Soul Asylum – Hurry Up And Wait
Gênero: Rock alternativo
Duração: 46 min.
Faixas: 13
Produção: John Fields
Gravadora: Blue Elan Records
Lembram do Soul Asylum? Aqui vai um resuminho: banda de Minessota, de origem punk oitentista, cultivou audiência fiel no underground universitário americano ao longo dos primeiros anos. Fez sucesso a partir de 1992, quando lançou um disco chamado “Grave Dancers Union”, através da ótima canção “Runaway Train”. A faixa tocou em rádios brasileiras e teve clipe estouradíssimo na filial local da MTV, tornando o grupo conhecido de sua audiência na época. Depois de outros dois trabalhos nos anos 1990 – “Let Your Dim Light Shine” e “Candy From A Stranger” – este público perdeu o Soul Asylum de vista e ele se tornou uma dessas bandas meio sem eira nem beira, conhecidas por um sucesso apenas, quando, na verdade, manteve-se ativa e operante, ainda que com menos intensidade. Esta é a história dos caras, especialmente de David Pirner, único integrante fundador ainda presente, cérebro pensante e dono da inspiração deste bom “Hurry Up And Wait”, lançado agora.
O Soul Asylum tem dois registros sonoros: a fase punk, do início de carreira e esse amálgama folk-rock alternativo que imprimiu a partir de 1992 e este novo trabalho – assim como todos lançados após aquele ano – carregam na segunda variação. “Hurry Up…” é um compêndio de 13 faixas calcadas em variações sobre as possibilidades desta misturinha, com momentos mais pesadinhos e outros mais baladeiros. Pirner, além de dono da banda, é um bom compositor pop/rock e tem noção do que fazer para satisfazer o público da banda. Ele se sai bem na tarefa e oferece reflexões sobre o amor perdido, a passagem do tempo, a impossibilidade de ver e aproveitar a vida como antes. Do alto de seus 56 anos, ele é um velho jovem com saudades de tempos idos, algo que é altamente passível de identificação com um grupo grande de pessoas que vagam pelo planeta sem muita ideia do que fazer neste início de século.
A produção é de John Fields, que pilotou o estúdio nos últimos três discos que a banda lançou, algo que vem fazendo com regularidade quadrienal. Nada os difere muito entre sí, servindo mais como atestados de vida/sobrevivência da banda do que qualquer outra coisa. Com Ryan Smith, Winston Roye e Michael Bland ocupando as posições de guitarra, baixo e bateria, respectivamente, a formação atual do Soul Asylum é perfeitamente capaz de reproduzir o imaginário sonoro dos tempos idos, mandando bem nas baladinhas ou sabendo pesar a mão quando é necessário.
Dentre as novas faixas, várias delas têm potencial radiofônico, caso ainda houvesse rádio por aqui. Elas seriam figurinhas fáceis em programações de emissoras com um mínimo de visão. A levada harmoniosa de “Here We Go” mostra bem a média das canções, com suas guitarrinhas byrdianas. A faixa de abertura, “The Beginning” tem o clima noventista à flor da pele, juntando timbres mais e menos pesados. “If I Told You” já vai na mesmíssima onda de “Runaway Train”, incorporando o ideário folk alternativo americano à la REM fase “Out Of Time” em meio a uma melodia bela e simples. E “Freezer Burn” é mais pop e ritmada, com bateria interessante e riffs de guitarra criativos.
“Hurry Up And Wait” poderia ser lançado em 1996 que ninguém notaria a diferença. Se isso é bom ou não, vai do gosto do freguês.
Ouça primeiro: “Here We Go”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.