Fantasia de vacina no carnaval

 

 

Acordamos com a informação de que a vacinação contra a covid-19, no Rio de Janeiro, será interrompida na quarta-feira, dia 17 de fevereiro porque o estoque acabou. O próprio prefeito da cidade, Eduardo Paes, que tuitou o seguinte:

 

“Recebi a notícia de que não chegaram novas doses. Teremos que interromper amanhã nossa campanha. Hoje vacinamos pessoas de 84 anos e amanhã de 83. Estamos prontos e já vacinamos 244.852 pessoas. Só precisamos que a vacina chegue. Nova leva deve chegar do Butantan na próxima semana”.

 

Na sexta-feira, em Petrópolis, região serrana do estado do Rio, um homem flagrou uma “vacinação fake”. Sim, isso mesmo. Ele havia levado sua mãe idosa para ser imunizada numa universidade particular, na qual estava montado um “drive thru” de vacinação pela prefeitura da cidade. Lá ele filmou o processo de injeção e viu que a enfermeira estava com dificuldades para injetar o líquido. Ela tentou com duas seringas e, por fim, acabou aplicando uma injeção de … ar. O homem levou o caso às autoridades, que providenciaram a imunização e afastaram a enfermeira.

 

Estes dois fatos mostram como a vacinação contra a covid19 no Brasil de 2021 é excepcional. A população, que morre na casa do milhar todos os dias, precisa depender da sorte para obter a dose. Não custa lembrar da primeira aparição do ocupante da presidência da república, ainda em março do ano passado, dizendo que a doença não era nada demais, que ele tinha histórico de atleta e que não passava de uma gripezinha.

 

Pois bem, esta postura não mudou. Pra essas pessoas, não importa mesmo se você pode morrer infectado, eles não estão preocupados ou se mobilizando para diminuir o risco de vida que você ou sua família corre. Pra eles, é frescura sua. Pare de reclamar e vá trabalhar, para gerar lucro para o seu patrão.

 

O que diferencia os dois cenários, de março passado de hoje, um ano depois, é a postura da população. Se ela estava assustada naquele início de pandemia, agora, há muitas pessoas que não têm mais qualquer medo de contrair a doença. Em pleno não-carnaval, como é o nosso caso em 2021, muita gente está fazendo festas clandestinas para comemorar. E eu pergunto: o que há pra comemorar, gente?

 

Seja nos perfis de Instagram, seja nas proximidades daqui de casa, ontem à noite, o batuque segue, em menor intensidade, mas segue.

 

Voltando à vacinação. Ela é excepcional, questão de sorte porque o governo federal da gripezinha não tem um programa unificado de imunização nacional. Não há esforço nítido para a compra de doses, para uma conduta séria da questão, não há um cartaz nas ruas falando sobre a importância de se vacinar. Não há um comercial na TV ou no rádio. Nada, a vacinação é para poucos. Temos pessoas que não têm experiência na questão – um general e militares cloroquinados – e estamos pagando por isso. Com a vida. Governadores, prefeitos e o cidadão estão à própria sorte, sem confiança, desorientados e metidos numa realidade em que a alienação cumpre sua função com brilho.

 

Vacina é a fantasia do não-carnaval do Brasil dos 240 mil mortos por covid-19.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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