André L.R Mendes e as Casas Brasileiras
André, pra quem não sabe ou lembra, é o vocalista, guitarrista e compositor da Maria Bacana. O grupo baiano foi figurinha fácil no rock nacional da segunda metade da década de 1990, quando lançou disco pelo selo de Dado Villa-Lobos, o Rock It, e se posicionava como uma futura promessa que já havia chegado. Mesmo que a banda não tenha decolado completamente, deixou fãs fiéis e um legado que foi revisitado recentemente, quando a formação original retomou atividades e lançou um disco novinho, “A Vida Boa Que Tem Os Dias Que Brincam Leves”.
O cérebro da banda, no entanto, nunca deixou de compor e gravar. André é um dos solitários guerreiros do rock alternativo nacional, compondo e lançando discos por contra própria, no peito e na raça. Seu trabalho é emocional e crítico, ele tangencia o rock, o folk e, mais recentemente, como todo músico que entende o tempo em que vive, a eletrônica, especialmente como elemento facilitador de expressão. Não só isso: André, além de compor um Ipad, entendeu o quanto que os blips e tóins podem acrescentar ao seu trabalho, sem que precise abrir mão dos elementos mais tradicionais.
Agora, como prova disso, ele lança um EP intitulado “Casas Brasileiras”, que consiste de seis faixas: uma inédita e cinco regravações. A ideia por aqui foi rearranjar as canções de modo que ficassem restritas ao básico, ou seja, uma voz e um instrumento, no caso, a guitarra ou o violão. Entre elas, está “Telefonema”, do último trabalho da Maria Bacana, mencionado lá no início do texto. A faixa-título é um quase samba caetânico, com brincadeira de sons e palavras e algumas regravações ficaram tão boas quanto os originais, especialmente “Conselho”, que ganhou muito com o arranjo econômico de voz/guitarra.
André lança um novo disco em 2020, com o título já definido de “Rei dos Animais”. Seu trabalho é garantia de belezura e honestidade. Ouça logo.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.