O sonolento e entediante novo disco do Elbow

 

 

 

 

Elbow – Audio Vertigo
47′, 14 faixas
(Universal)

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

 

 

 

 

Zzzzzzzzzzzzzzz…Opa, desculpa, pessoal. Aqui estamos nós para mais uma resenha e vamos falar de “Audio Vertigo”, o novo disco do Elbow. É o décimo trabalho da carreira do grupo de Manchester, liderado pelo vocalista Guy Carvey. Pois é. O Elbow está na ativa desde o fim dos anos 1990, na esteira das bandas que idolatravam o Radiohead, uma turma que também tinha Muse, Coldplay e Travis como os mais badalados e interessantes. Como já sabemos, cada uma dessas bandas teve um destino diferente e carreiras com relevâncias distintas. O Elbow nunca foi tão paparicado como, por exemplo, Coldplay ou Muse, mas sempre esteve presente. O inglês médio, fã de rock clássico e que quer ouvir “música de verdade”, adora o grupo. Dei uma olhada nos arquivos e catei esse primeiro parágrafo de uma resenha que fiz para “Little Fictions”, o disco de 2017 do Elbow, publicada no Monkeybuzz, em 10 de fevereiro daquele ano. Senão vejamos:

 

“Elbow é uma banda inofensiva, certo? Ela faz uma sonoridade ideal para agradar o consumidor médio de música com origem “Rock”, um pessoal meio chato, meio conservador, meio qualquer nota. É quase como um irmão mais velho e previsível de Coldplay. Talvez eu seja muito severo com o grupo liderado pelo expansivo vocalista Guy Carvey, mas a ideia que os sujeitos passam é essa. Fazem música bonita, bem tocada, bem produzida mas inapelavelmente burocrática, careta e moldada por parâmetros há muito deixados de lado. Talvez Elbow também seja capaz de agradar aquele sessentão que se acha jovem, os tais “Tios Sukitas” que insistem em grassar por aí.”

 

Infelizmente, ou não, não mudo uma vírgula desta introdução. “Audio Vertigo” tem este mesmo padrão. Lindamente gravado, ricamente produzido, mas chato, chato, chato. E sem sentido porque, afinal de contas, estamos em 2024 e o Elbow não se assume como uma banda contemporânea, tampouco se enxerga como uma formação revisionista em atividade, algo como é o Marillion atual. Aliás, é outra boa comparação, uma versão menos aprofundada, e que se acha mais esperta, do Marillion. Essa impressão reside no fato de que Carvey e seus amigos adoram referências progressivas tardias, dos anos 1980 e 1990, mas, onde poderiam soar mais aventureiros como o Porcupine Tree, soam acomodados como o Genesis de 1983. É pouco para um trelelê tão grande em sua Inglaterra natal, onde são incensados, respeitados e vistos como banda grande. Fora de lá, são qualquer nota. Mesmo.

 

Os críticos da Velha Ilha acharam sensacional alguns elementos exóticos de percussão em “Good Blood Mexico City” ou uma suposta batucada na tediosa “Lovers Leap” – que é o single de lançamento – mas é bem pouco para a nossa paciência atual. Também temos a tecladeira e baladeira “Her To The Earth”, que tenta soar como Peter Gabriel, mas não parece nem o Fish solo, além de “Very Heaven”, que, apesar da boa linha de baixo, soa como uma canção do Genesis que poderia estar em “Invisible Touch”. Há um destaque, justo a faixa de encerramento, “From The River”, que tem um andamento interessante e um climão épico que não chega a atrapalhar sua fruição.

 

“Audio Vertigo” é chato, gente. Mas tem quem goste. E quem curte esse tipo de som, especialmente os fãs dos supracitados Marillion e Genesis, podem gostar disso. Repito: é bem gravado e tal. Se é a sua, caia dentro. Do contrário, evite com força.

 

 

Ouça primeiro: “From The River”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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