Britti é voz promissora do soul moderno

 

 

 

 

 

 

Britti – Hello, I’m Britti
38′, 11 faixas
(Easy Eye/Concord)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

Dan Auerbach deve ser um cara que se realiza profissionalmente. Quando não está tocando guitarra e cantando no Black Keys, ele abre espaço para artistas que curte em sua gravadora Easy Eye Sound, produzindo e compondo para a maioria deste cast. Entre veteranos e revelações, esta prática já rendeu ótimos álbuns de gente tão diversa como o cantor Cee-Lo Green, o veterano bluesman Robert Finlay e novidades, como a inglesa Yola e o guitarrista Marcus King. A mais nova integrante desta família é Brittany Guerin, cantora de Nova Orleans, com vocais e palheta sonora voltada para o soul pop elegante de FM, produzido na virada dos anos 1960/1970. Esta é a grande área histórica que Auerbach ama, na qual ele consegue compor e decalcar vários elementos estéticos bacanas. Brittany, que atende pelo simpático nome artístico de Britti, está lançando seu primeiro trabalho, “Hello, I’m Britti”, com produção e parceria de Auerbach.

 

É aquele tipo de disco que não oferece nenhuma novidade caso você já seja veterano/a nesta sonoridade. Mas, se você não é, ele pode ser a porta de entrada para momentos mais elevados musicalmente, com arranjos bacanas de metais, cordas e teclados, sem falar na ótima cozinha do Easy Eye Sound, composta por raposas felpudas de estúdio e músicos malandros e matreiros recrutados pelo próprio Auerbach, que também gosta de se espalhar nas guitarras. Sendo assim, tem muito de Dusty Springfield, Diana Ross, Minnie Ripperton e Roberta Flack em várias passagens das onze faixas, mas Britti consegue usar essas referências como inspirações, não imitando ou reproduzindo o estilo dessas monstronas sagradas. E a voz dela tem um frescor pós-adolescente que oscila entre o vulnerável, o doce e o sexy, funcionando bem nesses três setores tão diferentes, porém interligados.

 

Outro ponto forte do álbum é a quantidade de belas canções. Compostas por Britti e Auerbach, todas têm ganchos melódicos e belezuras nos arranjos, nos quais, repito, o produtor exercita seu amor pelo pop elegante daquele tempo, tendo em vista a acessibilidade das faixas, que tocariam certamente no rádio caso esta prática ainda fosse como era antes. A voz de Britti plana elegante sobre as melodias e interpreta as letras com dedicação, conferindo sinceridade para as letras sobre desilusões amorosas e relacionamentos em geral. A interpretação é boa, mas pode melhorar. Destaques absolutos ficam por conta da lindeza absoluta dos singles “Nothing Compares To You” e “Lullaby”, sendo que esta última é uma realização especialmente bacana, sobretudo no arranjo.

 

Além delas, “Reach Out” e “Still Gone” também são cheias de climas e detalhes bacanas de escolha de instrumentos e intensidade vocal. Britti já apresenta um belo cartão de visitas sonoro, seja pela parceria com Auerbach, seja pela qualidade do que oferece ao ouvinte. Ainda muito jovem, esperamos que ela tenha muito caminho pela frente, adquirindo a calibragem que só a vida e as vivências oferecem a quem se arvora a cantar esse tipo de canção. Ouça.

 

 

Ouça primeiro: “Still Gone”, “Reach Out”, “Lullaby” e “Nothing Compares To You”.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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