Madonna In Rio – nós merecemos!

 

 

Madonna na Praia de Copacabana. Sim, é isso mesmo. Está um calorão, temperaturas altíssimas, derretimento de calota polar rolando solto, aquecimento global irrefreável, mas ela estará lá. O horário, 21:30h. O local: Praia de Copacabana, em frente ao Copacabana Palace. Público estimado: um milhão e meio de pessoas.

 

Aqui em casa, minha enteada, Giovanna, acabou de sair. Vai encontrar com amigos e amigas vindo de São Paulo apenas para ver Madonna. Amam a carreira dela de diferentes momentos. O que não faltam são momentos, afinal de contas, são mais de quarenta anos de estrada. Todos irão se reunir em algum lugar perto de Copacabana e, de lá, partir para as areias. Esperarão por Madonna o dia inteiro, em condições que irão se precarizar à medida que a noite chegar. Fome, sede, calor, vontade de ir no banheiro, cansaço, nada disso vai contar quando o primeiro acorde do setlist da “Celebration Tour” se fizer ouvir na noite carioca, em frente ao mar. E só isso irá importar.

 

Sim, porque os perrengues a gente vive todo dia. Calor, fome, cansaço? Ora, isso não é nada para quem mora numa grande cidade brasileira. A grande diferença é que, entre o fim do dia de hoje e o início de amanhã, essas pessoas terão visto Madonna Louise Veronica Ciccone cara a cara. Por mais que as distâncias entre o megapalco e o público sejam imensas, todo mundo estará no mesmo lugar, compartilhando a experiência de estar lá. Diferentes classes, procedências, idades, experiências. Tanto para o público quanto para a própria Madonna. Quando veio aqui pela primeira vez, ela divulgava o sexto álbum, “Erotica”. Agora, mais de trinta anos depois, cá está novamente, em sua única apresentação no Hemisfério Sul de sua atual turnê, a Celebration Tour.

 

Um monte de gente irá atacar o espetáculo de hoje.

 

– Madonna não trará músicos.
– Madonna está velha.
– Madonna já era.
– Ah, não quero saber desse perrengue.
– Ah, Madonna perdeu a graça.
– Ah, detesto Madonna.
– Ah, Madonna é o diabo.

 

O país que Madonna visita hoje é fracionado e empobrecido. E sofrido. Merece o afago da presença de um evento tão importante, de graça. Há muita gente descontente com isso, com a celebração a céu aberto, uma celebração que, como o nome já diz, traz um monte de gente. E, bem ou mal, o fã de Madonna minimamente esclarecido é, sempre, sempre, sempre, uma pessoa que respeita individualidades, posicionamentos, opiniões e pede, há muito tempo, que respeitem as suas. E Madonna é um símbolo de empoderamento, de revolução midiática em níveis múltiplos e simultâneos. Apenas David Bowie soube tão bem mexer com a música, a arte, a mídia e o comportamento, tudo ao mesmo tempo.

 

Todo mundo tem sua música preferida de Madonna. E a sua Madonna preferida. A minha é a de 1985, que eu achava gatíssima, cantando “Into The Blue”. Certamente você tem a sua. E todas elas, porque somos múltiplos e diferentes, logo, temos a nossa própria Madonna, estarão lá, no palco.

 

Não importa a ausência de músicos. Madonna é um espetáculo que já evoluiu para um nível ainda sem nome, mas que não prevê limitações. É som, vídeo, imagem, sensação, tudo ao mesmo tempo. E, acima de tudo, é a oportunidade de ver quarenta anos da mais pura arte pop desfilando diante dos próprios olhos.

 

Vá ao show e aproveite. Vocês todos merecem esse encontro.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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