Luiza Casé – Mergulho

Gênero: Pop, MPB
Faixas: 10
Duração: 31 min
Produção: Arto Lindsay e Thiago Nassif
Gravadora: Universal

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

 

Em pouco mais de meia hora, Luiza Casé convida o ouvinte para um passei nalguma localidade da Zona Sul carioca. Seu canto, suas composições, os climas evocados por seu primeiro disco, “Mergulho”, conspiram para esta impressão. Ensolarado, fluido, marítimo e litorâneo, o álbum é uma amostra de como uma cantora/compositora pode soar fresco mesmo se valendo de referenciais usados à exaustão por tanto tempo. Já cansamos de ouvir e ver obras da cultura pop nacional aludindo ao Rio e dá tristeza de ver no que a outrora maravilhosa cidade se tornou nas mãos de políticos que parecem tê-la odiado desde sempre, não só ao Rio em si, mas ao que ele significa e simboliza (va) para a cultura nacional. De certa forma, Luiza vem pra recolocar algumas coisas em seus lugares.

 

“Mergulho” tem dez faixas redondíssimas, todas de autoria de Luiza Casé, confirmando que a moça tem um talento que vai além da interpretação. Melodias redondas, letras dentro do contexto proposto, gente jovem reunida na parede da memória. O Rio evocado é o ideal, que infelizmente é de poucos, dentro do mapa geopolítico da cidade. Tem Baixo Leblon, São Conrado, uma ou outra Lapa para desopilar, muito passeio pela orla da Barra até o Arpoador, tá tudo aqui. E o conteúdo musical/instrumental é de primeiríssima linha, contando com bambas do assunto, a começar pela participação de Arto Lindsay na produção, o que dá a “Mergulhos” um ar mais polido e pop, no melhor sentido dos termos.

 

O canto de Luíza tem influências de Marisa Monte e um quê de Vanessa da Mata, especialmente na composição das faixas. Sua voz é doce e tem juventude suficiente pra dar uma impressão de doçura e ingenuidade, que jogam a favor das faixas e do clima evocado. Há belezura na ótima “Estranha Manhã”, que tem naipe de metais colocado de forma inteligente e ressaltando a boa levada que tem algo de reggae/rocksteady na medida certa. A faixa-título já tem mais audácia em pegar carona numa levada lenta e visual, quase psicodélica, que deságua numa bela cama de guitarras, baixo e bateria em harmonia, com a voz de Luiza indo fundo em agudos. Aqui a semelhança da estrutura da composição é mais com alguma coisa que Nando Reis tenha feito no meio dos anos 1990.

 

Outra boa passagem está em “Você e Eu no Breu”, com aceno à confusão dos tempos no amor, traduza de certa forma no verso “vou te levar, não importa o tempo e lugar” e mostra maturidade e algumas nuvens cinzas que vêm se posicionar no horizonte azul aparente que Luiza mostra na maioria do disco. Outro momento de reflexão fora do clima de brisa do mar é com “Jornais”, que é uma bem humorada canção sobre alguém querer se informar dos fatos do mundo pelas páginas dos jornais, investindo mais no tom brejeiro e simpático de alguém que espera a mudança positiva. “Eu não vou ter medo, eu vou ter que enfrentar os jornais”.

 

Luiza Casé tem tudo para confirmar seu talento como cantora e compositora de uma variação simpática e bela de música carioca solar. Lembra os anos 1990, coisas boas, tudo bem feito e com potencial para fazer sucesso. Boa bola.

Ouça primeiro: “Mergulho”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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