Jerry Cantrell amplia sonoridades em novo álbum

 

 

Jerry Cantrell – Brighten

Gênero: Rock alternativo

Duração: 40:46 min.
Faixas: 9
Produção: Jerry Cantrell e Tyler Bates
Gravadora: Jerry Cantrell

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

Não é que Jerry Cantrell tenha gravado um álbum … pop. Muito pelo contrário, guitarrista, vocalista e fundador do Alice In Chains jamais será uma figura ligada a este tipo de música, mas, uma ouvida com atenção às nove faixas de “Brighten”, seu terceiro disco de carreira solo e o primeiro em 20 anos, mostrará que o homem quis mostrar um trabalho, como o título já entrega, mais “iluminado”. O que temos aqui ainda é pertencente ao modelo básico de canções com o selo Cantrell/AIC de identidade: guitarras torturadas, vocais que parecem vir de uma dimensão paralela, uma certa psicodelia mamútica e metalíca e aquela impressão de, em alguns momentos, estarmos diante de uma versão alternativa e estranhamente interessante do Black Sabbath da fase Ozzy. Mas, repito: há algo presente aqui que afasta Cantrell dessa direção e o leva para … a luz.

 

Talvez seja a banda que o acompanha. Tem o ótimo baterista Abe Laboriel Jr, que pertence à banda de Paul McCartney há mais de 20 anos. Tem Duff McKagan, no baixo, que é um cara que tem origens no punk e no hard rock. Tem pianos, tem pedal steel, tem cordas, pilotadas pelo produtor Tyler Bales, enfim, o espectro sonoro de Jerry se abriu para um número inédito de possibilidades em sua obra e isso fez muito, mas muito bem para as canções que ele apresenta aqui. Tem até uma cover precisa de “Goodbye”, de Elton John e Bernie Taupin, da fase “Madman Across The Water”, lá de 1972. Tudo aqui leva Cantrell a mostrar, não só o seu trabalho mais diversificado até hoje, com e sem o Alice In Chains, mas a pleitear um espaço longe de seu métier, o grunge/pós-grunge. É mais ou menos o que o Pearl Jam conseguiu ao longo da carreira, se tornando uma banda de “classic rock”, buscando inspiração em gente como Neil Young, Ramones e The Who, buscando pertencer a uma linhagem evolutiva deste som.

 

Não sei se Jerry quis isso, mas ele é talentoso o bastante para ter tal movimento em mente e executá-lo. O resultado é um álbum sem falhas, com relevância sonora, com vários pontos altos em suas canções. Algumas canções até surpreendem pelo espaço aberto que sugerem, caso específico de “Prism Of Doubt”, que é pura canção de estrada, com ótimo arranjo, guitarras em profusão e um clima setentista de fazer gosto. Lembra algo que poderia estar presente no último disco que Scott Weiland gravou com o Stone Temple Pilots em 2009, o meu preferido da banda californiana. A surpresa e o espaço aberto continuam com a canção seguinte, “Black Hearts And Evil Done”, que tem pianos, órgãos e violões muito bem pensados e arranjados, que contrastam agradavelmente com a voz típica de Jerry. Aliás, para quem lembra dos EPs acústicos e da própria passagem do Alice In Chains pelo Unplugged MTV, sabe que Jerry domina com maestria os timbres de violões e guitarras desplugadas. “Siren Song”, um baladão elegante e belo, mostra que ele segue com as manhas necessárias.

 

 

Mas “Brighten” também tem faixas que vão agradar aos velhos fãs do homem. A abertura, com “Atone”, tem o peso necessário para aplacar as saudades e angústias dos seguidores de Cantrell. “Had To Know”, ainda que menos lúgubre, também tem as guitarras e os timbres nos lugares certos, proporcionando belas passagens e densidade satisfatória. A faixa-título se equilibra entre as origens do Alice e essa sonoridade mais ampla que Cantrell acabou buscando no álbum, se constituindo em outra boa faixa para ouvir e pegar a estrada. A trinca final de canções tem a bela “Nobody Breaks You”, – uma balada de natureza country-rock que cai muito bem por aqui – “Dismembered”, que tem uma pegada hard rock com acento folk e a cover de Elton, com Jerry cantando e acompanhado por piano, cordas e uma guitarra slide. Fecha com classe os trabalhos.

 

 

“Brighten” revela um Jerry Cantrell muito mais plural e capaz de surpresas para o ouvinte médio de rock. Ele não inova nada em seu disco, mas suas apropriações de variantes distintas da sonoridade que pratica usualmente com sua banda – que é uma senhora banda – dão um brilho especial ao álbum. Bem legal.

 

Ouça primeiro: “Prism Of Doubt”, “Black Hearts And Evil”, “Atone”, “Brighten”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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