Jay Som – Anak Ko

 

Gênero: Pop, rock alternativo
Faixas: 9
Duração: 34 min
Produção: Melina Duterte
Gravadora: Lucky Number

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Lembra do New Radicals? Era um grupo de uma pessoa só, o multimúsico Greg Alexander, que surgiu em 1999 com um álbum chamado “Maybe You’ve Been Brainwashed Too”, e fez muito sucesso. A receita era simples e difícil: um pop perfeito para seu tempo, misturando rock alternativo da virada do milênio com influências oitentistas e composições que beiravam a perfeição em termos de ganchos melódicos, arranjos, refrãos…Assim como veio, New Radicals sumiu do mapa, mas Alexander continuou compondo canções para trilhas sonoras e outros projetos. Assim é Jay Som, 20 anos depois. Só que há algumas diferenças significativas por aqui, que tornam “Anak Ko”, segundo disco da banda de uma pessoa só, um dos grandes lançamentos deste ano.

 

Quem comanda tudo por aqui é Melina Duterte, californiana de ascendência filipina. A menina faz absolutamente tudo: compõe, toca, canta, grava, arranja, produz, pilota estúdio e ainda chama alguns músicos para complementar a tarefa. “Anak Ko” significa “minha criança” e é como Melina era chamada por sua avó. O disco vem impregnado desta sensação afetuosa, transposta para o cuidado com as melodias perfeitas e a própria visão de Melina a respeito de arranjos e concepção musical. Dá pra citar influências de gente tão distinta como Alanis Morrisette, Cocteau Twins e Prefab Sprout em vários momentos do disco, algo que mostra ouvidos atentos, democráticos e capazes de captar detalhes interessantes do que percebem.

 

Mas não é só isso. Há um senso se coesão presente no álbum, algo que mostra um espírito de banda, de coletividade, que dá um charme especial a “Anak Ko”. “Superbike”, a segunda faixa, parece uma gravação do Cocteau Twins que sobrou de “Heaven Or Las Vegas”, um baita dum elogio, convenhamos. Os vocais de Melina jamais chegam aos pés do que Liz Fraser fazia em sua banda, mas a intenção e a homenagem são evidentes e afetuosos. Em “Nightime Drive” surge uma melodia linda, com violões e guitarras dedilhados, abrindo espaço para novamente Melina brincar no terreno das grandes vozes agudas, mas com um mais de contenção desta vez. “Tenderness” é um assombro total, lembrando Prefab Sprout, com direito a programação de bateria intencionalmente datada dos anos 1980 e arranjo que vai liberando instrumentos pouco a pouco, gerando clima e expectativa. Uma beleza.

 

A faixa-título é uma impressionante balada, soturna, melodiosa, com voz que parece ter sido gravada no escuro. Novamente os instrumentos vão entrando aos poucos, trazendo ainda mais beleza. “Crown” é outro achado, com teclados que caem uma linha de baixo/guitarra que lembra alguma coisa alternativa dos anos 1990, mas com mais doçura e fragilidade. “Get Well” encerra o disco com mais acenos ao Cocteau Twins, porém, há mais influências presentes na canção, como, sim, pop-country dos anos 1960, que chega em guitarras dedilhadas e cheias de efeitos chorosos.

Ficamos na torcida para que Melina/Jay Som não suma após este disco. Sua verve para a música pop é notável, sua capacidade de resumir influências e misturar procedências é surpreendente e seu talento é inegável. “Anak Ko” é um dos grandes discos deste 2019 e você não pode deixar passar.

Ouça primeiro: “Tenderness”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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