Qual é a da trilha sonora de Barbie – The Movie?

 

 

 

 

Barbie The Album – Trilha Sonora Original
44′, 17 faixas
(Atlantic)

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

 

 

 

 

Não dá pra negar: “Barbie – The Movie” é um fenômeno pop. Ninguém deveria se espantar, uma vez que a boneca, criada pela empresária americana Ruth Handler e comercializada pela Mattel Inc. a partir de 1959, sempre foi um ícone da cultura pop e chega hoje, 64 anos depois de seu surgimento, como uma força comercial e comportamental de um necessário e multidisciplinar empoderamento feminino que o filme, dirigido pela cineasta Greta Gerwig, procura mostrar para um ávido público de várias gerações. Mas há um detalhe que parece passar despercebido pela maioria: onde está a trilha sonora de “Barbie”? Pergunto isso porque a canção “Barbie Girl”, do grupo sueco Aqua, lançada em 1997, é o grande identificador musical da boneca e parece ter colado também no longa, ainda que haja uma bem cuidada seleção de canções inéditas, feitas por gente peso-pesada do pop atual, com a produção de Mark Ronson e seleção musical de George Drakoulias. Ou seja, há canções para aumentar o alcance sonoro da boneca mas ninguém parece ter ouvido. Vamos, então, falar sobre.

 

 

A escalação é de respeito: Ava Max, Charli XCX, Dominic Fike, Fifty Fifty, Gayle, Haim, Ice Spice, Kaliii, Karol G, Khalid, the Kid Laroi, Lizzo, Nicki Minaj, PinkPantheress, Tame Impala, Dua Lipa, Ryan Gosling, Sam Smith e Billie Eilish. Mesmo que seja um time de respeito, alguns integrantes apresentam performances que fazem lembrar o Flamengo de 2023 quando vai disputar um jogo do Campeonato Brasileiro: preguiça e falta de vontade. Mas há exceções que chegam a justificar a audição com atenção desta trilha. Em primeiro lugar, a presença de Ronson foi escolha da própria Greta Gerwig e o embrião da compilação veio de um pedido dela para ele, no qual perguntava se Ronson seria capaz de compor alguma faixa com ambiência “disco” para uma sequência coreografada. Ele entregou então o que seria a faixa interpretada por Dua Lipa, “Dance The Night”, primeiro single do álbum e uma das melhores canções presentes.

 

 

Há alguns detalhes interessantes presentes aqui. Dua Lipa e Ryan Gosling também fazem parte do elenco do filme e interpretam suas canções na telona. Gosling é bom cantor, como já deixou claro em “La La Land”, filme de 2016, no qual interpretava um pianista de jazz. A faixa “Barbie World”, com Nicki Minaj e Ice Spice, é totalmente criada a partir da tal canção do Aqua, “Barbie Girl” e ela veio de um pedido pessoal da estrela do filme, Margot Robbie, que não conseguia enxergar a trilha sem esta faixa. Minaj e Mark Ronson então encontraram uma maneira de samplear o original sueco e misturar com letra nova, num flow hip-hopesco modernoso que cumpriu a tarefa. As presenças de Sam Smith e Billie Eilish só foram anunciadas ao público poucas semanas antes da estreia do longa, que aconteceu no dia 21 de julho último.

 

 

Das canções presentes aqui, algumas merecem destaque. “Pink”, com a cantora americana Lizzo, poderia ser melhor, mas tem uma pegada Michael Jackson fase “Off The Wall” que vale a audição. “Dance The Night”, de Dua Lipa, como já dissemos, é legal e mais parece uma faixa-bônus de seu último álbum, “Future Nostalgia”, o que é um bom e sincero elogio. “Man I Am” deve ser uma das melhores da carreira de Sam Smith, repetindo a pegada disco que algumas canções do álbum têm, ele encarna uma variação mais simples e fanfarrona de George Michael, funcionando surpreendentemente bem. A baladinha “I Am Ken”, com Ryan Gosling, é surpreendentemente bonitinha, ainda que peque pelo uso excessivo de autotune, ela se salva. “Home”, das irmãs Haim, é uma fofura pop rock, que traz aquela mistura improvável – e ótima – de pop californiano setentista com r&b noventista, que caracteriza o melhor da obra do trio. O Tame Impala poderia fazer melhor do que o minuto e meio de sua canção “Journey To The Real World”, que por um triz não soa comoum pastiche sonolento de Electric Light Orchestra, escapando pela tangente. “Hey Blondie”, de Dominic Fike, é legalzinha e traz um pouco da pegada das bandinhas de rock ensolarado do fim dos anos 1990/2000, tipo Train e Sister Hazel. E, bem, não tem pra ninguém: a linda “What I Was Made For?”, balada mininalista e matadora de Billie Eilish, mostra que ela está no topo criativo e inventido do pódium do pop feminino mundial e já tem um certo tempo.

 

 

A trilha sonora de “Barbie” certamente não tem o mesmo impacto do longa, mas traz algumas interessantes leituras e interpretações do sentido que a boneca adquiriu ao longo do tempo e que chega neste 2023 irritando conservadores, carolas, machos red pill e demais seres lamentáveis da fauna lixenta das redes sociais. E, só por isso, já tem a nossa saudação.

 

Ouça primeiro:

 

“What I Was Made For”, “Home”, “Hey Blondie, “Dance The Night”, “Man I Am”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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