Grupo francês na vanguarda do futuro que não aconteceu

 

 

L’Imperatrice – Pulsar
40′, 10 faixas
(Microqlima)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

 

Está lá, no dia 26 de março de 2021, na nossa resenha de “Take Tsubo”, o álbum que antecede este maravilhoso “Pulsar”: “o grande lance do L’Imperatrice é a apropriação dos símbolos de um futuro que não aconteceu. De um projeto de modernidade que não se concretizou. Carros voadores, colônias na Lua, o ápice do sonho do pós-guerra que nunca aconteceu.”. Parece que falar sobre os álbuns do grupo francês L’Imperatrice exige, ou melhor, pede, por uma atenção especial ao tempo. Com a chegada deste novo trabalho, fica evidente que os sujeitos têm um fraco por subverter elementos sonoros conhecidos a ponto de torná-los versões alternativas de si mesmos. É como o protagonista do romance “Dark Matter”, que encontra um meio de viajar entre as diferentes dimensões e visita várias realidades alternativas. Aqui, no âmbito da música, é como se o L’Imperatrice tivesse essa mesma fluência e conseguisse criar suas próprias e personalíssimas versões de estilos como a Disco Music, o AOR, o hip hop, tudo tão bonito e legal que quase nos faz esquecer de como esses elementos sonoros são realmente. Estão entendendo?

 

“Pulsar” marca um passo importante na trajetória da banda francesa, que tenta abraçar outras partes do mundo e uma quantidade maior de ouvintes. Não por acaso, foram convidados para o Coachella deste ano e lá fizeram apresentações bacanas, que encantou muita gente, gerando reverberações na mídia americana, algo que significa bastante para artistas alternativos europeus. O fato é que a banda da sensacional cantora Flore Benguigui e do cérebro musical Charles de Boisseguin entendeu que este charme de se apropriar tão facilmente de estilos musicais lhes dá uma vantagem grande num mercado tão competitivo como a versão 2024 da indústria da música. Construindo sua base de fãs através das redes sociais, dos serviços de streaming e de pequenos shows desde meados da década passada, o L’Imperatrice já adquiriu casca e malandragem para buscar esses voos estéticos mais altos. Não por acaso algumas canções de “Pulsar” contam com participações de artistas italianos e americanos, mostrando toda uma diversidade de abordagens e visões.

 

Dentro desse vai e vem temporal, o grupo maneja muito bem elementos novos, como, por exemplo, a Eurodisco, ou melhor, a Italo Disco, caso explícito da viciante “Danza Marilu”, que tem a presença da cantora napolitana Fabiana Martone, exibe um brilho intenso e um refrão que gruda em qualquer mente de modo irreversível. O rapper americano Erick The Architecht surge ao lado da voz finíssima de Flore Benguigui na ótima “Sweet And Sublime”, revestindo de malandragem do Brooklyn o registro polido da moça. O resultado é ótimo, com uma levada rapidíssima e uma linha de baixo gorducha, que induz ao movimento involuntário de pés e mãos. E também tem a presença da cantora americana Maggie Rogers na espacial e elegante “Any Way”, o mais próximo que o L’Imperatrice se permite chegar de uma “lentinha” neste disco.

 

As faixas em que o grupo aparece sozinho também são excelentes. A sequência de abertura do álbum é irresistível, tendo a instrumental e infecciosa “Cosmogonie” como faixa que dá início aos trabalhos. O clima é de spacefunk alternativo, cheio de cordas e elementos milimétricos que vão originar um groove de gente grande que ameaça citar “One More Time”, do Daft Punk, mas vai com vida própria. Com este início, fica fácil para “Amour Ex-Machina” levar adiante o clima de groove no circuito dos bailes das luas de Júpiter, com Flore fazendo algo que faz muito bem: oscilar entre a doçura, a ingenuidade e a sensualidade. “Me Da Igual” é outro chiclete grudento e irresistível, que usa palavras em espanhol como título e mistério principal. O que vem depois é próximo da perfeição e mostra como o grupo vem aprimorando ainda mais a capacidade de criar ótimas canções. “Love From The Other Side”, “Danza Marilu”, Sweet And Sublime” e a fofíssima “Girl”, na qual toda a capacidade de misturar as referências Disco e Pop se mostra total.

 

“Pulsar” prova que o L’Imperatrice vem em franca evolução, burilando melodias, forjando novas fusões de arranjos e construindo sua identidade sonora e visual. Se continuar assim, dominará o mundo no próximo álbum. Quem quer apostar?

 

Ouça primeiro: “Danza Marilu”, “Girl”, “Sweet And Sublime”, “Amour Ex-Machina”, “Me Da Igual”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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