Salve Simpatia – Um Carinho nos Estaduais

Ontem (13/03) o ano finalmente começou. Fui ao Maracanã e pude comprovar que é um sentimento mútuo. Foi outro clima, outra animação, outra motivação. Foi aquela atmosfera de “prontos para a batalha” que todo torcedor gosta. Não só isso, tinha muito mais em jogo do que “só um estadual”.

É verdade que o jogo de abertura do Carioca contra o Bangu também lotou. Mas era um outro estádio. Era mais um clima de saudade, um grito de “até que enfim você voltou” da torcida.

Acredito que não seja um sentimento clubista. Flamenguistas, vascaínos, tricolores e botafoguenses devem ter sentido o mesmo com Copa do Brasil e Sul-Americana. A verdade é que o estadual virou “só um estadual”. Mesmo que gostemos das finais – que cada vez mais são planejadas para contar apenas com os maiores clubes – cada vez mais elas valem menos. Junto, vem a ideia de fragilidade, um campeonato fácil, fazendo com que seja considerado uma obrigação, não só por torcida, como por boa parte da imprensa.

O problema é que muitas das grandes histórias do futebol brasileiro ocorreram por conta dos campeonatos estaduais. E só se tornaram grandes histórias porque eles ainda tinham algum valor. O famoso gol de barriga de Renato Gaúcho pelo Flu. As embaixadinhas de Edílson que acabaram em pancadaria. O gol de Petkovic aos 43 do segundo tempo. Ou que seja a primeira artilharia de Pelé no seu primeiro Paulista, com 15 para 16 anos, em 1957, que o credenciaria para a Seleção Brasileira – e resto é (muita) história.

Os grandes avanços no futebol nacional começaram nos campeonatos estaduais. Os times do subúrbio carioca, com seus jogadores negros e operários, que mais tarde foram parar no Vasco da Gama e quebraram barreiras no título do Carioca de 1923. História essa que levou à profissionalização do futebol – por motivos muito mais elitistas que democráticos, diga-se de passagem -, dez anos depois, em 1933.

Não só isso, os estaduais são – ou costumavam ser – a grande oportunidade dos times pequenos medirem forças com os grandes. Enfrentar o Bangu em Moça Bonita, o Olaria na Rua Bariri ou o Madureira em Conselheiro Galvão não era tarefa fácil. O Bangu, inclusive, se tornou o primeiro campeão profissional, ganhando o Carioca de 1933 – até hoje é um dos três pequenos a ganhar o estadual, junto com América e São Cristóvão.

Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que os demais campeonatos se tornaram maiores e mais importantes que o estadual, porque de fato assim são. Logo, a redução cada vez maior dos campeonatos estaduais parece natural e inevitável, principalmente nos clubes do eixo Sul-Sudeste.

A sorte dos estaduais é que, com a grande história que carregam, ganharam o carinho do público. Apesar de públicos em queda ano após ano, a gente não quer abandonar o estadual. A gente quer tirar sarro, ver quem é o maior campeão, comemorar, ao mesmo tempo que viramos pro rival que ganha e dizemos que “não vale nada”.

Os estaduais ainda são salvos por sua simpatia.

Gabriel Estrella

Gabriel Estrella é historiador e torcedor rubro-negro. Mais do que isso, é um apaixonado pelo esporte bretão. Escreve, pensa e vive futebol, real ou virtual.

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