O Inimigo do Brasil

 

 

Este é um site de cultura pop, vocês sabem bem. É um espaço pra falarmos de música, cinema, TV, Internet, darmos opinião…Mas seria irresponsabilidade se nós ficássemos em silêncio diante da postura do governo federal diante da crise do coronavírus. Não bastasse a total inépcia do atual ocupante da presidência, demonstrada em várias declarações infelizes, postura lamentável, briga com governadores, desprezo pela importância da situação…agora temos a MP que ele editou ontem à noite e já colocou em vigor hoje, permitindo a suspensão do contrato de trabalho por quatro meses. Ou seja, se o trabalhador não morrer por conta da doença, morrerá de fome.

 

Foi preciso o surgimento de uma pandemia para que ficasse exposta a aberração que é o governo atual. Não que muitos de nós já não tivéssemos esta certeza. O ex-capitão é uma pessoa despreparada e mal-intencionada, movida por uma visão distorcida de mundo, desprezando os valores básicos de afeto, empatia, compaixão. Ele é daquele tipo de gente que acredita que homem não chora, que muito do que nos aflige é frescura e que a maioria dos problemas poderia ser resolvida na base da porrada. Assim como ele, um monte de gente pensa assim. Pra eles o coronavírus é mais uma dessas frescuras. “É uma gripezinha”, dizem. É histeria.

 

Só que o covid-19 chegou para colocar ordem nessa gente. Com ele, saem de cena – ou deveriam – o fanatismo evangélico, a terra plana, o olavo de carvalho, o desprezo pela ciência, pelas universidades públicas, pela saúde pública…mas o negacionismo ainda resiste nesta lógica do “é histeria”, “é frescura”, “é viadagem” e por aí vai. Nesta onda, o governo federal age como se fosse um inimigo declarado do povo, com letalidade e desprezo pela vida em nível equivalente à da própria pandemia. Se não sofremos pelo covid-19, temos o bolsovid-17 para nos atacar, dizem as redes sociais. E elas estão certas, fato corroborado agora pelo próprio governo, ao lançar esta MP.

 

Ela trata o empregador como se fosse uma única entidade. Significa dizer que o Itaú, o Bradesco e o véio da havan são a mesma coisa que o boteco da esquina da sua casa, com regras iguais. Significa que estas entidades – empresas – estão protegidas pelo governo de uma mesma forma. Só que o dono do boteco tem uma realidade muito distante da que desfrutam os empresários e banqueiros. Mesmo que os governos petistas tenham ajudado a estes pequenos empreendedores num passado não tão distante, estes ajudaram a eleger o atual ocupante da presidência, defensor de uma política neoliberal agressiva, desumana e, pior de tudo, em franca dissonância em relação ao resto do mundo.

 

Se a crise está fazendo os governos socorrerem o trabalhador antes da empresa, pagando salários e pensando em planos de contingência para as PESSOAS não morrerem de fome, o nosso séquito de patifes está preocupado com o empresário, o grande empresário, que, segundo esta lógica distorcida e cruel, deve ser protegido a todo custo. Já foi assim com as pressões pela reforma da Previdência, pelo encolhimento da CLT, pela lógica do “melhor menos direitos e emprego do que mais direitos e desemprego”. E não faltou trabalhador para concordar com isso.

 

A partir desta ação, o governo ataca também o sistema de saúde pública, o nosso SUS, que não dará conta de tantos atendimentos futuros, podendo entrar em colapso em qualquer ponto dos próximos meses.

 

O atual presidente despreza a todos nós. Ele não tem a ignorância com principal característica, como pensam muitos. Ele tem a maldade e o desprezo como traços principais do seu caráter e não está dando a mínima importância para o que estamos sentido e passando, confinados em nossas casas, esperando um futuro sombrio. Muito menos ele está preocupado com o idoso, a criança, o pobre, o desabrigado, que estão muito mais expostos à pandemia. Ele está preocupado em ser o que está certo, em brigar, em desprezar, em desqualificar a importância da situação.

 

Não é surpresa, repito. Sua conduta sempre foi essa. Defendendo torturadores, atacando mulheres, emitindo declarações lamentáveis, este sujeito foi eleito e tolerado por uma multidão de ausentes nas eleições passadas. Ele é, sem sombra de dúvida, o pior presidente que o país já teve.

Esperamos, para o bem de todos, no sentido amplo e restrito, que ele seja removido do seu posto o quanto antes.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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