Of Monsters And Men – Fever Dream
Gênero: Rock alternativo
Faixas: 11
Duração: 40 min
Produção: Rich Costey
Gravadora: Republic Records
Você já foi em Keflavik, Islândia? Nem eu. De lá vem o Of Monsters and Men, uma coletividade de músicos, que fez sucesso em 2013 com seu primeiro álbum, “My Head is an Animal”. Dois anos depois, solidificaram sua posição com “Beneath the Skin”. Em ambos os discos, ao menos um traço de correspondência: um folk meio torto, porém intenso, que fez com que várias pessoas ao redor do mundo se encantassem pela musicalidade dos sujeitos, logo inseridos na lógica de exotismo dos artistas islandeses, Björk e Sigur Rós à frente. Pois bem, com este terceiro álbum, “Fever Dream”, qualquer traço de esquisitice foi, no mínimo, inibido em favor de um pop cristalino, ainda que relativamente alternativo. Ou seja, o OMAM deu uma afrouxada no processo de composição e “se rendeu ao sistemão” com este bom “Fever Dream”.
Bem, isso é o que pensariam os chatos. Até parece que fazer música pop é algo simples e que atesta um encolhimento artístico. Nunca foi e nunca será. Além disso, o grupo capricha em conservar algumas características que perpassam para as novas faixas. A primeira delas é ótimo gosto nos arranjos; nunca uma canção soa repetitiva ou chata. Sempre há um detalhe a apreciar, algo a perceber em repetidas audições. É o tipo de “pop” que faz, por exemplo, um grupo como Florence + The Machine. Em ambos os casos, há a excelência vocal de uma cantora, aqui, de Nanna Bryndís Hilmarsdóttir, que se mostra uma cantora de voz quente e versátil.
Outra pista da mudança está na presença do produtor Rich Costey, que, mesmo já tendo trabalhado com o grupo, também pilotou estúdios para gente como Muse, sendo um bom nome para fazer essa transição de espaços dentro da mesma caixinha “pop”. Isso significa abraçar com educação e simpatia muitos traços do que as pessoas entendem por “synthpop”, especialmente nas programações de bateria e nos timbres de teclados. Porém, como disse acima, o Of Monsters and Men não “faz concessões” em vão. Maneja com amor e carinho esses recursos e se sai com um trabalho bem legal.
Há várias canções legais ao longo do disco. Isso não é novidade, o grupo sempre teve algo nível de composições bacanas. Só que a mudança pro terreno do pop as – como diriam os coaches – potencializou. Em alguns momentos o grupo chega a soar muito atraente, caso de “Wars”, que não faria feio em paradas mais arejadas dos anos 1980. “Ahay”, por sua vez, a segunda faixa do álbum, tem um viés baladeiro e fofinho, que poderia cativar fãs menos exigens de … Taylor Swift. Aliás, as baladas são um atrativo extra do disco. “Stuck in Gravity” e “Sleepwalker” têm ótimos arranjos e melodia na medida certa para grudar no ouvido e ter vontade de decorar a letra, nada mais genuinamente pop, portanto. Mas é canções com refrãos explosivos, daqueles em que a pessoa parece estar diante de uma redenção no Grand Canyon, que OMAM se revela. Ouça, por exemplo, “Wild Roses” e a ótima faixa de abertura, “Alligator”, que parece algo feito pelos Eurythmics. Aliás, tive a impressão de que o grito de sua clássica “Sexcrime”, de 1984, foi sampleado.
Diverso, colorido e pronto para cativar uma nova horda de admiradores. Assim é esse “Fever Dream”. Ouça e curta, afinal de contas, pra isso que essa coisa de fazer música existe.
Ouça primeiro: “Alligator”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.