quis gravar um disco em que se reconectasse com o folk, mas, ao invés disso, acabou fazendo quase um pequeno manual com suas influências dentro do estilo. O interessante é que não notamos apenas remissões a gente como Van Morrison ou Bob Dylan, mas temos alguns momentos em que Ray pega emprestadas passagens e arranjos de Led Zeppelin, JJ Cale, Neil Young, Cat Stevens, mostrando que sua palheta sonora, mesmo no setor das imersões folk é diversificada. Em alguns momentos ele tangencia demais a música destes artistas, soando quase derivativo, porém, mais uma vez, o talento do sujeito o salva de algum comentário desabonador. As canções são belas, os arranjos são lindos e o álbum se justifica plenamente.

 

São dez faixas diretas e retas. Em todas há a voz e o violão de Lamontagne, mas o acompanhamento musical vai mudando de acordo com a inspiração, chegando a comportar até banda completa em alguns casos. A abertura com “Roll Me Mamma, Roll Me”, já mostra um movimento ousado, que é uma levada à la Led Zeppelin III, mostrando que os aspectos folk daquela fase da banda de Page e Plant não passaram batidos ao jovem Ray. “Strong Enough” tem muito de JJ Cale ou até de Creedence Clearwater Revival, enquanto “Misty Morning Rain” é uma homenagem velada à verve e à inventividade de Van Morrison fase “Astral Weeks”. “We’ll Make It Through” evoca os ritmos mais plácidos de Neil Young, talvez em “Harvest Moon” e “Rocky Mountain Healin'” mira outro momento da carreira do canadense: “Harvest”, de 1973.

 

O interessante de “Monovision” é que Ray Lamontagne faz essas visitas a diferentes obras sem soar derivativo. São homenagens sinceras a diferentes estilos que surgem como influências sinceras em sua música. Mas o álbum não é só referência. Tem a doçura melódica de “Weeping Willow”, que parece uma canção de ninar. “Tem a beleza atmosférica de “Summer Clouds”, que exibe um belo arranjo de cordas, lembrando algo que Nick Drake poderia ter escrito. Tem o surrealismo de “Morning Comes Wearing Diamonds” e o fecho apoteótico com “Highway To The Sun”, em que o ritmo surge mais lento e contemplativo, fechando o ciclo de canções com coerência.

 

“Monovision” é esta volta de Ray Lamontagne às suas origens, não só como artista, mas como fã de música e alguém que se deixou levar pelo que ouvia, criando, a partir daí, sua musicalidade individual. Este é um trabalho sincero e belo de um artista que tem uma folha de bons serviços prestados.

 

Ouça primeiro: “Summer Clouds”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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