‘Menos é mais’ com Robert Cray
O músico americano Robert Cray está em mini turnê pela América Latina e toca sexta-feira (2/8), no Vivo Rio, após apresentações em São Paulo, Buenos Aires e Belo Horizonte (31/7) – ainda faz show em Brasília (3/8). Ele é representante de uma tradição de guitarristas de blues que ultrapassaram a fronteira do gênero, sem perder a sua essência. Discípulo de Albert Collins, com quem gravou (junto com Johnny Copeland) o lendário Showdown! – vencedor do Grammy de Melhor Disco de Blues Tradicional em 1986 –, também tocou com Eric Clapton, Buddy Guy e B.B.King. Sendo mais novo que essas lendas da guitarra e sempre associado a elas, Robert Cray fez um caminho muito particular, repleto de acertos.
Talvez o grande público do Brasil o conheça mais por hits como “Smokin gun” ou “Nothin but a woman” – eu mesmo o vi pela primeira vez no clipe dessa canção. Corria o ano de 1990 e a MTV recém criada por aqui exibia muita coisa da produção norte-americana. No vídeo, Cray toca sua guitarra como se caminhasse dentro de um quadrinho. A pegada de rock cheia de suingue chamava atenção por conta de algo improvável para a época – o instrumento praticamente sem efeito algum, soando limpo, estalado nas paletadas de um riff marcante e inesquecível. Algo pop e muito bem feito.
Passei a procurar os álbuns que Cray havia lançado antes e descobri um repertório variado, um cantor versátil de voz poderosa, ora suave, que se adequa ao espírito de cada canção. A carreira dele começa em 1980, com o disco Who’s Been Talkin’, mas o sucesso só veio com Bad Influence (1983) e False Accusations (1985). Àquela altura eu era um jovem estudante de guitarra, super ligado em rock progressivo e ao mesmo tempo fã do Clapton – que tinha regravado “Bad Influence”, a canção. Ambos adeptos da seita Fender (strato ou telecaster), o instrumento que se notabilizou também com Hendrix e Ray Vaughan, eles tinham tanto em comum que foi difícil não vê-lo como influência (good influence) ao longo de mais de duas décadas.
Seu estilo é elegante, algo que o faz soar como músico de outros tempos, em que o fraseado de um solo não se perde nos excessos dos virtuoses. Aliás, em mais de uma ocasião, Cray declarou não se preocupar com isso, um aprimoramento da técnica para além do necessário à expressão do que impulsiona a própria música: o sentimento. Porque em música, “menos quase sempre é mais”.
Isso não significa que suas canções sejam curtas ou seus solos simples. Cray, como Clapton, também é lembrado sempre como um músico de palco, que se reinventa ali diante do público e a cada improviso. A questão não é a duração de suas execuções, mas sim o fato de que não tem “nota fora”. Tudo está a serviço do que pede a música, do que diz a letra, do que cabe ou subverte deliciosamente a harmonia.
No Parque Villa-Lobos, em São Paulo, no sábado, tocou canções como “I shiver” (do disco Shame + A Sin, de 1993), “Phone Booth” (que abre Bad Influence, de 1983) e “Time Makes Two” (do álbum Time Will Tell, de 2003). Depois de sua última vinda ao Brasil dez anos atrás, o público do Rio poderá reencontrar a elegância e a inspiração de Robert Cray na próxima sexta-feira, no Vivo Rio.
Ricardo Benevides é escritor e professor da Faculdade de Comunicação Social da UERJ e da FACHA. Doutor em Literatura Comparada (UERJ), também trabalhou como editor na Ediouro e na Editora Paz e Terra.
Muito Bom meu amigo