Elton John, 73

 

Hoje, Sir Elton John completa 73 anos. Com a popularidade em alta por conta de biografias, filmes (o ótimo “Rocketman”) e, a partir dele, o Oscar de Melhor Canção de 2020 (“I’m Gonna Love Me”), ele merece todos os louros e homenagens. Por conta disso, resgato um texto de fevereiro de 2016, no qual aproveitei um gancho relativo à participação de Elton num álbum do grupo americano The Killers, para falar a um público leitor mais jovem. Lembrem-se: há quatro anos, era preciso isso. Hoje, certamente, Elton é muito mais conhecido e popular que o conjunto de Brandon Flowers.

Link para o original do Monkeybuzz – aqui

 

Há poucos dias, recebemos a notícia de que Brandon Flowers, vocalista pensante de The Killers, vai ter colaboração de Elton John no quinto álbum da banda, ainda sem nome. Algumas pessoas devem ter compreendido totalmente que a conexão entre o Rock adornado por batidas dançantes do grupo americano, bem como seus exageros de procedência Glam e certa vocação dramática têm muito a ver com a música e a própria persona artística de Sir Elton. Imagino, no entanto, que a maioria de admiradores de The Killers tenha estranhado a proximidade entre eles e um dos artistas que seus pais, talvez avôs admirem bastante. Faz sentido, gente. Calma.

 

Elton é um ícone Pop incontestável. Sua carreira é enorme, sua contribuição para a formatação de um certo tipo de balada luxuriante, arranjada com orquestras e naipes de metais e sopros, é decisiva e podemos dizer, sem medo de exagerar, que ele tem talento equivalente ao de outro baladeiro tradicional: Paul McCartney. Mesmo assim, a figura espalhafatosa e exagerada de Elton contribuiu para que se erguesse em torno dele um certo preconceito/implicância com estes excessos teatrais. Claro, é uma bobagem, porque, mesmo em seus momentos menos inspirados (a década de 1980, por exemplo), John foi capaz de compor e gravar sucessos de vendagem e execução ao redor do mundo. Podemos dizer que, se seus anos 1980 são fracos, Elton passeia feliz no hall dos mais importantes artistas dos anos 1970, além de experimentar uma carreira sólida, cheia de discos consistentes, de meados dos anos 1990 para cá. Além disso, o sujeito tem talento para compor canções que vão parar nas telas dos cinemas: por exemplo, Circle Of Life, abertura antológica de O Rei Leão, é de sua autoria, isso para citar apenas um caso de composição famosa do sujeito.

 

Brandon Flowers mencionou na ocasião uma familiaridade grande com o trabalho mais clássico de Elton, lançado até 1976, quando ele era um dos donos das paradas Pop. Sua música tem origem na admiração total que ingleses tinham (e ainda têm) pela canção americana oriunda da intersecção entre R&B, Blues e o início do Rock, com especial influência de gente como Little Richard e Jerry Lee Lewis, de quem o jovem Reginald Dwight (seu verdadeiro nome) herdou a transgressão e o gosto pelo piano. Tendo iniciado a carreira ainda bastante cedo, aos 21 anos, Elton já havia encontrado seu grande parceiro de composição, o letrista Bernie Taupin. Podemos dizer que, entre 1968 – quando ele lança Empty Sky, sua estreia, até 1976, com Blue Moves, meio ao vivo, meio inédito, Elton teve seu apogeu. São inúmeras canções, muitos sucessos e alguns álbuns fabulosos. Tumbleweed Conection, terceiro disco, de 1970, evoca o clima do Velho Oeste para servir de pano de fundo para baladas torturadas e sensibilíssimas, como My Father’s Gun, Burn Down The Mission e Amoreena ou músicas híbridas, meio nervosas e intensas, como Son Of Your Father. Antes delas, no segundo álbum, homônimo, lançado meses antes, Elton já dera provas fortíssimas de talento com seu clássico Your Song.

 

Pouco mais de um ano depois, Elton John lançaria outro trabalho inestimável, Madman Across The Water, que chegou ao mercado de discos baseado num conjunto impressionante de belas composições, como Tiny Dancer, Levon ea faixa-título, preparou o terreno para o sucesso planetário que viria com o trabalho seguinte, Honky Chateau, de maio de 1972. Um de seus maiores êxitos está presente, Rocket Man, que contava a história de um astronauta refletindo sobre viver em Marte com a esposa e se perguntando, entre outras coisas, se valeria a pena criar seus filhos por lá. Uma olhadela com mais atenção irá revelar a sincronidade com outro ícone Pop, David Bowie, em sua fase Ziggy Stardust, na qual encarnou um personagem alienígena durante bom tempo, marcando as mentes dos jovens fãs de Rock. Elton incorporava as tendências do exagero Glam da mesma forma que Bowie, mas com diferentes resultados e um pé mais fundo no Pop que no Rock. Esse senso fez com que ele começasse a criar uma base de fãs, que consumia a obra de um artista moderno, iconoclasta e talentoso, sem precisar ouvir guitarras altas e conceitos mil.

 

A criatividade da dupla Elton/Bernie seguia a todo vapor, com periodicidade impressionante, levando menos de um ano entre os álbuns lançados. Não foi diferente quando soltaram o sensacional – e subestimado – Don’t Shoot Me I’m Only The Piano Player em janeiro de 1973, contendo a clássica Daniel com faixa de abertura. A homenagem a The Beach Boys, Crocodile Rock, também fez sucesso em todo o mundo, preparando o terreno para aquele que seria o disco mais conhecido de Elton John em toda a sua carreira: Goodbyew Yellow Brick Road, a ser lançado nove meses depois do antecessor. A faixa-título invadiu as rádios do planeta, mostrando que o sujeito tinha talento para agradar a juventude, que estava atrás de ídolos espalhafatosos e moderníssimos, bem como seus pais, que desejavam ouvir uma canção mais lenta, tradicional. Candle In The Wind, Bennie And The Jets, Funeral For A Friend, Harmony, entre outras, são exemplos de hits deste trabalho, que serviu para confirmar Elton como um superastro do Pop. Era difícil encontrar uma residência que não tivesse um álbum dele em suas respectivas coleções de discos. Essa fase assombrosa de criatividade e sucesso ainda abrangeria três outros lançamentos: Caribou (1974), Captain Fantastic (1975) e Rock Of The Westies (1976), sendo os dois primeiros ainda pródigos em hits para as paradas de sucesso.

 

A partir daí, até fins dos anos 1980, o cantor e pianista experimentaria uma montanha russa de altos e baixos, o que não o impediu de, pelo menos, ter um sucesso por disco, mesmo que a qualidade de ambos não fosse lá essas coisas, caso de Nikita, faixa que figurou no fraco Ice On Fire, de 1985. Ou a boa I Don’t Wanna Go On With You Like That, do morno Reg Strikes Back, de 1988. Ainda assim, neste meio tempo, John soltou trabalhos muito respeitáveis, como Too Low For Zero (1983) e Breaking Hearts, do ano seguinte. Problemas com drogas, questões referentes à homossexualidade – assumida tardiamente por Elton – quase o levaram à morte. Ele resistiu, largou os modernismos de lado e abraçou seu formato mais tradicional de canção a partir do sucesso Sacrifice, de Sleeping With The Past, álbum de 1990. Dois grandes trabalhos recentes merecem sua atenção: Songs From The West Coast (2003) e Peachtree Road(2004), mais tradicionais e tributários do passado clássico do cantor. Seu novo disco, lançado há pouco, Wonder Crazy Night, recupera algo da alegria e irreverência, sumidos há muito tempo da paleta de cores de Elton, contrastando com o belo e confessional Diving Board, lançado em 2013.

 

Dono de carisma impressionante, ainda capaz de criar arte instigante e detentor de um dos mais recheados catálogos da música popular, Elton John é verbete obrigatório na música. Não espanta que gente como The Killers o procure para revestir a trajetória de relevância e conhecimento de causa. Podemos dizer que, pelo menos, na pior das hipóteses, economizando tempo e audições, os discos lançados por Elton até 1975 são obrigatórios. Simples assim.

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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