Irã novamente na mira

 

Você já leu as manchetes: bombardeio americano matou Qassem Soleimani, chefe de uma unidade da Guarda Revolucionária iraniana, em Bagdá. Aiatolá Ali Khamenei e o presidente Hassan Rouhani falaram em retaliação. O tal bombardeio ocorreu ontem, dia 02 de janeiro, no Aeroporto de Bagdá, capital do vizinho Iraque. Quem autorizou o ataque? Ele, trump. Quem mais poderia ser? Na verdade, é injusto – por incrível que pareça – mencionar o alaranjado líder como o responsável. É o que ele representa, no caso, o Presidente dos Estados Unidos.

 

 

Você não precisa de muito conhecimento para desconfiar dos motivos que levam os Estados Unidos a seguir na região do Golfo Pérsico, certo? Sim, petróleo e influência política-econômica. Como já ocorreu em inúmeras vezes no passado – lá e em outros lugares do planeta – as tropas americanas surgem com o pretexto de “levar a democracia” para regiões que “precisam ser pacificadas”. Em 100% das vezes, estes motivos são eufemismo para a defesa de interesses econômicos, quase sempre de recursos naturais que permitam manter o mais poderoso país do mundo em funcionamento, via gás natural e petróleo. Em alguns – raros – casos, os americanos atacam a soberania dos países de forma mais sutil, como fizeram por aqui recentemente. Via de regra, até mesmo para agradar sua indústria de armas, o Tio Sam despeja toneladas de explosivos e tropas para “assegurar a liberdade” dos países que invade. Com o Irã não é diferente.

 

Uma olhadela em séries de TV como “Homeland” ou filmes de gêneros variados ao longo do tempo – como  o oscarizado e recente “Argo” ou a comédia “Corra Que a Polícia Vem Aí”, de 1988 – mostram que a antiga Pérsia é uma pedra no sapato ianque. O motivo é simples: desde 1979, o Irã, outrora aliado dos Estados Unidos, vive sua “revolução islâmica”, personificada pelo poder dos Aiatolás, líderes religiosos com funções políticas, que governam o país ao lado do presidente. O mais famoso dele, Khomeini, foi quem deu início ao processo de deposição do Xá Reza Pahlevi, monarca que governava o país anteriormente e era aliado de Washington. Desde então, os americanos ciscam na região, à espera de uma oportunidade para restaurar sua influência no país.

 

A gente lembra da Guerra Irã-Iraque, uma das mais brutais do século 20, com uso ostensivo de armas químicas, na qual os americanos apoiaram o Iraque do mesmo Saddam Houssain, que matariam anos depois, sob o pretexto de … buscar armas químicas em território iraquiano. O fato é que, desde o 11 de setembro de 2001, o mundo assiste à permanência dos americanos no Iraque e Afeganistão, sob o pretexto de conter o terrorismo e “pacificar” os dois países, constante e permanentemente arrasados por isso. Enquanto isso, o Irã dos aiatolás só fez crescer e se desenvolver, tocando um programa nuclear autônomo e mantendo-se importante, a despeito das sanções da ONU à sua economia, justo por conta do desenvolvimento no uso da energia nuclear. Não demorou para que o país se tornasse influente nas questões políticas do vizinho iraquiano, a partir da aproximação entre milícias rebeldes em relação ao governo local, apoiado por Washington, e unidades do governo iraniano. A vontade é: uma existência sem ameaça de americanos por perto.

 

Agora, com o assassinato de Qassem Soleimani, que era visto como um dos homens fortes do Irã, com possibilidades até de sucessão presidencial, a reação iraniana é aguardada. O cineasta Michael Moore publicou em seu Twitter uma postagem dizendo que os americanos aprenderão a odiar Soleimani até o fim do dia de hoje, porque, afinal de contas, mesmo que ninguém o conheça no país, ele era o maior inimigo da América. E que os cidadãos americanos ficassem preparados para despachar filhos e filhas para mais uma guerra. Todos sabemos que Moore é um ativista político contrário à postura dos Estados Unidos no mundo. O fato é que, independente do partido político do presidente vigente, o Tio Sam não tem dúvidas sobre atacar e fuzilar quem esteja no caminho. E isso parece ter acontecido novamente.

 

Vamos acompanhar. O Irã, ao contrário do Iraque e dos vizinhos da região, tem um aparato militar muito desenvolvido. A Força Aérea Iraniana, por exemplo, tem aviões de caça e ataque ao solo de fabricação chinesa e russa de última geração, além de outros aparelhos mais antigos, franceses, russos e americanos. Na área militar, a aproximação do país com Rússia e China dá o tom da modernização do aparato de defesa. Não é como passear no quintal de casa. Torçamos pelo melhor.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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