Você conhece a banda mais bacana da Suécia?

 

 

 

 

 

Dina Ögon – Orion
30′, 9 faixas
(Playground Music)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

Qual é o grande barato do Dina Ögon? É uma banda que tem pouquíssimo tempo de estrada – começou em 2021 – e consolidou sua sonoridade no ano passado, quando lançou seu segundo álbum, “Oas” (que entrou na nossa lista de melhores de 2023). Se o grupo começou como um duo, formado por Anna Ahnlund e Daniel Ögren, foi com a chegada de Love Örsan (baixo) e Christopher Cantillo (bateria), que tudo passou a fazer mais sentido. Ou seja, a sonoridade que os sujeitos fazem, um pop soul setentista com pitadas eletrônicas e … meio brasileiras, encontrou mais forma, força e conteúdo com uma cozinha “humana”, rítmica e bem talentosa. Se você quer um paralelo para entender o que estamos dizendo, talvez o Saint Etienne da virada dos anos 1990/2000 ou os momentos mais recentes do Stereolab sejam boas comparações, mas é possível afirmar que o Dina tem uma personalidade mais forte, honrando a herança sueca de levar adiante o crossover melódico, estético e cultural que bandas daquele país trazem até sem querer ou sem pensar. Sendo assim, ainda que os vocais cativantes e as ótimas melodias das canções surjam em primeiro plano, essa tradição sueca está lá e já estaria mesmo que o grupo não adotasse uma característica ainda mais, digamos, ortodoxa: cantar no idioma local. Se você espera letras espertas em inglês, esqueça. Tudo aqui está dito na língua pátria de Bjorn Borg e seres nórdicos similares. Portanto, prepare-se para uma experiência interessante, que é ouvir o novo trabalho do quarteto, o ótimo “Orion”.

 

Para entender este álbum com mais precisão, é necessário perceber que o Dina não é uma banda nostálgica, ainda que suas influências estejam há quatro, cinco décadas no passado. Tem muito de folk music californiana em algum lugar pelas nove faixas de “Orion”, mas não dá pra dizer, por exemplo, que grooves e levadas de gente como CSN&Y ou Joni Mitchell sejam especificamente citadas. Ou a lindeza sunshine do Fleetwood Mac de quando se mudou para o Golden State em meados dos anos 1970. Também tem muito de música brasileira daquele tempo, especialmente dos mineiros e do Quarteto em Cy, que é uma influência a ser considerada neste pacote estético. E também tem um pouco do que se chama de “pop baleárico”, que faz referência às cenas musicais das ilhas espanholas de Maiorca e Menorca, especialmente de Ibiza, as chamadas Ilhas Baleares. Tudo por lá é revisitação desses parâmetros sonoros setentistas e oitentistas, com reprocessos eletrônicos atuais, uma boa combinação.

 

Algumas canções chamam a atenção. A faixa-título tem um andamento que brinca de esconde-esconde com o reggae mais pop, mostrando uma linha de baixo borbulhante e um clima solar que logo nos afasta todos os signos visuais que temos da Suécia e suas baixíssimas temperaturas. O trabalho instrumental é lindo, mas os vocais de Anna Ahnlund, seja o principal, quanto os backings, variam da economia elegante à exuberância total em questão de segundos. “Milton” é totalmente devedora do que dissemos do pop californiano mais acima, e também tem muito de brasilidade no arranjo vocal, que sempre alterna os momentos solos com duplicações e triplicações que funcionam muito bem. A melodia é linda e o canto em sueco tem um charme exótico a mais.

 

“Dët Lacker” já tem guitarras na ponta do arranjo, mas a levada de bateria e a linha de baixo confundem o ouvinte e não deixam que a canção seja facilmente rotulada, ficando em algum lugar entre o pop elegante do Saint Etienne e referências sessentistas que vêm de todos os cantos do espectro sonoro. E temos o momento em que o Dina Ögon, com os vocais de Anna à frente, paga um tributo discreto a Carole King, na belíssima “Jag Vill Ha Allt”, que tem pianos à frente e um refrão irresistível, altamente melódico e feito para ser cantado por plateias de vários tamanhos com o mesmo entusiasmo.

 

“Orion” é exemplo de uma música altamente moderna, esclarecida, tanto cerebral quanto emocional, que, uma vez decodificada e entendida, oferece prazer intenso para o ouvinte. Uma vez convertido/a ao som do Dina Ögon (“seu olhar” em sueco), será difícil aceitar algo diferente por um bom tempo. Conheça.

 

Ouça primeiro: “Jag Vill Ha Allt”, “Orion”, “Milton”, “Dët Lacker”

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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