Rock In Rio 2019 – Paralamas do Sucesso

Cobertura especial, direto da Cidade do Rock

 

O show padrão dos Paralamas é sempre uma experiência legal. É quando dá pra ver claramente que a banda de Herbert, Bi e Barone, mais João Fera, é a única remanescente dos anos 1980 a manter mais ou menos a qualidade. Sabemos que os últimos discos não contam, que o acidente de Herbert conta – e muito – nesta análise. O que eles fizeram antes de 2001 os credencia para ocupar o primeiro lugar no pódio sozinhos, sem concorrência.

 

Dito isso, há sempre o fator extra-campo, como diriam os analistas mais ponderados. E aqui isso pesou. O som estava embolado e a própria banda não parecia exibir o mesmo entrosamento de sempre. Herbert esteve mais desafinado do que comporta a nossa tolerância para com esta característica de seu canto. Barone e Bi, perfeitos como sempre, e o naipe de metais soou meio fora de lugar em muitas passagens, como, por exemplo, na introdução do arranjo MTV Unplugged de “A Novidade” ou na explosiva “Alagados”. O que salva nessas horas é o talento de Vianna como guitarrista, seguramente o melhor de sua geração. Ainda assim, vieram versões mornas de “Meu Erro”, um medley frouxo de “Calibre” com “Selvagem” e “O Beco”, todas canções como força suficiente para surgirem completas. Também esteve presente a chatíssima “Lanterna dos Afogados” e um outro medley, mais habitual, fundindo “Gostava Tanto de Você” e “Você”, sucessos de Tim Maia, prejudicado sensivelmente pelas desafinadas do cantor.

 

Herbert se referiu ao Brasil como “um país de quinto mundo” ao mencionar o brilhantismo das equipes de som e estrutura do Rock In Rio, fala temerária nos tempos atuais, em que o país vem sofrendo com um desmanche de sua imagem interna e externa. Tal atitude destoa do conteúdo de letras cantadas e compostas pelo próprio, em momentos anteriores ao acidente que o confinou a uma cadeira de rodas. Hoje, no Rock In Rio, 2019, os Paralamas derraparam feio. Nem a memória afetiva do Santo Agostinho 1983 salvou.

 

Setlist

Sinais do Sim
Meu Erro
Alagados
Lourinha Bombril
Cuide Bem do seu Amor
Calibe, Selvagem, O Beco
Aonde quer que eu vá
Você, Gostava Tanto de Você
A Novidade
Melô do Marinheiro
Lanterna dos Afogados
Calidoscópio
Uma Brasileira
Ska
Vital e sua moto
Óculos

 

Foto: Adriana Vieira

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “Rock In Rio 2019 – Paralamas do Sucesso

  • 7 de outubro de 2019 em 14:54
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    Sou admirador – bem, dá para dizer “fã”, embora eu deteste comportamentos fanáticos – dos Paralamas. Respeito eterno. E só estou escrevendo aqui para dizer que… concordo com grande parte da resenha (achou que vinha ofensa virulenta?).

    Embora não me tenha parecido desastrosa, eu acho que a apresentação foi… normal. Nada excelente nem constrangedor. Passou em branco. A apresentação feita cá em SP, em julho, foi melhor. É pouco, para uma banda que granjeou o respeito que os três granjearam. Aliás, diante da resenha feita aqui sobre o show dos Titãs no festival, fica uma sugestão de tema a ser abordado: por quê os Paralamas escapam da dureza e do revisionismo que avaliam hoje em dia, de modo até punitivo, outros grupos da mesma geração? Ninguém fica falando que os Paralamas constrangem, “já eram”, como falam a respeito dos Titãs.

    Só para colocar uma discordância: acho que o “quinto mundo” de Herbert Vianna foi supervalorizado. Ponho na conta das “viagens verbais” que ele vez por outra comete – sabe-se que os “rumos opinativos públicos” da banda, pós-2001, ficaram para João Barone.

    Nem apareço por este Célula Pop todos os dias, mas vez por outra estou lendo. Parabéns pelo trabalho.

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    • 7 de outubro de 2019 em 15:15
      Permalink

      Rapaz, eu sou admirador da banda desde 1983. Cresci ouvindo Paralamas, quase morri junto com o Herbert em 2000 e pensei que nunca veria um show ruim dos caras. Fiquei triste com essa apresentação deles no RIR, uma pena.

      Resposta

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