Guilherme Arantes: 70 anos e 25 canções

 

 

Responda rápido: O que artistas tão distintos quanto Caetano Veloso, Maria Bethânia, Elis Regina, Leila Pinheiro, Maglore, Paulo Miklos, Maria Rita, Zé Ramalho e Belchior têm em comum? Sim, todos eles já gravaram composições de Guilherme Arantes. Como se isso não bastasse, o cantor e compositor paulistano tem uma imensa carreira fonográfica, cheia de discos e singles marcantes, que mostram uma grande consistência criativa. Pautado pelas melodias pianísticas refinadas, Arantes iniciou sua carreira no grupo Moto Perpétuo, que durou pouco tempo. Em 1976 ele lançou seu primeiro álbum, homônimo, e já cravou dois clássicos no pop radiofônico da época: “Meu Mundo e Nada Mais” e “Cuide-se Bem”. Daí em diante, pelo menos até o início dos anos 1990, ele foi figurinha carimbada nas paradas de sucesso nacionais e nas trilhas sonoras das novelas globais, que eram importantes indicadores de relevância artística na época.

 

 

Verdade que a carreira de Guilherme entrou em declínio no meio dos anos 1990, quando ele não conseguiu se inserir nas voláteis formas de pop nacional, num tempo em que tudo parecia muito banalizado, sua música perdeu espaço justo por ser refinada e exuberante. Ele retomaria o bom nível em 2013, quando lançou um belo trabalho: “Condição Humana”. Não por acaso, este álbum marca uma espécie de despedida do artista em relação ao Brasil, tendo ido morar em Ávila, na Espanha. Em 2021, ele voltaria ao disco com o bom “Desordem dos Templários”, no qual investe como nunca nos timbres progressivos e eruditos. Neste anos, Guilherme promete retornar aos palcos brasileiros para várias apresentações. Eu posso atestar: seu show, ao qual compareci em 2013, no Vivo Rio, foi um dos melhores que já pude ver. Uma interminável procissão de sucessos de diferentes épocas, todos enfileirados com naturalidade por um cara que, além de tudo, é avesso ao estrelismo e segue como uma das pessoas mais acessíveis dentro do mundo artístico.

 

 

Elaboramos esta lista personalíssima de 25 canções preferidas dentre tantas maravilhas que Guilherme compôs ao longo de sua trajetória. Muitas ainda ficaram de fora. Ao final, colocamos o link para a entrevista que fizemos com ele por conta do lançamento de “Desordem dos Templários”. Ali está um artista ainda inquieto e cheio de histórias pra contar. Que venham mais 770 anos.

 

 

25 – Um Dia, Um Adeus (1987) – clássico baladão arantiano dos anos 1980, hiperbolizadopor conta da novela “Mandala”. Tocou demais, porém, é uma beleza de canção de amor. Do álbum homônimo de 1987.

 

24 – Babel (1990) – incursão no terreno da música eletrônica, mostrando que Guilherme sempre foi um cara antenado com a modernidade. O resultado é confuso, mas a melodia se impõe. Do álbum “Pão”.

 

23 – Onde Estava Você? (2013) – bela faixa em midtempo do álbum “Condição Humana”, que marcou o retorno de Guilherme ao bom nível de composições e gravações. Arranjo e melodia bem característicos.

 

22 – Pão (1990) – esta canção tem uma letra incomum na obra de Arantes, que leva esta canção para um terreno mais familiar a artistas como Belchior, Lô Borges ou Beto Guedes. Uma pequena jóia perdida. Faixa-título do álbum de 1990.

 

21 – Descer a Serra (Sorocabana) (1976) – pequena lindeza do primeiro disco solo de Guilherme, com direito a um assovio na introdução e melodia alegre, com uma pegada hippie bem típica de seu tempo.

 

20 – Fio da Navalha (1984) – funkão eletrônico produzido por Lincoln Olivetti, com sonoridade bem típica do início dos anos 1980. Foi lançada em compacto e fez parte da trilha sonora da novela “Partido Alto”.

19 – Olhos Vermelhos (1985) – Guilherme teve um “momento tecnopop” em meados dos anos 1980, no qual incorporou elementos rock e uma abordagem que dialogava com o que havia de melhor na música gringa da época. Essa faixa é uma porrada, contida no álbum “Despertar”.

 

18 – Êxtase (1979) – baladão progressivo clássico dos primeiros anos de Guilherme como artista solo. O uso dos teclados é maravilhoso, a melodia é complexa e surpreendente. Do álbum homônimo de 1979.

 

17 – Fã Número 1 (1985) – bela canção menor, contida no álbum “Despertar”, com um arranjo que brinca com timbres rurais e uma melodia bela, que explode num refrão matador, algo que Guilherme parece fazer de olhos fechados.

16 – Brincar de Viver (1985) – esta canção é mais conhecida pela gravação de Maria Bethânia, mas este registro, também do álbum “Despertar”, tem seu valor por conta de seu arranjo singelo. Uma lindeza.

 

15 – Deixa Chover (1981) – uma das canções mais conhecidas da carreira de Guilherme, tem uma citação explícita de “Boogie Wonderland”, do Earth Wind And Fire logo na introdução e um arranjo bacana de piano elétrico. É um clássico, fez parte da ótima trilha nacional da novela “Água Viva”.

 

14 – Cheia de Charme (1985) – outro clássico pop de Guilherme, foi a faixa que puxou o álbum “Despertar” e chegou a ganhar um pioneiro remix pouco depois de lançada, que também alavancou as vendas do álbum “Dance Mix vol.1”, iniciativa pioneira da CBS na época.

 

13 – Planeta Água (1981) – canção que ganhou fama nacional por conta de sua apresentação no Festival MPB-Shell, no qual conquistou o vice-campeonato. As imagens de Guilherme cantando em meio a um Maracanãzinho hipnotizado são épicas.

 

12 – Sob o Efeito de um Olhar (1992) – uma das mais lindas baladas que o homem já assinou, com arranjo maravilhoso e participação do saxofonista Leo Gandelmann. Uma beleza atemporal, fez parte da trilha sonora da novela “Vamp”.

 

11 – Muito Diferente (1989) – outra balada épica, dessa vez com um lindo arranjo de cordas, gravado em Abbey Road. Talvez seja um dos momentos mais intensos da carreira do homem, uma belezura maior que a vida. Do álbum “Romances Modernos”.

 

10 – Pedacinhos (Bye Bye, So Long, Farewell) (1983) – abrindo o Top 10 de preferidas de Guilherme, esta pequena grande canção é um tesouro de beleza. A letra, a citação ao sucesso sessentista “See You In September” (do grupo The Happenings), tudo é perfeito aqui. Faixa do álbum “Ligação”.

 

09 – Ouro (1987) – uma das gravações mais modernas de Guilherme, “Ouro” tem um baixão sintetizado maravilhoso e uma linha de guitarra que emula a melodia de “Human Nature”, sucesso de Michael Jackson. O clipe, exibido no Fantástico na época, mostra nosso herói stalkeando uma mulher nas ruas de Nova York, seguindo o caminho que ela percorre, transformado em …ouro. Também fez parte da trilha sonora da novela “Sassaricando”.

 

08 – Meu Mundo e Nada Mais (1976) – talvez esta seja a canção cartão de visitas de Guilherme, sua obra mais conhecida por quem não é seu fã. Um baladão dilacerante, existencial e sofrido, que está em seu primeiro disco. Também marcou seu tempo como parte da trilha sonora da novela “Anjo Mau”.

 

07 – Coisas do Brasil (1986) – momento neo-bossa de Guilherme, numa onda arejada e litorânea, em parceria com Nelson Motta. Eu costumava cantá-la a plenos pulmões entre 1986/87 e, quando a ouço ainda hoje, sinto um nó na garganta. Uma das mais belas homenagens de um paulistano ao Rio de Janeiro. Do álbum “Calor”.

 

06 – Cuide-se Bem (1976) – uma das canções mais belas que Guilherme já compôs. Tudo é absolutamente perfeito, seja a melodia irrepreensível, seja a letra maravilhosa. Momento de iluminação total. Outra canção de seu primeiro álbum, presente também na trilha sonora de “Duas Vidas”.

 

05 – Lance Legal (1982) – depois de ser vice-campeão do MPB-Shell, Guilherme arremeteu para a década de 1980 com ânimo renovado e muito sintonizado com o pop nacional da época. Essa canção luminosa, por exemplo, poderia ser de Rita Lee, seja pelo arranjo, seja pela letra. Presente em seu álbum homônimo, de 1982.

 

04 – Amanhã (1977) – outro épico com ares progressivos, que Guilherme registrou em seu segundo disco, “Ronda Noturna”. Sua presença na trilha sonora de Dancin’ Days”, como a canção da personagem Julia, vivida por Sonia Braga, trouxe fama nacional. Em 1986, Caetano Veloso fez uma arrepiante versão voz-violão, que vale ser ouvida.

 

03 – O Melhor Vai Começar (1982) – você pode usar esta canção como um teste de caráter para alguém ainda desconhecido. Se a pessoa não se emocionar com a letra ou o arranjo pianístico, não deve ser boa gente. Um dos momentos mais inspirados, luminosos e perfeitos da carreira de Guilherme. Presente em seu disco de 1982 e na ótima trilha sonora da novela “Sol de Verão”.

 

02 – Loucas Horas (1986) – faixa do álbum “Calor”, um dos grandes momentos do Gulherme “tecnopop”, com baixo sintetizado, arranjo aerodinâmico e, ainda assim, com um refrão que comove até uma rocha. Tema perdido de um amor impossível e nunca concretizado do passado. A memória afetiva ainda colabora para esta canção chegar tão alto nesta lista.

 

01 – Marina No Ar (1987) – minha preferida universal de Guilherme Arantes. Tudo é absolutamente perfeito aqui – melodia, letra, arranjo, execução. Tem ares de soft rock dourado, de canção de Burt Bacharach, é uma sucessão de imagens sonoras e visuais de tempos idos. Do álbum de 1987.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “Guilherme Arantes: 70 anos e 25 canções

  • 2 de agosto de 2023 em 14:23
    Permalink

    Os shows do Guilherme Arantes além do repertório impecável ainda tem como bônus a banda com Luiz Carlini na guitarra e Willy Verdaguer no baixo, dois monstros nos seus respectivos instrumentos

    Resposta
    • 2 de agosto de 2023 em 14:32
      Permalink

      E o Willy Verdaguer no baixo.

      Resposta

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *