Paul Weller não erra

 

 

Paul Weller – Fat Pop, vol.1

Gênero: Rock, soul, eletrônico

Duração: 39 min.
Faixas: 12
Produção: Paul Weller
Gravadora: Polydor

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

Paul Weller é um desses raríssimos artistas que não têm um único álbum ruim em sua carreira. São décadas de canções e discos, seja à frente do The Jam, do Style Council e solo, de altíssima qualidade e relevância. Só em seu período como artista solo, Weller chega à marca dos 21 lançamentos com este “Fat Pop vol.1”, um trabalho que surge menos de um ano depois de “On Sunset”, seu ótimo álbum anterior. O próprio Weller disse que este – como o nome diz – é um trabalho que surgiu através de rascunhos de canções, de uma produção, digamos, mais “fácil” e imediata que a do disco anterior. Pois bem, se estas 12 faixas são “fáceis”, no sentido “simples” do termo, tal afirmação só pode ser uma brincadeira com o ouvinte. Paul Weller se saiu com um ramalhete de canções tão ou mais interessantes que as de “On Sunset”, com a vantagem de que, ao contrário deste, o flerte com a eletrônica é bem menor, o que trouxe a necessidade de mergulhar em formatos mais belos de pop orquestral setentista e flertes ainda mais firmes com a artesania baladeira soul – uma paixão de Paul. O que sai das caixinhas de som é pura lindeza aural.

 

Entenda: um dos grandes fatores de beleza presentes em “On Sunset” é essa, digamos, promiscuidade com a eletrônica por parte de Weller. Certamente é um dos charmes daquele trabalho e, à primeira vista, abrir mão dele em um outro álbum composto e gravado tão cronologicamente próximo poderia significar um movimento arriscado. Poderia. Tal atitude só comprovou que Weller foi capaz de detectar não apenas o encerramento daquela onda, como o surgimento de outra, mais generosa e conectada com seu passado – distante e recente – musical. A voz, os arranjos, as composições, as ideias, as orquestrações e tudo que está contido em “Fat Pop vol.1” é de excelência e sentimento. É um golaço.

 

Há uma exceção em relação ao flerte eletrônico: “Cosmic Fringes”, a faixa de abertura, é uma pequena câmara de descompressão para o ouvinte que ficou lá em “On Sunset” e retornou para acompanhar as novidades. A faixa-título também pode significar algo próximo dessa estética. O resto de “Big Fat Pop vol.1” se insere nessa fluidez rock’n’soul baladeira, com viés psicodélico sutil. Os dois singles, “Glad Times” e “Shades Of Blue” estão neste mundo mágico e sem forma definida. O primeiro é um pequeno exercício fluido de cordas e pianos elétricos sobre guitarras dedilhadas, que vai acompanhando a voz rouca, porém suave, de Weller ao longo do trajeto. Quando chega o refrão, tudo se acende, se integra e faz mais sentido. “Shades Of Blue” já é mais na linha David Bowie/Ian Dury de canção britânica de rock setentista, com pianos e melodia também turbinada por cordas, efeitos psicodélicos e exuberância.

 

Esta verve segue por mais momentos belos: “Cobweb/Conections” tem viés folk que vai crescendo e sendo embebido por detalhes que a transformam num pequeno épico momentos adiante. “That Pleasure” é aquela típica balada híbrida de soul e rock que Paul Weller aprendeu a fazer com “Wild Wood” ainda em 1993. Tem guitarras e cordas, tudo a favor de um arrepio musical extremo e belo. “Failed” é mais soturna a princípio, mas evolui para uma canção aerodinâmica e meio beatlmaníaca, porém com guitarras mais fortes e dinâmicas do que todo o resto do álbum. “Moving Canvas” é outro momento de aproximação com a soul music, mas com um pouco de atenção ao blues e ao rock, no sentido Humble Pie do termo. Já “In Better Times” é um belo momento de exuberância baladeira/folk com melodia perfeita, abrindo espaço para a conclusão com “Still Glides The Stream”, uma canção pianística e mais dramática, que se abre num horizonte azul de lindeza lá pelo meio do caminho, e que marca o fim do álbum.

 

“Fat Pop, vol.1” é um acerto despretensioso no alvo. É o triunfo de um mestre da canção inglesa, no total comando de seu jogo. Tudo funciona tão bem que fica a certeza: Weller não é capaz de fazer música ruim. Nunca fez e parece que seguirá sem saber o que é isso. Sorte nossa.

 

Ouça primeiro: “Testify”, “Cobweb/Conections”, “That Pleasure”, “Glad Times”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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