Chromeo tira o atraso em novo álbum

 

 

 

 

Chromeo – Adult Contemporary
55′, 14 faixas
(BMG)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

 

A história da música pop está cheia de casos como o do duo Chormeo. Quando surgiram, lá por 2004/05, Patrick “P-Thugg” Gemayel, e David “Dave 1” Macklovitch, acharam uma boa ideia misturar as batidas do hip hop com uma certa incursão ao passado da música pop americana, especialmente o chamado “adult contemporary” do início dos anos 1980, a saber, canções polidas e bem produzidas na época, por gente como Michael McDonald, Steely Dan e Hall And Oates” para citar poucos e bons. Inauguraram uma sonoridade que foi extensivamente copiada e que, em última instância, fez o Daft Punk se reinventar em 2013, quando lançou seu último e aclamado álbum, “Random Access Memory”, no qual se esbaldou nessa abordagem. Tudo bem, não dá pra achar que os robôs franceses plagiaram algo, até porque, a busca por melodias oitentistas também norteou seu trabalho, mas, a incorporação do imaginário americano, via Los Angeles, numa coisa meio “A Super-Máquina” sonora, foi, sim, percebida primeiro pelo Chromeo. Mas, como dizíamos, é algo recorrente na música pop os descobridores/inventores de algo ficarem para trás. E se o Daft Punk ganhou prêmios, fama e fortuna – merecidos – com seu disco de 2013, o Chromeo não despontou. E segue tentando, agora com este novo e ótimo “Adult Contemporary”.

 

Nestes anos que vieram, o Chromeo fez bons discos, mas, exceto pelo segundo álbum, “Fancy Footwork”, cuja canção-título é uma de suas maiores criações, não conseguiu decolar em termos de sucesso de público. Viu bandas como Maroon 5, que também dialogam no terreno do pop dançante com ascendência funk, ultrapassarem com facilidade, o que levou o duo a perder a força aos poucos. Claro que o Chromeo não desaprendeu o que chegou a fazer, mas talvez a safra de canções não fosse das melhores, vá saber. O fato é que os sujeitos investiram numa boa onda de remixar canções alheias, chegando até a dar nova vida e dotar de sentido uma canção do próprio Maroon 5, “Wait”, da qual se apropriaram com um remix sensacional, feito em 2018. “White Women” (2014) e “Head Over Heels” (2018) foram álbuns que ficaram devendo e o Chromeo meio de que sumiu das vistas. A pandemia da covid-19 mostrou que o duo seguia ativo, produtivo e, por questões curiosas, deu uma força criativa considerável, resultando em vários singles e EPs lançados entre 2020 e 2022.

 

O que nos leva a esse ótimo “Adult Contemporary”, que assume definitivamente o duo como um artista de AOR, ou seja, um integrante recente desta tradição de produtores e realizadores de ótimas canções, a partir da segunda metade da década de 1970, adentrando pelos anos 1980 e indo além. Não há momento perdido ao longo das 14 faixas do álbum, todas meticulosamente criadas, arranjadas e produzidas tendo em vista a perfeição pop dos anos 1980. Se você acha sensacionais as incursões de The Weeknd neste terreno, prepare-se para quase uma hora de faixas redondíssimas, com tudo no lugar e arranjos que se esbaldam em linhas de baixo borbulhantes, timbres de teclados geladinhos, baterias orgânicas e eletrônicas a serviço da melodia e guitarrinhas em chacundum constante, na mais interessante tradição funk polido, de gente como Michael Jackson fase “Thriller” e similares. É um bailinho.

 

Se a gente reclamou de canções não tão legais no histórico do Chromeo, precisamos saudar a ótima forma do duo em “Adult Contemporary”. Ainda que todas as faixas sejam à prova de falhas, em algumas eles atingem o mesmo patamar de quem o inspirou. “BTS”, por exemplo, é um funk aerodinâmico, cheio de detalhes de teclados, cordas, batida irresistível, que poderia estar num álbum de Ray Parker Jr, de 1983. “Replacements”, com participação de La Roux, é um duetaço pop romântico e dançante, com bateria timbrada com maestria dos que conhecem do assunto. Os teclados são na medida e a melodia convida à dança de forma irresistível. “Ballad Of The Insomniacs” é outra lindeza total, com mais teclados em brasa, baixo gorducho e borbulhante, tudo adornando mais uma melodia perfeita e ganchuda. E a melhor faixa do álbum, “Words With You” tem guitarrinhas à la Nile Rodgers, ritmo mais cadenciado e poderia estar numa daquelas compilações “Top Hits 1982”.

 

Não se engane pensando que “Adult Contemporary” é um disco de nostalgia. É mais uma atualização de um estilo que só faz crescer entre músicos e público millennial. Tudo é bem feito e pop por aqui. Não resista.

 

 

Ouça primeiro: “BTS”, “Ballad Of The Insomniacs”, “Word With You”, “Replacements”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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