Thievery Corporation – Symphonik

 

 

 

Gênero: Eletrônica

Duração: 48 min.
Faixas: 11
Produção: Eric Hilton e Rob Garza
Gravadora: ESL

 

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Após mais de duas décadas prestando bons serviços à música eletrônica, o Thievery Corporation segue ativo e relevante. Rob Garza e Eric Hilton, os cérebros pensantes e inspirados que comandam a coisa toda, nunca perderam de vista a boa música orquestrada e acústica quando misturavam em seu caldeirão de influências o bom reggae, a boa Bossa Nova, o bom pop. Agora, depois de tanto tempo, os sujeitos resolveram levar seu coquetel de música eletrônica tão peculiar para passear nos palcos e parâmetros da música “sinfônica”. “Symphonik” é isso, um resumo de boas faixas da carreira do TC interpretadas com músicos “de verdade”, fazendo com instrumentos de orquestra as partes que antes eram processadas em teclados, sintetizadores e demais engenhocas. Ao lado deles, toda a estrutura da música pop habitual: baixo, bateria, teclado, guitarra, metais e a firme ideia de dar novas nuances.

 

Quem fornece o apoio sinfônico é a FILMharmonic Orchestra, de Praga, que já colaborou com Arcade Fire no passado. São músicos com formação clássica mas com a sensibilidade suficiente para entender e valorizar a música pop, sendo assim, o resultado é bem legal e não soa fora de lugar. Também estão presentes cantores e colaboradores do Thievery Corporation ao longo dos tempos, a saber, Shana Haligan, Lou Lou, Elin Melgarejo, Puma, Natalia Clavier, Frank Orrall e Mr. Lif, o que faz de “Symphonik” uma retrospectiva com ares novos, se é que isso é possível. Não há sobreposição do instrumental sinfônico sobre a estrutura original das canções, o que confere frescor e evita exageros. O disco é todo no ponto.

 

Há momentos especialmente legais. “Weapons Of Distraction”, canção do disco de 2017, “The Temple Of I & I”, banhado nas águas jamaicanas, ressurge com os vocais de Puma e os instrumentos clássicos fornecendo uma cama de efeitos mais sólidos, paradoxalmente destacando o arcabouço original de baixo/bateria, num efeito belíssimo. “Heaven’s Gonna Burn Your Eyes”, presente em “The Richest Man In Babylon”, de 2002, ganha vocais arrepiantes de Natalia Clavier (o original trazia a islandesa Emiliana Torrini) e abre o álbum com um clima que poderia ter algo de Portishead, mas é ensolarado e redentor ao extremo, exatamente o contrário da claustrofobia do trio de Bristol. O efeito é hipnótico. “Love Has No Heart”, com Shana Haligan, revisita o original de 2017, mantendo o registro sofrido e belo.

 

O novo filtro sinfônico faz bem até às canções mais conhecidas do Thievery Corporation, caso do sucesso “Lebanese Blonde”, original de 1998, que ressurge com mais nitidez e profundidade, na voz de Elin Melgarejo. “Sweet Tides”, canção de 2008, do ótimo “Radio Retaliation”, ganha voz de Lou Lou, e amplia a sensação de sonho acordado do registro original. “Marching The Hate Machines”, cuja gravação de 2005 tinha colaboração com os Flaming Lips, aparece aqui em versão mais enxuta, com voz de Frank Orrall, mas mantém os elementos psicodélicos implícitos, oferecendo uma nova possibilidade de apreciação.

 

“Symphonik” é um exercício de estilo, uma trilha sonora de James Bond nunca lançada. É belo e tem novidades até para os fãs mais cascudos do trabalho da dupla. É acessível e tem sua razão de existir plenamente justificada. Vale a conferida, especialmente por órfãos da boa música eletrônica revisitada como downtempo, chillout e outros termos.

 

Ouça primeiro: “Heaven’s Gonna Burn Your Eyes”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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