Deerhunter – Why Hasn’t Everything Already Disappeared?

Gênero: Rock Alternativo
Duração: 36 min.
Faixas: 10
Produção: Bradford Cox, Cate LeBon, Ben H. Allen III, Ben Etter
Gravadora: 4AD

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

Quer um disco sensacional com referências atuais, sintonia com os assuntos do mundo e feito para você amá-lo? Aqui tem tudo o que você precisa: um rock tipicamente 2019 (com interferências eletrônicas, bom senso melódico, boas canções), um tema conceitual que amarra o todo (o fim da nossa sociedade diante dos nossos olhos) e uma produção (coletiva) que ressalta estes e outros predicados do álbum. Tudo aqui funciona perfeitamente.

Deerhunter vem de Atlanta, no estado americano da Georgia, e já tem 16 anos de uma carreira com sete álbuns. Este novo trabalho tem influências de ficção científica e banca a ideia de ser “um disco de ficção científica sobre o presente”, abordando o derretimento diário dos conceitos sociais, sejam simbolizados pelo escárnio de uma eleição de Trump nos USA ou Bolsonaro do Brasil ou mesmo da competitividade neoliberal que enfia terminologias estrangeiras inócuas no cotidiano ou pelo simples desapreço pelos mais pobres, pelos velhos ou pelo entorpecimento do desejo de diminuir a crescente e insuportável desigualdade entre as pessoas. Tudo isso está presente, seja na absoluta má vontade de seguir fórmulas sistêmicas para ‘dar certo’, seja, pelo brilho das canções. Há também uma pitada filosófica existencialista e um apreço por pensadores como Jean Baudrillard. Está tudo aqui.

Ao contrário do que parece, a música passa longe do cabecismo. Você não vai precisar de pós-graduação para entender a mensagem e vai se apaixonar por canções como a preciosa “What Happens To People”, com um trabalho de teclados/sintetizadores primoroso, pela pungente “Death In Midsummer”, pela declamada (e caótica) “Detournement”, pela bela “Futurism” e pela curtinha, dançante e funkeada “Plains”.

Como diz o vocalista e cérebro pensante da banda, Bradford Cox, na letra de “Futurism”: “Your cage is what you make it”, ou seja, “sua gaiola é o que você faz”. Mais atual, impossível. Uma porrada.

Carlos Eduardo Lima

Ouça primeiro: “What Happens To People”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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