13 Perguntas Para Odair José
Misturei o meu destino com o desse povo e não tem como ficar indiferente. – Odair José
Um dos maiores cantores de rock do país está aquecendo as turbinas para lançar disco novo. Odair José vem aí com “Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio”, um título que arremessaria bandas e artistas gringos ao topo das paradas e das pautas de perguntas dos grandes veículos especializados música.
Com ideias, conceitos, de olho na modernidade e com trabalho a ser lançado pela guerreira Monstro Discos, de Goiânia, Odair bateu um papo direto e reto por e-mail e respondeu essas treze perguntas sobre seu projeto atual, passado e a situação do país.
– O que podemos esperar deste novo disco?
Esse meu novo disco traz a ideia de que é sempre possível realizar um trabalho sem medo de sair da zona de conforto, quando se trata de criação. O que pra mim é quase um conceito obrigatório.
– O que significa um título como “HIBERNAR NA CASA DAS MOÇAS OUVINDO RÁDIO”?
“Hibernar Na Casa das Moças Ouvindo Rádio” é um convite à desobediência de uma Hipocrisia escondida sobre o manto de uma Falsa Moral que não melhora em nada o convívio das pessoas.
– Sua obra foi revalorizada a partir da descoberta por músicos jovens, em meados dos anos 00. Como você vê essa admiração da galera mais jovem pelo teu trabalho?
Esse interesse de uma nova geração pelas minhas canções é praticamente o que me motiva a continuar tentando realizar algo que seja relevante.
– Dá pra falar que “Hibernar” é um fecho de uma trilogia iniciada com “Dia 16” (2015) e ampliada por “Gatos & Ratos” (2016)?
É… pode ser visto como o término de ciclo. Eu mesmo já disse que esse projeto seria o encerramento de uma trilogia começada com o cd Dia 16 passando por Gatos e Ratos e chegando agora no Casa das Moças!
– É possível fazer rock no Brasil sem se indignar com a situação atual do país?
Pra mim é impossível não estar indignado com tudo o que vem acontecendo. E como artista não posso deixar de me manifestar através do meu trabalho com uma leitura sincera e simples. Misturei o meu destino com o desse povo e não tem como ficar indiferente.
– Como você vê o conservadorismo de vários roqueiros brasileiros?
Conservadorismo não combina com a essência do Rock, mas cada um tem o direito de fazer como entender suas observações!
– Você tem um repertório romântico mas sempre com pitadas de crítica social e de costumes. O que te inspira para escrever?
Em conversas com meu amigo Raul Seixas lá pelo ano de 1969, a gente sempre falava sobre de que maneira o nosso repertório poderia encontrar espaço no mercado diante do que rolava… Acho que nos transformamos em cronistas de Rua, Becos e etc. Essa é minha forma de compor, em cima de observações.
– Seus fãs do repertório romântico gostam de suas canções mais recentes?
Estou fazendo músicas como sempre fiz, mas por não gostar de repetir fórmulas, corro o risco de às vezes não agradar quem gosta de repetições… Vivo no presente e, mesmo respeitando o meu passado, preciso olhar pro futuro.
– “Chumbo Grosso”, seu novo single, é uma paulada na alienação e nos partidários dos políticos que estão governando o país. Como você vê a ascensão dessas pessoas?
Chumbo Grosso tenta brincar com o raciocínio sobre o “Sujo querendo punir o mal lavado”! E o povo assistindo essa cena, quase que patética, como se tudo não passasse de uma grande piada… Então ,porque não dizer simplesmente “Agora Chupa”?
– Quem você tem ouvido ultimamente?
Raquel e Assucena das Bahias e a Cozinha Mineira… No momento estão sobrando!
– São 50 anos de carreira e um status de ídolo cult. Quais seus trabalhos preferidos? Músicas, discos…
Olha, sem querer dar uma de saudosista, a década de 60 e 70 tem os melhores trabalhos na minha opinião, fico com essa referência.
– O que você acha da reforma da previdência?
Pelo o que vejo falar já deveria ter acontecido faz tempo… Não tenho como questionar ou detalhar minúcias de qualquer projeto, mas fico sempre com a impressão de que no final quem realmente precisa vai sair prejudicado e aqueles benefícios absurdos continuam… Mas vale lembrar que essa reforma não é a solução pra tudo.
– Quando veremos você divulgando as canções do novo disco?
Chumbo Grosso já está à disposição de todos e devemos lançar mais uma faixa antes do lançamento do cd,que está previsto para o final de março pela Monstro Discos. Aí vamos começar com a turnê, que de princípio vai se chamar “Na Casa das Moças”. Vamos começar por São Paulo e, se tudo der certo, vamos andar por onde for possível com o nosso projeto…
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.