TNT e Cascavelletes – 13 + 1 vídeos!

 

 

Em suas breves existências, tanto o TNT como os Cascavelletes, duas das mais adoradas bandas do rock do Rio Grande do Sul –, ambas fundadas por Flávio Basso, que, posteriormente, se transmutaria nas jupiterianas personas psicodélicas batizadas de Maçã e Apple –, em todos os tempos, tiveram uma videografia considerável.

 

Especialmente, se levado em conta o tempo em que estiveram em atividade. Com o TNT, Flávio ficou até 1986 quando deixou a banda para montar os Cascavelletes, que durou até 1992. Nesse mesmo ano, Basso teve um breve retorno ao TNT, permanecendo no grupo durante breve período, antes de partir em sua jornada, antes folk, como Woody Apple, e, logo em seguida, como Júpiter Maçã.

 

Todas essas mudanças estéticas, passadas por Flávio Basso, são contadas em detalhes na biografia Júpiter Maçã: A Efervescente Vida & Obra (Nova Carne Livros), escrita por mim e pelo jornalista Pedro Brandt e que agora em novembro ganha relançamento acrescida de vários extras. Leia uma provinha no link:

 

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Nesta videografia de Flávio Basso, selecionei para vocês algumas das mais marcantes aparições de Basso, frente ao TNT e aos Cascavelletes. Na semana que vem é a vez de Maçã e Apple. Fiquem ligados:

 

 

TNT – Ensaio na garagem de Nei Van Soria (RBSTV/1986)

 

Numa reportagem sobre o rock gaúcho, exibida em fevereiro de 1986, produzida pela RBS TV, ao ser indagado sobre o que esperava da banda – enquanto os demais TNT’s, apesar da pouca idade, esforçavam-se para manter um ar de seriedade –, Flávio não titubeou na resposta: “Muito dinheiro, fama e uma limusine preta”. Disputando espaço com carros e eletrodomésticos na garagem da lavanderia da família de Eduardo Elsner (ainda no grupo às vésperas de Jotz reassumir as baquetas), Master, Nei e Flávio, todos com timbre de voz ainda um tanto deficiente de testosterona, tocam “Cachorro louco” para as câmeras. É um dos poucos registros em vídeo que sobreviveu ao em que Flávio aparece tocando com o TNT nessa fase da banda.

 

 

 

 

TNT – Entra Nessa (Videoclipe 1986)

 

As duas canções gravadas pelo TNT no antológico pau-de-sebo Rock Grande do Sul, e a new wave “Entra nessa” (com produção de Joe Euthanázia) e “Estou na mão”, foram direto para a programação das rádios e a agenda de shows foi ficando cada vez mais movimentada. No embalo do sucesso, o TNT teve a ideia de gravar um videoclipe de “Entra nessa”. O vídeo foi filmado na Terreira da Tribo, um espaço alternativo que se assemelhava a um galpão que abrigava montagens de teatro, happenings e outras atividades culturais, ainda em funcionamento na cidade. No clipe, dirigido pelo cineasta Alex Sernambi, os quatro TNTs aparecem com cabeça raspada tocando a versão rockabilly-new wave de “Entra nessa” extraída da coletânea para uma plateia de tresloucados roqueiros dark-punk-góticos. Numa das cenas, Flávio, afetando ar mafioso, aparece empunhando uma faca maldosamente. Embora “Entra nessa” tenha se convertido num verdadeiro hino do rock gaúcho, Basso, contudo, não ficaria nada satisfeito com o resultado das gravações feitas em Rock Grande do Sul.

 

 

 

 

TNT – Estou na mão (Retorno ao TNT/1992)

 

Quando o ano de 1992 despontou no horizonte, os estilhaços da crise gerada pelo malfadado Plano Collor e pela chegada dos CDs ao Brasil atingiram em cheio o fragilizado TNT. Com o final também dos Cascavelletes, no mesmo ano, Flávio Basso surgiu aqui cantando ao lado de Máarcio Petracco e Charles Master a primeira canção que fez no TNT, meados dos 80.

 

 

 

 

Os Cascavelletes – Ugagogobabagô (TV Guaíba/1987)

 

Antevendo possíveis problemas com a censura em relação ocorridas em relação à vetada “Menstruada”, a banda optou por “Ugagogobabagô” (“um lance bem radical, como as primeiras músicas de rock-and-roll”, definiu Frank Jorge numa reportagem da época) para ser o “single” de estreia da célebre fita casset Vortex Demo, lançadam, em 1986, pelo selo discográfico d’Os Replicantes.

 

 

 

 

Os Cascavelleztes –  Morte Por Tesão (Palcos da Vida/1987)

 

Da segunda safra de composições dos Cascavelletes, a sexy-malvada “Morte por tesão”, que também leva a assinatura de Nei Van Soria, tem uma das melhores sacadas “literárias” de Flávio e rima que é verdadeiro achado poético: “Eu queria ser um vampiro / Pra chupar o sangue da gata / Eu queria fazer vodu / Pra conquistar tu”. Frank Jorge coloca “Morte por tesão” em seu “Top 5” de melhores da banda. Para o músico, um dos pontos mais fortes dos Casca estava nos arranjos vocais extremamente aderentes e cativantes bolados por eles, como no caso de “Morte por tesão”.

 

 

 

 

Dança do Fogo (Palcos da Vida/1987)

 

A punk’a’billy “Dança do fogo” só existe nessa versão ao vivo, também oriunda do Programa Palcos da Vida, gravado no Teatro Presidente, em Porto Alegre.

 

 

 

 

Cascavelletes – Super Soul (C&A Shop Show/ TV Manchete/1/04/1989)

 

No televisivo C&A Shop Show, apresentado por Luciana Vendramini, a banda executou, numa performance ensandecida, uma de suas mais poderosas canções, “Super soul”. “Eu fui chicoteado nos campos de algodão / E fui torturado na Inquisição / Fui tão desejado pela tua mamãe / Fui crucificado / Super blues, super soul, super rock-and-roll / Minha vingança nas forças de um xamã”, brande a letra da música, o mais próximo que o grupo chegou do AC/DC.

 

 

 

 

Os Cascavelletes –  Lobo da Estepe (Videoclipe/1987)

 

Único clipe oficial dos Cascavelletes, o vídeo de “Lobo da Estepe” foi produzido e dirigido pelo cineasta e replicante Carlos Gerbase num esquema totalmente do-it-yourself [ou seja: zero de grana]. Na canção, eles fogem da matriz rock-sixtie-garageira que tanto fazia a cabeça dos “Casca”, para cavalgar – uma única vez, aliás – por paragens mais folk.

Facilmente reconhecíveis por suas harmonias vocais e hits como “Sounds of silence” e “Mrs. Robinson”, a dupla norte-americana Simon & Garfunkel serviu de modelo para “Lobo da estepe”. A música é nitidamente espelhada em “The boxer”, faixa de Bridge Over Troubled Water, um dos discos mais festejados do começo dos anos 1970.

O título da canção foi pego da obra Der Steppenwolf, do escritor alemão Hermann Hesse. Publicado em 1927, o livro narra a história do angustiado outsider Harry Haller, embora, no caso de “Lobo da Estepe” [a música], esteja mais para o roteiro de um faroeste clássico. O que explica, por sua vez, as imagens enxertadas na montagem do videoclipe, que conta com cenas de antigos bang bang como Rastros de Ódio, de John Ford, e Era uma vez no Oeste, de Sérgio Leone.

As filmagens, realizadas em 1987, das quais participam apenas Flávio Basso e Nei Van Soria, tiveram como cenário a dinamitada Pedreira do Asmuz, localizada entre os bairros Jardim Ypu e Morro Santana, na Zona Leste de Porto Alegre.

 

 

 

 

Os Cascaveletes – Eu Quis Comer Você (Programa da Angélica/1989)

 

De todas as aparições televisivas da banda, nenhuma foi tão emblemática quanto a do Clube da Criança, da TV Manchete, programa apresentado por Angélica. Para continuar a divulgação de Rock’a’Ula, a EMI lançou um maxi-single com “Eu quis comer você”, escolhida como a segunda música de trabalho do disco. E foi ela que os Casca foram “defender” no programa infantil, em fevereiro de 1990. Luciano Albo conta que, normalmente, quando a banda ia fazer playback, participavam apenas Flávio, Nei e Barea. “Eu e o Humberto íamos quando era programa ao vivo. Eu acho que, nessa ocasião, a gente deve ter ido para gravar mais de um programa, por isso aparecemos na filmagem”.

Gravada em VHS por Patty Fang, uma dedicada fã dos Cascavelletes, e disponibilizada por ela no YouTube em 2007, a visita da banda ao Clube da Criança viralizou na Internet e ultrapassou mais de 1 milhão de visualizações. Num cenário misto de floresta com ginásio de esportes, cercados por crianças e palhaços, a banda aparece fazendo playback de “Eu quis comer você”. Barea e Cokeyne mal são vistos em cena. A câmera não desgruda de Flávio e seus passos de Mick Jagger. A apresentadora Angélica, então com 16 aninhos, parece estar realmente se divertindo.

– Cascavelletes! Olha! Tudo bem?

– Tudo bom!

– São todos do Sul?

– Aham.

– Todos gaúchos. E agora música nova.

– É, “Eu quis comer você” é o nome da música.

Histórico.

 

 

 

 

Os Cascavelletes – Nega BomBom (1989)

 

“Nega Bombom” foi a primeira vez em que a prática do “onanismo” apareceu numa composição de Flávio. Referências à masturbação surgiriam em diversas letras ao longo de sua carreira (embora “Estou na mão”, dos tempos do TNT, talvez sugira algo nesse sentido). Dois exemplos mais diretos estão contidos no cultuado álbum A Sétima Efervescência: “Essência interior” (Quando você der para outro cara / Lembre-se que alguém se masturba / Alguém do outro lado da cidade / Se sente em sintonia e pensa em você”) e “Querida Superhist x Mr.Frog” (Mas quem é Mr. Frog? / Quem é ele? Onde é que ele vai? / Será que ele faz alguma terapia? / Será que ejacula dentro da pia?”).

 

 

 

 

Os Cascavelletes – Sob um Céu de Blues (Ao vivo em Canoas/ 1991)

 

Voltando de um show em Santa Catarina, o tecladista Cockeyne Blues Man e Flávio Basso conversam no ônibus: “Ele [Flávio] tinha essa coisa de encarar o rock como uma verdade, e de viver essa coisa de verdade. E eu tinha um amor pelo blues, que curtia e me identificava. Naquele tempo eu estava tocando mais pelo amor ao blues, essa coisa utópica que tinha se tornado realidade. Já não era tanto com interesses comerciais e outros interesses, enfim. Bati um papo tri louco com o Flávio, contando coisas da minha vida, tudo que eu tinha passado pra conseguir estar ali naquele momento… Falei que estava sem grana, ia chegar em Porto Alegre e teria que bater na janela do Ratão, correndo o risco de ele não me abrir…”, contou Bluesman.

No ensaio seguinte: “E nesse papo, já estava pintando o riff do que viria a ser ‘Sob um céu de blues’: meio Keith Richards, com intervalos de quarta… O Flávio apareceu com a letra pra mim: ‘Essa eu fiz em tua homenagem porque tu é o cara que vive sob um céu de blues’, e não sei o quê, e pá. Tipo: ‘eu vou bater e quebrar a tua janela’, era o papo da janela do apê do Gugu”, revela Cokeyne.

 

 

 

 

Os Cascavelleytes – Novo Estilo (1991)

 

“Novo estilo”, ao contrário do que pode sugerir o nome, de novo não tem nada. Soa como o AC/DC. Um baita rockão, ainda que um tanto genérico (a canção foi gravada posteriormente pela banda Rosa Tattooada) junto a “Rock-and-roll band” é um aceno aos Casca dos primórdios, um rock construído em cima da “diddley beat”, a inconfundível batida que se tornou marca registrada do cantor, compositor e guitarrista americano Bo Diddley (1928-2008). O pioneiro do rock-and-roll é mencionado na letra (“Menina eu te pego na pista de dança / E a gente roda ao som do Diddley”), assim como Little Richard (“Ele é negão, dizem que é bicha”) cuja música é a inspiração para “Do what you want”, também cantada em inglês pelo vocalista.

 

https://www.youtube.com/watch?v=FyfZV4c7XSY

 

 

Cachorro Louco – Six Colour Frenesi

 

No DVD Six Colours Frenesi (2014), Flávio Basso revista alguns clássico do início de sua carreira, como “Lobo da estepe” e “Cachorro louco”, que você assiste aquo, nessa energética versão, para o delírio do público presente no Bar Opinião, em Porto Alegre.

 

 

 

+ 1

 

Show Programa Palcos da Vida (TVE /RS/1987)

 

Em 12 e 13 de agosto de 1988, mês do “cachorro louco”, anunciava a insinuante divulgação do show dos Cascavelletes no extinto Cine Teatro Presidente: “A cascavel irá picar você!”. As duas datas, uma sexta-feira e um sábado, marcavam o lançamento do disco, que foi filmado e exibido para todo o Rio Grande do Sul pelo programa Palcos da Vida, da TVE/RS. De visual mezzo glitter mezzo mod, envolto em uma longa manta de seda dourada, calça alaranjada, blaser e camiseta listrada por baixo, Flávio Basso surge no palco brandindo maracas numa buliçosa dança.

No programa Palcos da Vida, entremeado por depoimentos dos quatro Cascavelletes, pela primeira vez eles mostravam ao público, ao vivo e televisionado, as mais novas canções do repertório. As ganchudas “Carro roubado” e, especialmente, “Jessica Rose” (muito executada nas estações de rádio do Estado) nasciam com cara de hit e, com o tempo, se tornariam incontestáveis clássicos do rock gaúcho. Outras, como a alucinada e garageira “Cão & cadela” (depois registrada no álbum Rock’a’Ula), com direito a ganidos caninos de Flávio, e as guitarrentas “Seja minha amiga” e “Dança do fogo” evidenciavam a evolução pela qual as letras de Flávio e Nei haviam passado naqueles dois anos de banda. No palco, território em que os Cascavelletes sempre demonstraram domínio, o progresso era incontestável.

Assista na íntegra:

 

 

Cristiano Bastos

Cristiano Bastos é jornalista. Um dos autores do livro Gauleses Irredutíveis – Causos & Atitudes do Rock Gaúcho. Escreveu Julio Reny – Histórias de Amor e Morte, Júpiter Maçã: A Efervescente Vida e Obra, Nelson Gonçalves – O Rei da Boemia e o livro de reportagens Nova Carne Para Moer. Também dirigiu o documentário Nas Paredes da Pedra Encantada, sobre o álbum Paêbirú, de Lula Côrtes e Zé Ramalho. Atualmente trabalho no projeto 100 Grandes Álbus do Rock Gaúcho, que se encontra em campanha de financiamento pela plataforma Catarse: https://www.catarse.me/100GrandesAlbunsDoRockGaucho

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