Deep Purple – Whoosh!

 

 

Gênero: Rock

Duração: 51 min.
Faixas: 13
Produção: Bob Ezrin
Gravadora: Edel/Earmusic

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Pouca gente além dos muitos fãs do Deep Purple deve saber que a banda segue em atividade. E ainda menos gente deve imaginar que esta cinquentenária formação britânica vive um momento de brilho e reinvenção pelas mãos do produtor Bob Ezrin. Só pra termos uma ideia, este jovem senhor já assinou discos de gente tão distinta quando Lou Reed, Peter Gabriel, Kiss e Pink Floyd, só pra citar alguns. Desde 2013, Ezrin vem trabalhando com o Purple e este ótimo “Whooosh!” é a terceira colaboração das partes. É também o mais bem acabado, leve e fluido dos três álbuns (os outros são “Now What?”, de 2013 e “Infinite”, de 2017). Mas não é só mérito de Bob, o próprio Purple está, como se dizia antigamente, “na ponta dos cascos”, com fome de bola e tesão pelo estúdio. O resultado não poderia ser outro.

 

Se você é um desses fãs empedernidos da banda, já aviso que não há nenhuma canção épica, pesada, longa, dramática por aqui. O que “Whooosh!” traz é uma coleção de treze faixas medindo menos de cinco minutos – duas exceções a esta marca, apenas – e com um entrosamento telepático entre os músicos que estão na banda há eras. Roger Glover, Ian Paice e Ian Gillan estão juntos há mais tempo que o Cometa de Halley leva para dar a volta em torno do sol. E Don Airey e Steve Morse, os mais “novatos” presentes, já estão por aqui há tempos. Sendo assim, está tudo mais do que bem pensado e definido. E há uma novidade: o Purple, esta banda vetusta e séria, está se divertindo nas canções, a ponto de ser perceptível.

 

Exemplos? De cara a abertura com “Throw My Bones” já apresenta o parâmetro do álbum. Há groove, há ênfase nas características marcantes, mas há leveza e esperteza pop por aqui. A progressivice pop de “Nothing At All”, que tem solo inspirado de Airey no teclado, emulando os bons tempos de Jon Lord, enquanto a banda sustenta um andamento simples, pontuado pelo belo riff de guitarra que Morse ergue no fundo da sala. “Step By Step” tem início que parece saído da trilha sonora da Família Addams, mas engata logo uma levada lenta e tranquila que será pontuada pelo bom uso do órgão e pela bateria enxuta e segura de Paice, o único integrante original da atual formação. “Drop The Weapon” é outro bom exemplo de canção com acento pop invejável, cheia de levadas aerodinâmicas e boa performance vocal de Gillan.

 

Quando você pensa que o Purple já deu provas suficientes de diversão/criatividade renovada, surge a trovejante “What The What”, um rockão clássico e cheio de tecladices e andamento que emula os pais fundadores do estilo. Tudo com cara de diversão e felicidade incontida. E lá para o fim do álbum tem uma canção progressiva/espacial, que lembra alguma coisa dos anos 1970, algo feito com vistas a lembrar de outra época, mas que soa totalmente 2020. “Whooosh!” é quase uma peça a ser pregada nos fãs mais desavisados. É um disco jovem, divertido e rápido, o contrário do que eles estão esperando. Gosto.

 

Deep Purple pode ser meio anacrônico hoje em dia, mas eu asseguro que este “Whooosh”, caso fosse lançado por alguma banda do nosso tempo, seria saudado como a descoberta da roda/chegada do messias. Ouça e caia dentro.

Ouça primeiro: “Nothing At All”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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