O melhor Missão Impossível de todos os tempos

 

 

“Missão Impossível – Ajuste de Contas – Parte 1”, o novíssimo longa da franquia, entrou ontem em cartaz ao redor do mundo. É um exemplar perfeito do cinemão de espionagem e ação dos nossos tempos, ou melhor, não, esta frase não é precisa. Ele é um exemplar do melhor cinemão de espionagem e ação de todos os tempos, verdadeiro desfile incessante de cenas e sequências sensacionais, bombásticas, impressionantes. Mais que isso: é um filme que também tem direção bacanuda (novamente a cargo de Christopher McQuarrie), um elenco igualmente legal (encabeçado por Tom Cruise, o paladino deste cinema de ação “ideal” em nossa época) e um roteiro muito acima da média. A resultante desses fatores e de um orçamento pra lá de polpudo (cerca de 300 milhões de dólares) mostra que “Missão” é um feito. E olha que é apenas a primeira parte desta nova história, hein?

 

 

Este longa dá continuidade ao que entendo como sendo a “segunda fase” de “Missão Impossível”, que começa no quarto filme, “Protocolo Fantasma”, lançado em 2011 e que conta com “Nação Secreta” (2015) e “Fallout” (2018). São realizações que amplificaram o escopo do próprio Ethan Hunt como agente secreto, colocando-o em constante fuga e oposição a todos os lados possíveis. Esta condição é levada ao ápice em “Ajuste de Contas”. E como os críticos reclamam da ausência de informações sobre a vida de Hunt, algo que não permitiria ao personagem gozar de um pouco de profundidade e camadas de sentido, este novo roteiro traz questões anteriores ao ingresso de Hunt na IMF, a “Força Missão Impossivel”, a agência ultrassecreta da qual faz parte e que lhe coloca em situações sinistras e impressionantes em todos os cantos do planeta. Com esses dilemas que surgem, há um ganho neste sentido.

 

 

McQuarrie, que também escreveu o roteiro do novo longa, é um diretor sutil em meio a tantas perseguições e sequências mirabolantes. Assim como Cruise, ele é adepto do “cinema de verdade”, feito com o máximo de realismo possível, procurando utilizar os recursos digitais apenas quando não há outra alternativa. É um interessante contraponto à mirabolância das situações apresentadas na telona, mas, de alguma forma talvez tola, a gente se sente mais confortado e feliz sabendo que o filme exigiu este tipo de esforço do elenco e da produção, diferente de um longa feito e rodado com a telona verde dos efeitos digitais como fundo. E ainda tem mais: por conta da pandemia de covid-19, a produção foi adiada várias vezes, algo que aumentou o custo e colocou em xeque a própria realização do longa. Felizmente, o resultado compensa e muito todo este perrengue.

 

 

Hunt precisa enfrentar uma inteligência artificial ao longo da ação. Chamada de “A Entidade”, ela evoluiu de um programa espião americano, adquiriu consciência e, ao que tudo indica, se rebelou contra os vários governos do planeta. Para controlá-la ou destruí-la, várias forças iniciam uma caçada em busca de mecanismos que foram separados no início do longa e que só podem funcionar se colocados juntos. A ação irá do Polo Norte ao deserto dos Emirados Árabes, chegando a Roma, depois Veneza e, por enquanto, bagunçando a calma dos alpes austríacos. Neste percurso estão perseguições de todos os tipos, efeitos eletrônicos sensacionais e muita cena em carros, trens, motos e, como é uma marca registrada dos filmes, Tom Cruise correndo longas distâncias. O elenco, como dissemos, é ótimo. Além de Ving Rhames (Luther) e Simon Pegg (Benji), os companheiros inseparáveis de missões de Hunt, temos a agente inglesa Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), o retorno de uma das vilãs mais sensacionais da série, a Viúva Branca (novamente vivida pela excelente Vanessa Kirby). A novidade fica por conta da adição da excelente Hayley Atwell (a querida Agente Peggy Carter, de Capitão América), que vive uma misteriosa ladra, Grace, e de uma personagem misteriosa, Paris, interpretada por uma monossilábica Pom Klementieff, a Mantis de “Guardiões da Galáxia”. Além deles, o sinistro vilão Gabriel, vivido por Esai Morales e o Diretor da CIA, Eugene Kittridge (Henry Czerny) contribuirão para engrossar a galera que vai correndo de um lado pro outro em busca da Entidade.

 

 

Os 160 minutos desta primeira parte de “Missão Impossível – Ajuste de Contas” passa voando no escuro do cinema. É uma produção feita para ser apreciada desta forma, com pipoca, refrigerante e todos os problemas deixados do lado de fora da sala. É um épico moderno, imenso e sensacional. Não deixem de ver.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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