O Maduro Kings Of Leon

 

 

 

Kings Of Leon – When You See Yourself

Gênero: Rock Alternativo

Duração: 51 min
Faixas: 11
Produção: Markus Dravs
Gravadora: RCA

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

O quarteto King Of Leon iniciou sua carreira como uma banda que oferecia uma mistura original em meio aos clones de Strokes que marchavam na década de 2000: misturar o rock alternativo daquela época com toques de southern rock e uma certa displicência punk, o que rendeu muitos elogios à sua estreia, “Youth And Young Manhood”, lançado em 2002 com grande sucesso. A sequência veio com “Aha Shake Heartbreak”, de 2004, ainda firme neste caminho inicial, mas o terceiro trabalho, “Because Of The Times”, de 2007, levou a sonoridade do grupo do campo para a cidade, tornando-a progressivamente menos original e mais banal. Ainda assim, os irmãos Followill (Caleb, Jared, Nathan) e o primo Matthew, permaneceram como um grupo a ser conferido sempre que lançava novo trabalho, talvez na expectativa de vê-los reeditar aquela mistura original. Vieram outros quatro álbuns sem que isso acontecesse e este “When You See Yourself”, oitavo trabalho da carreira, ainda que não logre o retorno completo ao passado, se constitui talvez no melhor disco da banda desde que mudou sua sonoridade.

 

Em primeiro lugar, este é um álbum mais reflexivo, no qual os Followill estão mais sérios, mais calmos e observando os tiques e taques humanos como um todo. E se não conseguiram colocar o ovo em pé em termos musicais, eles oferecem uma boa versão de seu rock de guitarras, aqui muito mais colocadas como instrumento de provisão de climas e nuances do que algo feito apenas para solar. A produção é assinada pelo inglês Markus Dravs, que já pilotou álbuns do Arcade Fire, de Brian Eno e de Mumford & Sons com a mesma fleuma britânica, operando num nível em que ele realça timbres e tons, deixando o artista com a missão de conferir força e determinação nas faixas de acordo com seu bel prazer. Dravs é mais um facilitador de estúdio, e deve ter deixado o KOL imprimir mais cores e detalhes nas boas faixas que compõem a maioria das 11 presentes no álbum.

 

Aliás, a melhor parte está concentrada nas canções que abrem o disco. Logo de cara, o ouvinte se depara com a ótima “When You See Yourself You Are Far Away”, que recupera – de forma até meio surpreendente – algo da melancolia alt-country do início da década de 2000 e que parece ter se perdido no turbilhão de ritmos e detalhes. O grande trunfo da canção é manter essa tristeza sob controle e usá-la como pano de fundo, enquanto acrescenta uma ótima linha de bateria a algum instrumental meio U2 fase “Joshua Tree”. Funciona. Esta impressão de fluidez permeia a faixa seguinte, “The Bandit”, que foi o segundo single do álbum e imprime uma levada mais rápida e cheia de pequenos detalhes na linha de baixo e no uso das guitarras, que surgem sobrepostas, fazendo vários pequenos riffs. “100.000 People”, o primeiro single, é uma faixa mais climática, ainda que conserve muito desta tensão guitarrística x melancolia.

 

“Stormy Weather” é outra faixa que amplia o espaço destinado às guitarras em meio a uma levada muito bacana de bateria e introduz outra grande canção, “A Wave”, que é outra faixa que evoca a dramaticidade do U2 oitentista mas sem chegar a resvalar para algum tipo de cópia. Em seguida vem a melhor faixa do álbum, “Golden Restless Age”, perfeitinha, pronta para servir como a canção de estimação de muita gente interessada neste rock com cara de estrada à noite, alguma coisa de carro atravessando uma grande paisagem sob o céu estrelado. E tem ainda boas faixas mais climáticas, caso de “Supermarket”, “Time In Disguise” e “Echoing”, que surge meio escondida mais pra perto do fim do álbum.

 

“When You See Yourself” é um bom disco de uma banda inteligente, que sabe mexer com as expectativas dos fãs, jogando com essa dicotomia entre maturidade e juventude, enquanto segue como headliner em grandes festivais e abastecendo sua legião – urbana – de fãs. Este é um álbum que entrega o que promete: rock moderno e bem feito, direto e reto.

Ouça primeiro: “Golden Restless Age”, “A Wave”, “Stormy Weather”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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