Jake Bugg: sem medo de ser pop
Jake Bugg – Saturday Night, Sunday Morning
Gênero: Pop, rock
Duração: 36 min.
Faixas: 11
Produção: Steve Mac
Gravadora: Sony
Já faz tempo que Jake Bugg não é aquele moleque com voz anasalada, subindo nos palcos dos festivais de verão apenas com violão, apresentando canções de influência folk. Lembram? Houve até quem o comparasse com … Bob Dylan. Ainda que tal fato seja mais um despautério da imprensa “especializada” em música diante de um novo artista, Jake chamava a atenção porque parecia sério e compenetrado no que se dispunha a fazer. Não demrou muito tempo – dois discos – e ele começou a dar sinais que abraçaria tinturas mais coloridas e pop em seu trabalho. Foi com “On My One”, de 2016, que ele começou a direcionar suas canções para o terreno do pop mais midiático. Em 2017 ele adotou um desvio e chamou Dan Auerbach para produzir o bom “Hearts That Strain”, no qual, a exemplo da pegada de Dan no estúdio, enveredou por um exercício de estilo dentro do pop classudo americano, da virada dos anos 1960/70. Agora, com este novíssimo “Saturday Night, Sunday Morning”, Jake parece ter encontrado a forma ideal para sua obra.
Esta forma é a prática de um pop atual, radiofônico, novidadeiro, mas que parece preservar o bom senso em termos de melodia, ritmo e outros preceitos básicos da música popular. Quem pilota a produção é Steve Mac, que já trabalhou com Ed Sheeran, Paloma Faith e 5 Seconds of Summe, dando a medida exata da prateleira na qual Jake deseja estar com suas canções. A julgar pela sonoridade que ele obteve no álbum, não será algo muito complicado. O grande motivo disso é que o sujeito tem uma boa verve como compositor e um estilo bem característico como cantor, o que facilita na hora de encontrar os tais diferenciais de mercado que parecem fazer tanta importância na indústria. O fato é que Jake consegue entregar um número suficiente de potenciais hits, que são trabalhados com mãos habilidosas por Mac no estúdio, resultando numa convincente fornada de bons momentos sonoros. Se eles são mais ou menos rasos e esquecíveis, bem, Jake não está muito preocupado com isso e, de acordo com a lógica atual, ele está certo.
Sendo assim, as onze faixas do álbum correm frouxas e fáceis num ritmo de parada pop, tudo muito simples, mas que guarda os elementos básicos para cutucar o inconsciente sonoro do pessoal entre os 20 e 30 anos – o público que Jake tenta mirar aqui. “All I Need” é o ponto de partida do álbum e entrega uma melodia grudenta e convicente, envolta numa batida dançante mas que não chega a irritar pela monotonia. É música de festa, de sair de noite e tudo bem com isso. “Kiss Like The Sun”, logo em seguida, é mais um roquinho com guitarras e palmas, que é interrompido por um refrão que freia a melodia, jogando um pouco contra a dinâmica da coisa, mas não atrapalha. A ideia de Bugg e Mac é oferecer algo diversificado sem que se perca a unidade. Eles conseguem em alguns momentos, como é o caso de “About Last Night”, que é um popinho mais eletrônico e noturno, sufientemente legal. E arranham – com maestria – o terreno das baladas, caso de “Downtown”, uma das faixas mais legais do álbum.
Um fato interessante – levantado por colegas de profissão – é o parentesco de algumas canções mais rock com o que bandas como Arctic Monkeys já fizeram na carreira quando desejaram soar mais pop. Este é o caso, por exemplo, de “Rabbit Hole”, que tem autonomia de voo para arrbatar a preferência dos fãs mais festeiros de Bugg. “Lonely Hours” também vai neste mesmo caminho, com dinâmica e guitarras em bom número. As outras canções do álbum são mais fraquinhas. “Lost” é um poperô de baixo impacto, com batidas dançantes que não fazem muito sentido contrapostas à voz de Bugg. “Scene” é uma baladinha de amor que parece composta por alguém de quinze anos, enquanto o trio “Maybe It’s Today”, “Screaming” e “Hold Tight” fecha o álbum quase no piloto automático, contrariando um esforço estilístico mais evidente nas primeiras faixas.
“Saturday Night, Sunday Morning” tem problemas mas é um disco ok no resultado final. Os fãs de Bugg vão reconhecer seu estilo nas diversas abordagens e os admiradores de um bom pop radiofônico identificarão boas canções. No fim das contas, é um disco menos pior do que parecia para mim. Nota 6,5, passando de ano sem prova final.
Ouça primeiro: “Downtown”, “Lonely Hearts”, “Rabbit Hole”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.