Banda Zil – Ao Vivo

Gênero: Jazz, MPB
Faixas: 14
Duração: 89 min
Produção: Banda Zil
Gravadora: MP,B/Som Livre

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Talvez você não saiba, jovem, mas houve um surto de bandas e artistas de jazz fusion no Brasil da segunda metade dos anos 1980. Eram músicos que já batalhavam em circuitos alternativos e que, por outro lado, eram figurinhas carimbadas em produções nos estúdios das gravadoras multinacionais da época. Gente como Arthur Maia, que integrava o Cama de Gato. Gente como Leo Gandelman e Victor Biglione, músicos prestigiados, que conseguiram lançar seus discos entre 1986 e 1987. O grupo Highlife…E a ótima Banda Zil, que trazia, entre outros, dois cantores do Boca Livre: Claudio Nucci e Zé Renato. Além deles, compondo um septeto, estavam Ricardo Silveira, Marcos Ariel, Zé Nogueira, Jurim Moreira e João Baptista. Juntos lançaram um disco em 1987, o qual eu tinha em LP e que gostava muito. Depois, como vieram, foram, entrando para o hall dos projetos paralelos aposentados. Até agora.

 

A banda voltou à atividade em 2016 e vem fazendo shows pelo país. “Ao Vivo” é o resultado desse retorno, mostrando que a Zil continua excelente e sua sonoridade, apesar de uma hibernação de mais de 30 anos, permanece relevante e despertando interesse. O repertório do primeiro disco está presente em sua totalidade, com destaque para as ótimas “Benefício” e “Maromba”, que ganharam muito nestes novos registros ao vivo. Além delas, merece destaque a melhor composição da banda, “Suíte Gaucha”, que é um exemplo de jazz pop raríssimo, com espaço para todos os improvisos e solos, mas com uma estrutura melódica extremamente amigavel e convidativa. Ela também soa mais forte e dinâmica neste novo registro.

 

Merecem destaque duas versões: “Anima”, da qual Zé Renato é coautor, ao lado de Milton Nascimento e que foi gravada pelo cantor mineiro em 1982, como faixa-título do álbum que lançou neste ano e a maravilhosa reinterpretação de “Portal da Cor”, outra canção gravada por Milton, mas em 1985, no ótimo disco “Encontros e Despedidas”, talvez um de seus trabalhos mais voltados para o jazz fusion. A recriação de “Anima” não difere muito do registro original, mas o que a Zil faz em “Portal da Cor” mostra a capacidade musical de seus integrantes. Dos pouco mais de três minutos do original, a canção quase chega à marca dos doze minutos, mostrando criatividade e inovação em cada momento. Além destas duas versões, há uma bela reinterpretação de “Blackbird”, dos Beatles, em que o espírito acústico do original é preservado belamente.

 

“Musicalmente, sentia muita falta daquela sonoridade da Zil e essa também é uma maneira da gente homenagear o Paulinho Albuquerque, já que ele foi um dos idealizadores da banda e nos ajudou a compor o repertório”, completa Zé Renato. Paulinho Albuquerque, morto em 2006, foi ainda co-produtor o disco de 1987, ao lado de Zé Nogueira e João Batista.

 

Este “Ao Vivo” é uma bela maneira de trazer a banda de volta, apresentá-la para um público novo e reafirmar sua importância como representante de uma variante sonora do que foi feito nos anos 1970 pelos mineiros do Clube da Esquina e seus seguidores, que são tão diversos como o próprio Boca Livre e astros como Pat Metheny. Discaço.

 

Ouça primeiro: “Suíte Gaucha”

 

 

Foto: Victor Carvalho

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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