Nossa playlist de produções de Quincy Jones
Não há outro jeito de homenagear o legado de Quincy Jones que não seja lembrando de suas produções sensacionais. Sabemos bem que ele teve o início de sua carreira como músico de jazz. Foi a música, aliás, que evitou o ingresso do jovem Quincy no crime organizado de sua Chicago natal quando adolescente. Em pouco tempo ele tornou-se um instrumentista requisitado, trabalhou com os maiores, de Ray Charles a Frank Sinatra, passando por Count Basie, Lionel Hampton e, mais tarde, consolidou-se como o maior produtor pop de seu tempo, especialmente por conta de sua invenção sonora mais ambiciosa: a música de Michael Jackson a partir de 1979.
Com total influência e orientação de Quincy, que já vinha forjando uma liga sonora irrestível, que misturava pop, jazz e funk em doses certas, Michael Jackson se tornou o maior artista de seu tempo por conta da trilogia de produções assinadas por ele – “Off The Wall” (1979), “Thriller” (1982) e “Bad” (1987). Além delas, Quincy fez algo parecido com outro músico com origens no jazz: George Benson e seu impressionante álbum “Give Me The Night”, lançado em 1980.
Além das produções alheias, Quincy também assinou trilhas sonoras e álbuns próprios, que reafirmaram sua capacidade criativa e sintonia com seu tempo. Aliás, como era criador e não criatura, dá pra dizer que ele fez o próprio tempo, regulou seu avanço e proporcionou obras impressionantes. Esta lista é uma tentativa respeitosa de apontar as nossas produções preferidas e será totalmente influenciada por seu trabalho a partir do fim dos anos 1970. Mas, mesmo que esse período responda pela maioria de canções, teremos algumas pérolas pinçadas de outros tempos, outros artistas.
Quincy, obrigado. E bons sons aí nas esferas mais elevadas. Certamente um monte de amigos deve tê-lo recebido aí.
Aqui estão nossas produções preferidas de Quincy Jones.
25 – George Benson – Midnight Love Affair (1980) – já adiantamos que vem desse álbum, “Give Me The Night”, a nossa produção preferida de todas as que Quincy realizou. Essa canção aqui é o marco máximo da balada soul funk de FM.
24 – Patti Austin e James Ingram – Baby Come To Me (1981) – um hit massivo de Patti Austin, outra incursão de Quincy Jones na balada soul pop de FM, com refrão matador. Clássico total. James Ingram, então despontando para o sucesso, lançaria um hit global dois anos depois, também assinado por Quincy.
23 – Brothers Johnson – Get The Funk Out Ma Face (1976) – um funkão visionário, produzido por Quincy Jones antes de se tornar a superestrela dos estúdios. Aqui ele assina um híbrido do que fazia o Funkadelic de George Clinton com algo novo, mais fluido e pop. A semente do que viria alguns anos depois.
22 – Quincy Jones – Razzmatazz (1981) – Quincy já assinara colossos para Michael Jackson e George Benson, logo, por que não assinar o seu próprio? Ainda que “The Dude”, seu álbum de 1981 seja inferior a essas produções, rendeu algumas ótimas canções. Essa é uma delas.
21 – Lesley Gore – It’s My Party (1963) – aqui está a primeiríssima incursão de Quincy Jones no pop radiofônico de seu tempo. Com a escolha da batida certa e o arranjo perfeito, ele assinou o maior sucesso de Gore, uma cantora adolescente que buscava modificar o som dos girl groups americanos.
20 – Frank Sinatra – The Best Of Everything (1984) – Frank Sinatra e Quincy Jones já haviam trabalhado juntos no início dos anos 1960 e o Velho Olhos Azuiu recrutou seu velho companheiro para seu primeiro disco de inéditas em anos, “LA Is My Lady”. Essa canção fez sucesso moderado na época e recria os climas da dupla nos áureos tempos.
19 – Michael Jackson – Beat It (1982) – a primeira de muitas produções de Quincy para Michael Jackson a figurar nessa lista. Se “Thriller” tem um mérito, é o de ser pop na medida exata para o início dos anos 1980. Aqui, com participação de Eddie Van Halen na guitarra, temos um dos momentos mais pop do álbum. Clássico.
18 – Quincy Jones – Ai No Corrida (1981) – outra faixa de “The Dude”, o álbum de Quincy que precede seu trabalho com MJ em “Thriller”. Funk direto e reto, com sintetizadores e sonoridade acrílica marcando seu tempo.
17 – Quincy Jones – Soul Bossa Nova (1962) – faixa de abertura de seu sensacional álbum “Big Band Bossa Nova”. A sonoridade obtida aqui é, certamente, a mais criativa que um jazzman fez do ritmo brasileiro e olha que não foram poucos. Meio samba, meio latina, meio qualquer coisa, genial.
16 – Michael Jackson – Man In The Mirror (1987) – das três produções de Michael Jackson assinadas por Quincy Jones, “Bad” é, certamente, a menos inspirada. Mesmo assim, rendeu muitos hits a Michael. Nossa preferida é essa balada derramada e reflexiva sobre se olhar no espelho e começar a mudar o mundo por nós mesmos.
15 – USA For Africa – We Are The World (1985) – a canção de Lionel Richie e Michael Jackson que gerou uma das maiores reuniões de celebridades cantantes da histórica. O trabalho de Quincy como produtor e regente nesta faixa são admiráveis, ainda que o tom dela seja, digamos, exagerado. Memória afetiva dos tempos que a gente cantava a letra quilométrica imitando cada participante da gravação.
14 – James Ingram – Ya Mo Be There (1983) – mistura perfeita de pop e funk radiofônico do início dos anos 1980. Ingram foi um dos grandes cantores da época, também participando com destaque de “We Are The World”.
13 – Michael Jackson – Workin’ Day And Night (1979) – faixa sensacional – e meio subestimada – com levada infecciosa de “Off The Wall”, o álbum que configurou Michael Jackson para postular o trono de maior artista do planeta alguns anos depois.
12 – George Benson – Love X Love (1980_ – mais uma canção sensacional de “Give Me The Night”, álbum que ampliou as sonoridade de George Benson. Funkão slick e feito sob medida para as FMs da época. Sensacional.
11 – Michael Jackson – Wanna Be Startin’ Something (1982) – faixa de abertura de “Thriller”, sensacional, criativa, revolucionária e muito bem feita. Com ecos de “Samba Makossa”, de Manu Dibango e todo um arsenal percussivo, um dos grandes momentos de Michael solo.
10 – Michael Jackson – Rock With You (1979) – um híbrido perfeito de balada pop e funk lights teores, certamente uma das canções mais conhecidas de Michael Jackson pelo senso comum do ouvinte médio. O que não diminui a genialidade de seu arranjo e produção.
09 – Frank Sinatra – LA Is My Lady (1984) – faixa-título do retorno de Frank Sinatra ao disco em 1984, co-assinada pelo próprio Quincy, que produziu, regeu, arregimentou e só faltou cobrar o escanteio e cabecear para o gol nesta canção.
08 – Michael Jackson – PYT – Pretty Young Thing (1982) – canção sensacional e altamente pop meio perdida em meio ao desfile de clássicos de “Thriller”. É uma das minhas preferidas desde que ouvi o álbum lá em 1982.
07 – Rufus And Chaka Khan – Do You Love What You Feel (1979) – faixa de abertura do sensacional álbum “Masterjam”, com uma batida funk de fazer inveja aos grandes mestres do estilo. Perfeição total.
06 – Michael Jackson – Off The Wall (1979) – faixa-título da primeira colaboração de Quincy e Michal. Aqui estão os parâmetros para a perfeição pop que “Thriller” viria a ser, sendo essa canção digamos, 60% pop, 40% funk.
05 – Quincy Jones – The Secret Garden (The Erotic Garden Version) (1989) – faixa longuíssima e sensacional de seu álbum “Back On The Block”, no qual o produtor trabalha com uma constelação de artistas. Aqui temos Al B Sure, James Ingram, Barry White e El Debarge se revezando um colosso moteleiro de primeira categoria.
04 – Michael Jackson – Billie Jean (1982) – melhor faixa de “Thriller”. E isso basta como credencial.
03 – Michael Jackson – Don’t Stop Til Get Enough (1979) – melhor faixa de “Off The Wall”. Melhor gravação de Michael Jackson. E isso basta como credencial.
02 – Frank Sinatra – Fly Me To The Moon (1964) – Frank Sinatra e Quincy Jones na corrida espacial, trazendo o nosso satélite para a palma da nossa mão. O arranjo é perfeito, a produção é um dos marcos do século 20. No futuro, ouvirão essa canção como o começo de tudo.
01 – George Benson – Give Me The Night (1980) – a perfeição imaculada entre funk, jazz e pop numa canção colossal, produzida com genialidade. O maior momento de Quincy numa cadeira de produtor. E ponto final.
Bonus Track – Frank Sinatra At Sands – I’ve Got You Under My Skin (1966) – gravação feita ao vivo, no Cassino Sands, de Las Vegas, com Quincy regendo a Count Basie Orchestra. Ele não produziu o álbum, mas é como se fosse. Em um dado momento, Sinatra avisa: “protejam-se. Fujam. Escondam-se” e, em seguida, a banda ataca uma hecatombe sonora que permanece como um dos maiores momentos da carreira de Sinatra, o que, convenhamos, não é pouco.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.