Castello Branco – Sermão

 

Gênero: MPB, alternativo
Duração: 42 minutos
Faixas: 11
Produção: Ruben di Souza
Gravadora: Independente

4 out of 5 stars (4 / 5)

“Sermão” é o terceiro trabalho do carioca Castello Branco, encerrando assim uma trilogia aberta com sua estreia, “Serviço”, de 2013, e ampliada por “Sintoma”, em 2017. Ele tem vários méritos como artista, mas um deles é ser um cara adepto da “canção fácil”. O que é isso? Castello faz algo bem difícil: compõe melodias e letras que grudam ou que têm potencial grudento inegável. Isso é uma das bases da música popular, sabemos bem, mas não é algo simples de fazer. Castello tem as manhas, como dizem por aí. O cara passa sua mensagem, apresenta arranjos e ótimas sacadas e, como bônus luxuoso, o ouvinte sai cantando suas criações. “Sermão” (que foi viabilizado por conta do edital 2018 da Natura Musical) é um ramalhete de onze belezuras prontas para você ouvir e cantar. Simples.

 

Quer dizer, nem tão simples assim. Parece que fazer melodias assoviáveis é fácil, certo? Não. Castello incorpora em sua musicalidade pop alguns tons de reggae, alguns tons de rock, algo híbrido, porém muito familiar, além de não abrir mão do que a gente – críticos chatos – chama de “ensolarado”. São melodias de espectro amplo, desejando um dia azul com vista para o mar, mesmo que você more no interior. As letras, bem, elas são bem encaixadas para que contenham mensagens importantes em tempos como o nosso, dispondo- se gentilmente para alimentar coros e corais por aí. Veja, por exemplo, “Geral Importa”, a segunda faixa: “quanto mais real, mais lindo, feio é quem se engana”. Ou em “Powerful”, com o belo verso: “eu te amo que chega a dar gastura te ver”. É tudo possível e passível de ser dito.

 

É digna de nota a beleza da produção que Ruben di Souza oferece ao disco como um todo e a algumas canções em especial. Na já citada “Geral Importa” há um belo coro de vozes femininas. Aliás, este é um traço do disco como um todo, vozes de mulheres vindo de vários cantos das canções, sem aviso, harmonizando com o vocal afetuoso de Castello. Em “Fortaleza” ele sentencia: “não existem regras para amar alguém”. E adianta: “te reconheço sem saber quem você é”. Ou seja, ele canta o respeito ao próximo, às individualidades, entendendo que elas nos fazem humanos e distintos, transmitindo algo bastante sério num refrão, num verso, num arranjo facilmente assimilável. E isso é bem bacana e o coloca numa posição de destaque no que se chama de “nova MPB”.

 

Há algo de Nordeste em algumas passagens. A discreta percussão e a sanfona de “De Pouquinho em Pouquinho” e o reggaezinho de “Juntos Com Certeza”, oferecem novas nuances ao longo do percurso musical. Mas também tem algo de pop brasileiro mais clássico, especialmente em “Eu Ouço”, novamente com destaque para o coral de vozes femininas. “Cola Comigo” já tem uma onda mais acústica e contemplativa, com algo que poderia ser herança do “Clube da Esquina”, com versos que enfatizam o companheirismo: “se você precisar eu tô com você. Se o medo apertar, cola comigo, a coisa tá feia mas eu enxergo lindo”. “Back to Myself” também é lenta e delicada, mas já vai por outros caminhos, algo mais bossanovístico, difuso. Fechando o álbum, as lindas “Pãma” e “Uma Flecha pro Futuro”, esta última enfatizando o otimismo do disco, confiando no relacionamento e no amor ao próximo como meio de driblar o tempo ruim de hoje.

 

“Sermão” é um conjunto de mensagens musicais. Na capa, Castello aparece numa sala de aula, em frente a um quadro negro vazio, sugerindo o ambiente de aprendizado e iluminação – afinal, “aluno”, significa “aquele que ainda não foi iluminado”. É um disco com mensagens explícitas e outras nem tanto, transmitidas com atenção aos bons formatos da pop music atemporal, porém, que faz questão de soar inovadora e tradicional ao mesmo tempo.

 

Ouça primeiro: “Cola Comigo”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *