Novo álbum dos Titãs confirma esgotamento

 

 

 

 

Titãs – Olho Furta-Cor
40′, 14 músicas
(Midas Music)

1.5 out of 5 stars (1,5 / 5)

 

 

 

 

 

O Titãs se resume a um trio desde 2017. Com a saída de Paulo Miklos, restaram apenas Branco Melo, Tony Belloto e Sergio Britto dos oito integrantes originais. De lá para cá, o trio gravou “Doze Flores Amarelas” em 2018, uma compilação de versões acústicas em 2020 e este “Olho Furta-Cor”. Fica evidente que há uma falência criativa presente na atual obra do grupo. Talvez fosse melhor que assinassem Melo, Belloto e Britto, ou qualquer outro nome, porque há quase nada que lembre os Titãs por aqui. Mesmo que a banda ainda conte com Beto Lee (guitarras) e Mario Fabre (bateria), a sensação de que a festa acabou é presente e não dá pra ignorar.

 

 

Titãs sempre foi uma banda que teve na irreverência e na crítica as suas principais armas. Aos poucos, no terceiro álbum, a banda incorporou doses de criatividade latente e deu ao rock nacional álbuns como “Cabeça Dinossauro” (1986), “Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas” (1987) e “O Blesq Blom” (1989), uma trilogia em que foi formatada uma variante vigorosa de música, com poesia inquisidora, experimentos em estúdio e uma fértil e fervilhante criatividade. O grupo foi perdendo esta veia aos poucos, durante a década de 1990 e de 2000 à medida em que seus integrantes iam debandando. Em 2014 registrou-se o último suspiro de criatividade que os Titãs ainda eram capazes de dar: “Nheengatu”, o álbum, foi uma grata surpresa para quem já dava o grupo como perdido. E, bem, com a saída de Miklos, este fim chegou, mesmo que não fosse possível comprovar com o lançamento de “Doze Flores Amarelas”, uma “ópera-rock” segundo a banda. Pois bem.

 

 

“Olho Furta-Cor” é um compêndio de canções frouxas em sua maioria esmagadora. Quando não irritantes, caso do “hit” “Caos”, uma verdadeira ode a um anarquismo sem sentido em um tempo como o nosso, mais inócuo se levarmos em conta quem são os Titãs atualmente. Das quatorze faixas é possível dizer que duas são dignas de figurar em um disco mediano dos Titas. “Raul”, que faz uma homenagem a Raul Seixas, com letra esperta e arranjo que emula ritmos nordestinos em meio a um rockão enguitarrado e rápido que toma conta a partir da metade da canção. E tem “Eu Sou O Mal”, que é outro bom rock erguido em meio a boas guitarras. E ficamos por aqui.

 

 

Há tentativas de resgatar algo dos Titãs que ficou irremediavelmente para trás. A abertura com “Apocalipse Só”, que tem participação de um coro de vozes indígenas, emula outras incursões antropológicas mais bem sucedidas outrora. A canção não ajuda e tudo naufraga deixando a impressão de um grande esforço para pouco resultado. “Como É Bom Ser Simples”, com os inacreditáveis versos “Não quero mais esse vazio, vai desgovernar a puta que o pariu”, é risível. “Um Mundo” parece uma canção do RPM com arranjo pop folk datado, “Papai e Mamãe” é acústica, banal e não parece chegar a lugar nenhum, lembrando as canções que o grupo fazia no início dos anos 2000. O prêmio de pior canção fica dividido entre “Por Galletas”, que tem uma letra em espanhol risível e lamentável, e “O Melhor Amigo do Cão”, que, como o título diz, faz incursões no universo canino de uma forma inacreditável até para a atual condição da banda.

 

 

O resultado deste “Olho Furta-Cor” é a certeza absoluta que os Titãs já não mais existem. Não consigo imaginar em quem pode se interessar por um trabalho preguiçoso e ruim como este. Lamentável.

 

 

Ouça primeiro: “Raul”, “Eu Sou O Mal”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

6 thoughts on “Novo álbum dos Titãs confirma esgotamento

  • 25 de novembro de 2022 em 17:57
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    O espanhol não é risível não, inclusive foi escrito por um cara que foi alfabetizado em espanhol e foi sua primeira língua!

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  • 7 de setembro de 2022 em 17:03
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    O autor do post precisa conhecer a obra completa dos titãs.

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  • 6 de setembro de 2022 em 21:36
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    Tenho certeza que esse crítico NÃO ENTENDE NADA DE ROCK . Como jornalista é um PÉSSIMO narrador e não conhece muitas palavras para repetir e repetir várias vezes certas palavras .

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  • 3 de setembro de 2022 em 21:20
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    Disco muito fraco. O texto do crítico também é fraco, repete muito a palavra “risível”. Falta vocabulário.

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    • 4 de setembro de 2022 em 00:03
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      Fizemos a contagem e, dentre 600, risível apareceu duas vezes. Risível esse seu comentário, meu caro.

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  • 3 de setembro de 2022 em 01:40
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    Ouvi o album. Infelizmente o Carlos tem razao. Eesse album nao é digno de figurar na discografia dos Titãs. Nem as duas musicas que segundo a critica acima sao menos ruins, são dignas de serem assinadas pelo grupo. Acho inclusive que o proprio Raul detestaria essa “homenagem”. Que disco deprimente. Se uma banda iniciante lançasse esse album, ele seria completamente ignorado de tão ruim. A musica dos cachorros, a apocalipse e varias outras parece que sao desafios a quem resolve ouvi-las. É dificil chegar ao fim delas e de varias outras. É triste ter que admitir, mas os titas acabaram. Como dizem em Minas Gerais: “morreram e esqueçeram de cair”.

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