Alanis Morissette – Such Pretty Forks In The Road

 

 

Gênero: Rock alternativo

Duração: 46 min.
Faixas: 11
Produção: Alex Hope e Catherine Marks
Gravadora: Epiphany

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

 

Alanis Morissette deve ter passado o ano novo pensando: “2020 vai ser o 25º aniversário do meu principal disco. E vai ser o ano em que ele se transformará em musical na Broadway. Além disso, vou lançar o meu primeiro álbum desde 2012, logo vou fazer uma turnê mundial enorme para celebrar tudo isso e reecontrar meus fãs”. Como já sabemos, pouco disso se realizou até agora, mas “Jagged Little Pill”, de 1995, seu trabalho mais importante, de fato, é musical de teatro nos Estados Unidos e com sucesso registrado no mundo pré-Covid. E, bem, cá estamos com “Such Pretty Forks In The Road”, este sétimo disco da carreira da cantora e compositora canadense. Dado o fato de que Alanis não tem prima por variar em sua área de atuação como artista, não espanta que este seja mais um álbum tipicamente três estrelas. Vejamos.

 

“Such Pretty Forks…” tem onze faixas, todas muito parecidas entre si. Claro que há momentos interessantes, mas a maioria acachapante é de canções arranjadas em midtempo, aqueles roquinhos alternativos que poderiam ser gravados e lançados em 1998, sem qualquer problema. A seu favor pesa esta fidelidade estética, sua musica é isso mesmo, os fãs e a crítica já sabem. Por isso não é o caso de reclamar, é o que podemos esperar dela. Os tais oito anos de hiato se deram por conta de problemas pessoais, separações, diagnóstico de depressão pós-parto, entre outras coisas da vida. Aliás, se há algo legal na obra de Alanis é a total ausência de vontade de esconder estes fatos. Ela se vale da sinceridade para cativar seu público, mesmo para se comunicar com ele. Logo se estabelece uma relação de honestidade e transparência, o que é bem legal de ver. Neste ponto, o novo disco é totalmente bacana.

 

Notando diferenças discretas em relação passado, dá pra dizer que temos mais pianos e cordas por aqui do que em, por exemplo, “Havoc And Brighter Lights”, o álbum anterior. É a Alanis mais contemplativa, mais calma, mais mãe e isso pesa para uma artista como ela. E, dentro desta nova lógica de arranjos e ritmos, surgem algumas baladas. “Diagnosis”, por exemplo, sobre a questão da depressão pós-parto, é executada em voz, piano e cello, num efeito dramático e apropriado. Seria bonita num episódio de Grey’s Anatomy sobre o assunto, vá lá. A interpretação é sofrida, redentora, verdadeira e na medida. Funciona. Aliás, os singles lançados pré-álbum são todos interessantes.

 

Além de “Diagnosis”, “Ablaze” é típica canção alanística, com guitarras dedilhadas, sombra alternativa noventista e boa letra. A voz segura bem os tons mais graves e agudos, mostrando boa forma. A gente fica, no entanto, esperando que a canção deslanche, mas não acontece. O verso “my mission is to keep the light in your eyes ablaze”, no entanto, é bonito e conduz o refrão com elegância. “Reasons I Drink” também é legal, com letra falando sobre como disfarçar a tristeza com o mundo, tudo por outro arranjo pianístico, mas em midtempo. “Smiling” é totalmente Alanis na virada do milênio, naquela fase mais espiritualizada do álbum “Suposed Former Infatuation Junkie”, enquanto “Reckoning” mergulha na escuridão de uma jornada que poderia estar num álbum de Tori Amos.

 

Alanis está mais madura, isso é perceptível facilmente. Boa parte de suas fãs de 1995 acompanhou este tempo e pode estar vivenciando experiências semelhantes em suas vidas. Se isso aconteceu, a conexão é inevitável. Resta saber se a canadense tem poder de fogo para cativar novas audiências neste 2020 tão confuso. Vejamos. É um bom disco.

 

Ouça primeiro: “Ablaze”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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