The Delines – The Imperial

Gênero: Country Rock, Soul
Duração: 41 min.
Faixas: 10
Produção: John Askew
Gravadora: Decor

Se você tiver que escolher apenas um disco para ouvir neste início de anos, escolha, sem pestanejar, este soberbo “The Imperial”, dos americanos do The Delines.

Há um bom tempo que meu coração não perde o ritmo ouvindo um disco. Deve ser a idade, o ceticismo crescente diante da vida, de tudo e todos. Mas, ao me deparar com este segundo álbum do The Delines, confesso que senti o velho músculo acelerar várias vezes. E diminuir também. Ainda bem que não estava num ECG. Pois bem, isso aqui é ouro, pessoal. Direto de Portland, com vocês, The Delines.

É um quinteto que faz música como se nada tivesse acontecido nas paradas de sucesso desde, vejamos, 1972. A química – e a mágica – por aqui está na relação entre a cantora Amy Boone, uma espécie de herdeira perdida da Dusty Springfield versão “Dusty In Memphis” e o escritor Willy Vlautin, que, além de publicar romances de sucesso, é o responsável pelas letras e ideias das canções. Além deles, outros sujeitos cascudos, entre eles, Tucker Jackson, do Minor 5, fornecem as molduras sonoras. E, pelo amor de Deus, estas pessoas insistem em órgão Farfisa, metais, pianos, bateria discreta, tudo aveludado, lindo, decadente, derramado, mas, – importante dizer – bem longe da pieguice esperada. As coisas oscilam mais para o que os gringos chamam de “brooding”, um baixo astral, uma tristeza, uma desilusão permanente. Deve ser ruim para viver com pessoas assim, mas funciona em disco que é uma beleza.

Não dá pra destacar uma só canção em “The Imperial”. É tudo muito belo, bem feito, soando como um Lambchop com coração e vocais femininos, talvez com o pé mais fundo na porção R&B clássica da receita sonora. Arrisque-se, pegue as letras na Internet, deixe o ambiente à meia-luz e delicie-se vendo as luzes da cidade pela janela e pensando no que poderia ter feito de diferente na vida. Me conta depois.

Carlos Eduardo Lima

Ouça primeiro: “Cheer Up, Charley”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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