Top 15 (+1) questionável dos anos 80 – parte 1

 

 

A gente tenta evitar, procura sair pela tangente, mas as listinhas são uma bela maneira de revisitar o passado – nem tão distante. Veja, por exemplo, os anos 1980. O tempo da grande exposição da indústria do entretenimento, usada como uma ferramenta poderosíssima de divulgação do modo de vida capitalista ocidental ou, simplesmente, uma época em que o mundo, por conta do dinheiro investido neste ramo, viu o florescimento de uma até então insuperável geração de bandas e artistas em condições de criar arte com certa liberdade de atuação e possibilidade de lucro inédita. Tudo passa, seja qual for o viés que você escolher, pela condição perfeita para que os anos 1980 fossem a década mais importante da indústria musical até hoje. Foi o seu ápice, o domínio total e, nesse ambiente, muita coisa boa foi feita. Nada de “década perdida”, pelo menos, não aqui.

 

Se os 80’s são isso tudo, imagina como é complicado fazer uma listinha de 13 canções daquela década? E ainda tem mais: a gente, na área de História, ainda acha por bem dividir o tempo de uma maneira, digamos, peculiar. Há umas duas ou três décadas de 1980 no meio destes dez anos. Fatos vão acontecendo e mudando tudo. Vejamos: os primeiros dois anos da década não podem ser comparados com o período entre 1982 e 1985. Dois marcos acontecem: o lançamento de “Thriller”, o mais popular disco daquele tempo, em 1982 e o Live Aid, em 1985. Sendo assim, temos uma década entre 1980 e 1982. outra entre 1982 e 1985 e uma terceira, entre 1985 e 1990. Nessa lista não seremos tão ortodoxos assim, tentaremos ver apenas a primeira parte, entre 1980 e 1985, já prometendo uma segunda listinha, que vai cobrir o restante da década. E o critério será simples: canções pop perfeitas, procurando unir o gosto pessoal com a majestade absoluta que estas criações atingiram – e ainda atingem – em seu tempo.

 

Claro, você já sabe: a discordância é sempre livre e bem-vinda. Aqui estão elas, em ordem crescente de preferência deste que vos escreve.

 

 

 

15 – David Bowie – “Blue Jean” – minha preferida de Bowie na década não é a colossal “Let’s Dance” ou qualquer outra que não seja esta maravilha dançante e perfeita de pouco mais de três minutos. Tudo funciona aqui e o clipe ainda é magistral. Faixa do maravilhoso “Tonight”, de 1984.

 

 

14 – Jules Shear – “Steady” – essa é uma favorita pessoal desde tempos remotos. Uma linha de baixo adorável, um solo de teclado perfeito e uma letra que fala de amizade e tenacidade para enfrentar os perrengues. Shear era parceiro de Cyndi Lauper e tinha a manha para grandes pop songs. Sumiu. Direto de 1985.

 

13 – Tina Turner – “Better Be Good To Me” – muita gente vai preferir “What’s Love Got To Do With It” como representante de Tina nesta lista, mas esta é minha gravação preferida de toda a sua carreira, mesmo que tenha sido um single de menor alcance dentre os pinçados do excelente álbum “Private Dancer”, de 1984. Perfeita.

 

 

12 – Huey Lewis And The News – “Hear And Soul” – um colosso pop rock do tempo em que o termo fazia sentido. A melodia é perfeita, o arranjo idem, o clima é de banda de bar que chegou no topo do sucesso e tudo, absolutamente tudo funciona por aqui. Do álbum “Sports”, de 1983.

 

 

11 – Cyndi Lauper – “All Though The Night” – parceria de Cyndi com Jules Shear, que também a gravou. Este arranjo é muito mais exuberante, chegando a ter seu riff de teclado transplantado para vinheta do programa Sentinelas da Tupi FM. Clássico do sensacional disco “She’s So Unusual”, de 1984.

 

10 – Daryl Hall and John Oates – “I Can’t Go For That” – este colosso dançante se tornou uma das canções mais influentes dos anos 1980 e isso só foi acontecer por agora. A batida gelada, o groove que vai chegando aos poucos e a performance da dupla, tudo isso é perfeito por aqui. Faixa do disco “Private Eyes”, de 1981.

 

09 – Paul Young – “Every Time You Go Away” – muitos amigos preferem o original de Hall & Oates, que são os autores desta canção, mas eu prefiro a interpretação derramada, exagerada e adorável de Paul Young. Esta é uma das baladas mais queridas dos anos 1980 e vou defendê-la sempre. Detalhe para a chegada e partida do avião no início e fim da gravação. Do disco “Secret Of Association”, de 1984.

 

08 – Rick James e Smokey Robinson – “Ebony Eyes” – falando em baladas, aqui está a herdeira máxima do formato da Motown Records, com dois de seus representantes, entre eles, o mestre absoluto, Smokey Robinson. Tudo aqui é perfeito, a química entre ele e Rick James é perfeita, o clipe tem atuações canastronas e temos um colosso da década. Do disco “Cold Blooded”, de 1983.

 

07 – Prince And The Revolution – “When Doves Cry” – quem não lembra de Prince surgindo daquela banheira branca no início do clipe desta canção? A sonoridade, o formato, a banda, o anão púpura de Mineápolis e a lascívia que se descortinava diante de nós? O resto é história. Da clássica trilha de “Purple Rain”, até hoje o melhor disco de Prince, de 1984.

 

06 – Phillip Bailey e Phil Collins – “Easy Lover” – talvez uma das canções pop mais perfeitas de todos os tempos. Além de melodia, arranjos e gravação perfeitos, a química entre os dois Phils é assombrosa, sempre lembrando que Collins é fã absoluto de bandas como o Earth Wind And Fire, na qual Bailey ainda canta até hoje. Do álbum “Chinese Wall”, de 1985.

 

05 – Stevie Wonder – “Love Light In Flight” – simplesmente o maior funk racha-pista que Stevie registrou nos anos 1980, uma década muito prolífica para ele, ainda que os críticos insistam em só prestar atenção em sua produção setentista. A trilha sonora de “A Dama de Vermelho”, de onde vem esta canção, é maravilhosa e merece reavaliação urgente. Direto de 1984.

 

04 – Madonna – “Into The Groove” – esta canção mostra o máximo que Madonna poderia atingir em seus primeiros anos. A comunhão da influências de Blondie com a batida dançante do Chic e outros grupos e artistas negros definiu o talhe sonoro da moça. Olhando toda sua carreira, ainda acho que este foi seu ápice em termos de canção. Presente na trilha sonora de “Procura-se Susan Desesperadamente”, de 1985.

 

03 – Michael Jackson – “Wanna Be Startin’ Somethin'” – quando a gente olha para o álbum “Thriller”, pensa que é impossível escolher uma canção sem precisar explicar. E é. Minha preferida absoluta do disco é essa, ainda que “Billie Jean”, que vem em seguida, também seja perfeita. Fico com “Wanna…” porque ela me lembra o MJ negão, dançante e enlouquecido, com background de Quincy Jones, que tem a manha de lembrar de “Soul Makossa”, de Manu Dibango, neste arranjo colossal. Como diz Ed Motta, isso aqui é “o lado fundo da piscina”.

 

02 – Prefab Sprout – “When Love Breaks Down” – de que adianta fazer lista de anos 1980 se não for pra criar polêmica? Aqui nem é tanto assim porque esta é uma das gravações já feitas. Thomas Dolby produz e o Prefab Sprout, com o gênio Paddy McAloon à frente, emplaca uma das canções mais arrepiantes sobre o fim do amor. Do álbum “Steve McQueen”, de 1985.

 

 

01 – Tears For Fears – “Everybody Wants To Rule The World” – não tem pra ninguém quando falamos de anos 1980 e de perfeição pop. Aqui tem tudo. Tem letra, tem arranjo, tem melodia, tem dois solinhos perfeitos de guitarra e a confirmação de um baita disco daquela década, o segundo do TFF, “Songs From The Big Chair”. Esta canção segue imorredoura e nós a cantamos como se não houvesse amanhã. Fim.

 

 

Hours Concours – “Ribbon In The Sky” – Stevie Wonder – toda década também tem suas criações fora da escala. Esta canção, uma das duas inéditas presentes na coletânea “Original Musiquarium vol.1”, de 1981, é, simplesmente, uma das mais irretocáveis e celestiais canções de amor feitas pela humanidade desde que saiu das cavernas. E continuará sendo quando estivermos viajando pelas estrelas e isso digo sem qualquer exagero. Ponto.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

3 thoughts on “Top 15 (+1) questionável dos anos 80 – parte 1

  • 28 de julho de 2021 em 13:50
    Permalink

    Obrigado, meu caro. Custou pra chegar nessas aí. Muita coisa boa e querida na época, mas teremos outra, de 1986-1990. Abraço.

    Resposta
    • 29 de julho de 2021 em 12:02
      Permalink

      Vou usar essa playlist em meu aniversario ( sem aglomeração ), agora em Agosto, obrigado mais uma vez.

      Resposta
  • 28 de julho de 2021 em 13:40
    Permalink

    Bah!!, até rolou uma lagrima aqui, escutei muito essas musicas no frio aqui na minha cidade no radio e em fitas, valeu!!!

    Resposta

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *