Giant Steps, 60 anos

 

 

 

Hoje, 23 de setembro – 94º aniversário de John Coltrane, a Rhino e a Qobuz Live (nova série semanal de livestream da Qobuz) apresenta um debate online histórico sobre o álbum de 1960 de John Coltrane, Giant Steps, celebrando o 60º aniversário do álbum. A live está marcada para as 17h, horário de Brasília.

Esta conversa aprofundada será transmitida ao vivo em vários canais, incluindo Facebook Live (da página do Facebook da Qobuz USA, bem como da página de John Coltrane), YouTube e LinkedIn, e estará disponível posteriormente para visualização sob demanda. A discussão celebrará John Coltrane e sua marca musical duradoura, com foco na gravação de Giant Steps, seu impacto inicial no lançamento e sua influência e relevância até os dias de hoje. Como uma declaração ousada e revolucionária de um pioneiro afro-americano, Giant Steps inspirou e foi ouvido como parte da trilha sonora da era dos direitos civis; O próprio Coltrane falou de seu desejo de criar música que pudesse alcançar o coração das pessoas, para compartilhar sua mensagem de conexão e amor. Sessenta anos depois, a importância e a estatura do álbum permanecem inalteradas, servindo como uma luz guia para uma nova geração de músicos afro-americanos que buscam fortalecer e elevar sua música em um momento em que é mais necessário.

 

Os painelistas incluem:

 

● Saxofonista e educador Archie Shepp, uma das principais figuras da cena jazz de vanguarda dos anos 1960 e cuja amizade com Coltrane levou a um contrato de gravação e algumas das gravações mais marcantes da era.

● A saxofonista de jazz e R&B Lakecia Benjamin, que se apresentou na posse do presidente Barack Obama, se apresentou com Alicia Keys, Stevie Wonder, The Roots, e seu último álbum, Pursuance, presta homenagem a John e sua esposa, Alice Coltrane.

● Shabaka Hutchings, o celebrado saxofonista britânico e líder de três grupos (Shabaka and the Ancestors, Sons of Kemet e The Comet is Coming), agora assinado com a Impulse Records, o selo que John Coltrane ajudou a tornar famoso.

● O som e o tom da saxofonista chilena Melissa Aldana conquistaram sua ampla aclamação da crítica. Em 2013, ela foi a primeira instrumentista feminina a vencer o cobiçado concurso do Thelonious Monk Institute of Jazz.

Os moderadores serão:

 

● O historiador de Coltrane vencedor do GRAMMY® e professor da NYU Ashley Kahn e autor de dois livros sobre John Coltrane: A Love Supreme: The Story of John Coltrane’s Signature Album, e The House That Trane Built: The Story of Impulse Records

● Escritor / músico Greg Tate, Louis Armstrong Professor visitante no Centro de Estudos de Jazz da Universidade de Columbia e membro fundador do coletivo de música negra The Black Rock Coalition e líder do grupo de música experimental Burnt Sugar.

 

O primeiro disco de John Coltrane para a gravadora Atlantic, “Giant Steps”, completa 60 anos. Está sendo relançado em versão de luxo, com vários takes alternativos, ainda que a íntegra das sessões de gravação, já tenham sido lançadas em 1995. De fato, é um motivo para celebração total, uma vez que “Giant Steps” é um álbum profundamente identificado com seu tempo, mas daquelas obras capazes de transcenderem este recorte e permanecerem pairando sobre nós. Estão num outro plano, numa outra dimensão. Coltrane estava, três semanas antes de finalizar as gravações de “Giant Steps”, encerrando sua participação nas sessões de outro disco definitivo para o jazz: “Kind Of Blue”, uma vez que ele era um integrante da banda de Miles Davis. Ninguém lembra disso, mas o sujeito tocou em dois dos mais importantes álbuns da história da música num espaço de … três semanas.

 

Coltrane morreu em 1967 e sua música mudou muito ao longo deste tempo. Mas algo permaneceu profundamente arraigado: sua identificação com a negritude. Seus discos surgiram como contrapontos não-verbais para as manifestações de afirmação dos direitos civis, oferecendo visões e parâmetros que serviram mais adiante para alimentar a soul music e o funk, que cumpriram tal missão com mais eficácia. Mesmo assim, a presença de Coltrane é absolutamente definitiva. “Giant Steps” foi, digamos, o começo de sua caminhada “a passos largos” para cumprir este destino e sua música em constante evolução chegaria a se tornar essencial para o que se chamou de Black Arts Movement, quando discos como “India” e “A Love Supreme” se afinaram mais com esta visão pan-africanista e de afirmação de identidade negra. John era muito próximo de Malcolm X.

 

“Giant Steps” foi, como dissemos, o começo desta ascensão. É um álbum em que o saxofone soprano solo ganha uma projeção ainda não vista e modifica a dinâmica dos quartetos de jazz, num movimento que dá ao instrumento uma visibilidade que só era dada ao trompete ou aos saxes tenor/alto e Coltrane é o protótipo deste novo instrumentista: criativo, consciente, dotado de incrível capacidade de solar e de impressionante profundidade para compor. Segundo críticos de jazz, “Countdown”, de menos de três minutos, faz mais pela modernidade do jazz do que artistas fizeram em suas carreiras inteiras. Não é à toa que a velocidade que ele alcança em faixas como “Giant Steps”, “Cousin Mary” ou a impressionante “Mr. PC” é compensada pelo lirismo impressionante de “Naima”, composta em homenagem à sua esposa. Com ele estavam Paul Chambers (baixo), Tommy Flanagan (piano) e Art Taylor (bateria).

 

De um jeito curioso para obras tão geniais, “Giant Steps” tem uma acessibilidade muito grande. Não é preciso ser um conhecedor dos meandros do jazz para captar a sua genialidade. Coltrane mostra esta característica intrigante em outros discos de sua carreira, como o intrigante “My Favorite Things”, de 1961; o lindíssimo “Ballads”, de 1962; a colaboração com Duke Ellington “John Coltrane & Duke Ellington”, do mesmo ano e mesmo seu álbum “A Love Supreme”, que marca a transição de seu som para um estilo espiritual e abstrato, que, podemos dizer, foi criado por Coltrane, é possível ouvir e embarcar facilmente na viagem proposta.

 

No final dos anos 1960, quando a era pós-bebop emergiu, John Coltrane ganhou o status de sumo sacerdote do Black Arts Movement. Um forte apoiador do movimento pelos direitos civis, a canção de Coltrane, “Alabama”, escrita em resposta ao atentado à bomba em 1963 na igreja de Birmingham que matou quatro meninas, simbolizava a fusão de sua consciência musical, política e cultural e servia de modelo para o movimento da identidade negra do período. Composições como “Libéria”, “Dahomey Dance”, “Dakar” e “Afro Blue” celebraram uma nova estética negra e liberdade que vinculava expressamente a América africana à África, celebrando assim a imaginação transnacional pan-africanista. Coltrane era reverenciado por uma geração mais jovem de poetas e escritores revolucionários que encontraram conforto e inspiração em sua música.

 

Ele morreu em 1967, por conta de um câncer no fígado, aos 41 anos. Um gênio.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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