O Histórico Living Colour

 

O mundo estava mudando rapidamente em 1988. Muro de Berlim em vias de cair, simbolizando o fracasso da experiência socialista soviética de governo. Yuppies vencedores em Wall Street, plantando as sementes de um mundo neoliberal que viria a aprofundar como nunca as desigualdades. MTV dando as cartas na música jovem planetária. Globalização no horizonte, como uma espécie de press kit desse novo mundo, mostrando que a tecnologia nos salvaria do abismo. Rock’n’roll passando por mudanças profundas, dividido entre o hair metal e o trash metal da Costa Oeste americana e o acid rock britânico, num páreo em que corria por fora um grupo mal encarado de bandas que insistiam em misturar a ele elementos de funk, soul, jazz e a novidade daquele momento: o hip hop. Era uma galera sem protagonistas, formada por gente nova, estranha e que tentava acertar a bola de três pontos daquela década. Quem conseguiu, do meio da quadra, foi o Living Colour.

Claro que Vernon Reid, guitarrista e mente criativa do LC não tinha a menor ideia de que formaria uma banda protagonista no cenário mundial. Ele só queria sobreviver ao underground novaiorquino de então, tocando na cena da Grande Maçã para ganhar o sustento e tentar levar adiante a sua ideia de rock’n’roll. A matriz era o hard rock, mas ele gostava de bandas pouco convencionais para um fã do estilo àquela época – The Clash, Talking Heads – e entendia plenamente o valor de gente como Curtis Mayfield, Stevie Wonder e Marvin Gaye, soulmen criativos e de visão ampla, além de Jimi Hendrix, o pai dos guitarristas virtuosos. E negro, como Vernon. Pode parecer acessório lembrar deste detalhe, mas a memória insiste em trazer a lembrança de um crítico musical brasileiro analisando a obra do Living Colour, enfatizando uma suposta inabilidade dos negros em fazer “rock pesado”. Fala sério, né? Trinta anos depois, o tempo só fez confirmar o absurdo de sua declaração.

Sendo assim, não tardou que a banda, formada por Reid, Corey Glover (vocais), Muzz Skillings (baixo, mais tarde substituído por Doug Wimbish, que, por sua vez, substituiria ninguém menos que Bill Wyman, nos Rolling Stones) e Will Calhoun (bateria), fosse descoberta pelos olheiros de gravadora e encaminhada para lançar o primeiro álbum. Trocadilhando com as cores do seu nome, o LC batizou sua estreia de “Vivid” e meteu uma capa psicodélica em pleno 1988. Era ousado e pouquíssimo convencional. E era sensacional também, especialmente porque o rock que a banda praticava era inegavelmente pesado, mas exibia uma fluência pop que só os mestres conscientes do estilo possuem. E dava gosto ouvir uma sonoridade límpida, levada por verdadeiros monstros nos seus respectivos instrumentos. Em pouco tempo, o mundo abraçou os criadores de porradas como “Cult Of Personality”, “Glamour Boys”, “Middle Man”, “Open Letter (to a Landlord)”, “What’s Your Favorite Color”?, “Which Way To America?” e a cover pesadíssima para “Memories Can’t Wait”, dos Talking Heads. Ou seja, um disco cheio de clássicos instantâneos.

É bom que se diga o seguinte: o LC nasceu mais moderno, abrangente e talentoso que as outras bandas de seu nicho, a saber, Red Hot Chili Peppers e Faith No More. A três lideraram este grupo de formações esquisitas e desajeitadas, que praticavam o que passou a se chamar de funk rock a partir do ano seguinte, quando Chili Peppers lançou “Mother’s Milk” e o FNM veio com “The Real Thing”. Engraçado que a música tem dessas reviravoltas temporais estranhas: ambos os discos fizeram bonito, suplantaram “Vivid” em exposição e habilidade para lidar com a MTV e tudo mais. O LC contratacou com “Time’s Up”, seu segundo álbum, lançado em 1990, mas, apesar deste ser um trabalho tão impactante e superlativo quanto a estreia, o tal de funk rock parecia não ser o espaço apropriado para a banda. Pelo menos não tanto quanto era para RHCP e FNM. Resultado: em meio ao estouro grunge e o estilo que ajudara a fundar, o Living Colour ficou sem eira nem beira. O terceiro disco, “Stain”, lançado em 1992, já mostra um grupo que perdera o bonde.

Verdade que o grupo jamais chegou a encerrar suas atividades, permaneceu vivo e produtivo, mas nunca com o impacto de quando surgiu. Agora, trinta anos depois, Reid e a formação original do LC estão na estrada tocando a íntegra de “Vivid” e virão ao Brasil para mostrar este show. Datas no Rio de Janeiro e São Paulo já estão confirmadas de modo que será praticamente imperdível conferir in loco a força dessas canções. Uma olhada nos setlists da turnê que o grupo fez pela Austrália, também tocando o álbum, mostra que, além das faixas, teremos os melhores momentos de “Time’s Up”, o que maximiza a experiência.

Se você ainda pensa que RHCP e FNM são o máximo deste rock que misturava funk, hip hop e suingue negão, surgido nos USA na virada dos anos 1980/90, precisa estar presente para perceber o tamanho do seu erro. Isso é bom, a vida é cheia de chances para recomeçar e aprender. Venha! Vai ser sensacional.

 

SERVIÇO – RIO DE JANEIRO:

Banda de abertura: Seu Roque
Data: dia 13 de junho de 2019
Local: Circo Voador – rua dos Arcos, sem número – Lapa

Ingressos:
1° lote: 120
2° lote: 140
3° lote: 150

Vendas online:
https://checkout.tudus.com.br/circo-voador-living-colour/selecione-seus-ingressos

Ponto de venda: Bilheteria do Circo Voador

SERVIÇO – SÃO PAULO:

Data: 14 de junho de 2019
Horário: 20h
Local: Tropical Butantã – Av. Valdemar Ferreira, 93 (200 metros da Estação de Metrô
Butantã)

Ingressos (1º lote):
R$ 120 (Pista meia/promocional)
R$ 180 (VIP meia/promocional)
R$ 240 (Mezanino meia/promocional)

*doe um quilo de alimento na entrada da casa no dia do evento e pague meia entrada

Vendas online:
https://ticketbrasil.com.br/show/6934-livingcolour-saopaulo-sp/

Ponto de venda (sem taxa de serviço): Bilheteria Tropical Butantã

Pontos autorizados:

Consulte o ponto de venda mais próximo da sua região em
https://ticketbrasil.com.br/show/6934-livingcolour-saopaulo-sp/pontos-de-venda/.

Evento FB: https://www.facebook.com/events/375520913295894

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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