Paul McCartney em forma
Dia 22 de novembro, também conhecido como sexta-feira passada, foi a data que Paul McCartney escolheu para lançar duas músicas inéditas. É sempre bom constatar o quanto Macca segue ativo na música. Do alto de seus 77 anos, ele poderia, simplesmente, descansar, ficar em casa curtindo os netos, mas não: ele segue com a vontade de se expressar em forma de música, de fazer shows, de percorrer o planeta levando seu roteiro de canções dos Beatles e de sua carreira solo para o máximo possível de pessoas. Eu diria que Paul, miliadário, não faz isso mais por dinheiro, mas por uma questão de sobrevivência. Ele deve detestar ficar parado, ele é um homem de movimento.
Mesmo prolífico e genial, Paul também é um artista falível. Seu último disco, “Egypt Station”, prometia uma viagem neo-psicodélica onde cada canção seria uma “estação” dentro do roteiro apresentado. Ficou na promessa, uma vez que as canções surgiram frouxas e bem abaixo do que ele criou nos trabalhos mais recentes. Note que nem comparo com os grandes discos do passado. Para não ser injusto, havia uma canção ali que recordava suas glórias setentistas: “Despite Repeated Warnings”, sete minutos de trechos alternados bem ao estilo de composições imortais como “A Day In The Life” ou “Admiral Halsey”.
Mas as duas canções que ele soltou na última sexta são ainda melhores. Registradas nas mesmas sessões de “Egypt Station”, “In A Hurry” e “Home Tonight” são a prova – como se fosse preciso… – de que Macca, de fato, ainda tem lenha pra queimar. Animadinhas, pra cima, cada uma tem seu brilho especial. “In A Hurry”, pra ser sincero, parece uma canção de Brian Wilson, naquele esquema de “sinfonia adolescente para Deus”, com arranjo cheio de detalhes e mudança de andamento e tecladinhos psicodélicos. Os vocais de apoio mostram que tudo foi muito bem pensado por Paul e pro Greg Kurstyn, o produtor das canções.
“Home Tonight”, apesar de mais simples, é, sem exagero, a melhor canção que Macca lança no século 21. É uma levada dançante em que ele empunha seu baixo à frente de sua ótima banda. O ritmo evoca certo parentesco com “The Ballad Of John And Yoko”, com potencial dançante inegável. E tem violões acústicos, teclados emulado acordeon, pequenas alterações rítmicas ao longo dos seus clássicos três minutos e quatro segundos.
Paul deve estar compondo feito um doido. Quando os seres humanos viajarem pelo espaço, ele será um traço cultural marcante da cultura do planeta Terra. Se tudo der certo, alguma composição dele fará seres de outro planeta sacudirem seus esqueletos.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.